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Julio Gomes

Champions tem fases de grupos cada vez mais previsíveis

Julio Gomes

31/08/2018 08h35

OK, OK, temos um grupo que arregala os olhos de todo mundo! Barcelona, Tottenham, Internazionale e PSV Eindhoven.

Uau! Talvez, apenas TALVEZ, se a Inter realmente acertar uns bons jogos, esse grupo saia do trivial, que seriam as classificações de Barcelona e Tottenham. Sim, certamente iremos assistir atentamente aos duelos entre esses três. E fingir que o PSV pode ameaçar alguém, afinal, já foi time de Romário e Ronaldo um dia…

(suspiro)

A Champions não é mais a mesma. Pelo menos na fase de grupos. Na era das superpotências, a competição ficou extremamente previsível antes do mata-mata. A classe média da Europa está tão achatada quanto nossa classe média da vida real no Brasil.

Ela olha para cima, para os ricaços, achando que um dia pode ser um deles (ou voltar a ser). Mal percebe que, na realidade, está muito mais perto do grupo gigantesco de pobres, sem chance alguma na vida.

Benfica, Ajax, PSV… eles já ganharam a Europa um dia. Hoje, não ameaçam mais do que Hoffenheim, Brugge ou Viktoria Pilsen.

O grupo citado, com Barcelona, Tottenham, Inter e PSV, é o grupo B. Como já disse, surpreendente será se a Inter conseguir tirar Barça ou Tottenham – que é fortíssimo e no ano passado jogou o Real Madrid para o segundo lugar de seu grupo.

O grupo C é o outro que está sendo chamado de "da morte", pois tem PSG, Liverpool, Napoli e o Estrela Vermelha, campeão de 1991 e que recebe os jogos no caldeirão de Belgrado, chamado por eles de "Marakana".

Mas esse grupo é da morte só para o Napoli, mesmo.

No grupo A, difícil não imaginar que Atlético de Madrid e Borussia Dortmund deixem Monaco e Brugge para trás.

O D é o mais equilibrado, sem favoritos entre Lokomotiv Moscou, Porto, Schalke 04 e Galatasaray. Quaisquer dois podem passar – para dificilmente avançarem após as oitavas. É imprevisível porque não tem nenhum grande time, ou seja, tão imprevisível quanto desinteressante.

No grupo E, o Bayern passa com folgas, Benfica e Ajax fazem o outrora clássico pela "glória" de chegar às oitavas. Olharemos com carinho para os duelos clássicos entre Bayern e Benfica, Bayern e Ajax, relembraremos dias maravilhosos dos anos 60 e 70, apenas para tomarmos um choque de realidade com o placar final desses jogos.

No grupo F, o Manchester City passa com folgas e deixa para Lyon, Shakhtar e Hoffenheim a briga pelo segundo lugar. No grupo G, o Real Madrid não terá problemas contra Roma ou CSKA Moscou. Esses dois, City e Real, possivelmente estarão mesclando titulares e reservas nas rodadas finais, lá para novembro e dezembro.

E o grupo H é parecido com os grupos B e C. Tem cara de grupo da morte… do Valencia. Juventus e Manchester United estão léguas à frente em termos de time, orçamento, etc, e qualquer coisa que não seja a classificação dos dois será surpreendente.

A fase de grupos terá vários jogões. Juventus x Manchester United, PSG x Liverpool, Barcelona x Tottenham, Atlético x Dortmund… mas em regra essas partidas mais decidirão primeiro lugar dos grupos, o que nem é tão visto na Europa como a coisa mais relevante do mundo. A competitividade é baixa nesta fase do torneio. Sobram clássicos entre favoritos, mas que são jogos sem transcendência.

A que isso se deve? Fácil apontar o dedo para a Uefa e a decisão de colocar mais campeões nacionais (de países de futebol muito abaixo) na fase de grupos. Mas o buraco é mais profundo do que isso. Mesmo se estivessem aqui camisas mais conhecidas que foram ficando pelo caminho (Spartak Moscou, Fenerbahce, Celtic) ou que entrassem mais times médios dos grandes centros… que diferença faria? Nenhuma.

Fair play financeiro, teto de gastos e salários, grupos maiores… sei lá. Alguma solução a Uefa vai precisar dar. Ou os clubes. Competição esportiva precisa de organização, qualidade, tudo isso. Mas também de um pouco de imprevisibilidade.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.