Calendário insano é chave do equilíbrio e impede "espanholização"
Outro dia escrevi sobre um desafio para o futebol europeu: encontrar mais equilíbrio e imprevisibilidade nas ligas domésticas. Na era dos supertimes, os campeonatos estão chatos. O desnível é gigante.
No Brasil, já há muito tempo, é o oposto. Apesar do desequilíbrio orçamentário gerado pelas cotas de TV, não há supertimes, não há clube dominante, o nível técnico é baixo, a previsibilidade é nenhuma. E isso é legal. Não saber quem vai ganhar é pré-requisito para qualquer competição esportiva ser interessante.
Não é absurdo, mas é estranho vermos São Paulo e Internacional tão fortes na briga pelo título brasileiro. Um quase caiu no ano passado. O outro jogou a Série B pela primeira vez em sua história. Como assim estão lá em cima?
Oras, alguns clubes privilegiados do Brasil continuam recebendo suas altas cotas de TV mesmo quando caem. É o caso do Inter. O São Paulo é dos que mais dinheiro recebem. A "sorte" de ambos em 2018 foi serem eliminados precocemente da Copa do Brasil. Resultado: calendário tranquilo e aberto no segundo semestre.
O mesmo que aconteceu com o Corinthians no ano passado. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
Enquanto isso, no outro lado da moeda estão os clubes de elenco mais recheado, considerados os favoritos a tudo antes de começar o ano: Palmeiras, Flamengo e Cruzeiro. Estes três, junto com o Grêmio e o Corinthians, estão envolvidos em tudo.
Palmeiras, Cruzeiro, Corinthians e Grêmio estão abertamente escalando reservas no Brasileiro. O Grêmio se mantém na disputa pelas duas boas vitórias conseguidas pelo time reserva – que no ano passado só apanhou.
A exceção é o Flamengo, que está poupando alguns aqui e ali, mas não está indo com time reserva em campeonato algum. O tempo dirá se esta é a melhor estratégia.
Mas o fato é que os insanos meses julho/agosto pós-Copa estão quebrando a turma dos grandes elencos e abrindo o caminho para São Paulo e Inter, que não apareciam na lista de favoritos de ninguém três meses atrás.
Podemos olhar isso o que está acontecendo por vários ângulos. O suposto melhor elenco do Brasil, o do Palmeiras, só tem um jogador de Copa do Mundo (Borja, que mal chegou a entrar em campo na Rússia). O outro suposto elencaço, o do Flamengo, tem um sistema defensivo zero confiável. Então precisamos, nós, jornalistas, termos um pouco mais de cautela antes de decretar essa coisa de "melhor time". Não é porque contrata muito que contrata bem.
Outro ângulo. Se esses clubes formam elencos mais recheados, não é justamente para poder disputar tantas competições? Por que não conseguem?
Mas o grande ângulo é mesmo o do calendário. A coisa é tão insana no Brasil que a competência é punida. Quem consegue estar vivo em várias competições se dá tão mal que tudo se nivela – até com times que vêm da Série B. Especialmente em um país tão grande, com longos deslocamentos e tanta variação climática. O fato é que a parada da Copa não foi uma boa oportunidade para técnicos arrumarem seus times – ela foi a única oportunidade.
Em um campeonato tão fraco tecnicamente e sem qualquer inovação tática, os problemas geram a solução. O calendário bizarro é o maior gerador de equilíbrio. A temida "espanholização", devido ao abismo financeiro entre, por exemplo, Flamengo e Corinthians e clubes do Nordeste, nunca vai acontecer. Porque não se dá margem para quem tem mais dinheiro dominar.
O Brasil, como já dito, não é mesmo para principiantes.
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