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Julio Gomes

Se Roger é tão ruim, por que só descobriram agora?

Julio Gomes

26/07/2018 01h04

A pergunta é muito simples.

Se Roger Machado é mau treinador, por que o Palmeiras não lhe demitiu assim que começou a pausa da Copa do Mundo, mais ou menos como fez o Atlético-PR com Fernando Diniz?

Ou então por que não veio a demissão ao final da pausa da Copa? "Olha, analisamos bem o trabalho dele nesta intertemporada, os treinamentos foram ruins por isso, isso e aquilo, a análise de desempenho não está sendo aproveitada, não há sintonia com o conceito de futebol do clube, etc, etc, etc, e resolvemos apostar em outro profissional".

Eu mesmo respondo. Roger não foi demitido antes, assim como Jair Ventura não foi demitido antes, porque as pessoas que tomam conta dos clubes não entendem muito mais do futebol profissional do que o torcedor médio sentado no sofá ou na arquibancada. Não têm a menor capacidade de análise sobre o trabalho do técnico ou de outros profissionais.

Então o que sobra é isso aí. A análise em função do resultado. Se o cara mete o gol e o time ganha, beleza. Se perde, um abraço.

Pouco importa se Roger é bom ou ruim, forte nisso, fraco naquilo, esforçado ou não, o que os jogadores acham dele.

Pensem em uma baita corporação multinacional e seus métodos de avaliação de profissionais. Agora pense em aplicar esses métodos dentro de um clube de futebol. Quem avalia quem? Baseado no quê?

"Ah, mas o time não está jogando nada".

É assim que pensa o torcedor. OK, o torcedor tem o direito de pensar e falar o que quiser. Outra coisa é "profissional" de futebol agir da mesma maneira.

Este não é um post de defesa de Roger ou qualquer técnico. É uma defesa dos clubes. Que precisam encontrar um jeito de serem profissionalizados de uma vez por todas. E também de defesa do futebol brasileiro, que precisa sair desse círculo vicioso absurdo e capacitar todas as esferas, todos os níveis de profissionais, de cima abaixo.

Um dia veremos os tais dirigentes "profissionais" terem pelo menos a dignidade de se demitirem junto. Olha, o técnico é fraco. Mas a culpa de tê-lo escolhido é minha, então mereço a demissão mais até do que ele, pego o meu chapéu e vou embora.

Sonho meu.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.