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Julio Gomes

Diário da Copa: Neymar e as matrioskas

Julio Gomes

14/07/2018 11h19

Na feirinha de Izmailovo, famosa em Moscou por ser o lugar ideal para comprar bugigangas típicas russas ou do período soviético, as matrioskas dominam o cenário.

São aquelas bonequinhas russas fofinhas. Você abre uma, aparece outra. E depois outra e outra e outra… tem algumas com três peças, com cinco, até com quinze! Algumas mais bonitas, outras nem tanto. A sacada deles é que fazem matrioskas de gente famosa.

Então tem matrioska do Lenin, do Putin, do John Lennon, do Obama, do Michael Jackson e por aí vai. Claro, tem também dos jogadores mais conhecidos. Cristiano Ronaldo, Messi, Neymar, a turminha de sempre.

Nesta reta final de Copa, a feira é dominada por turistas em busca das lembrancinhas finais para a família toda. Muitos brasileiros e muitos latinos. Os vendedores, espertos como só eles, já sabem todos os números e palavras-chave em espanhol e português.

"É bom que vocês conversam com a gente, eu gosto de negociar!", me fala Vladimir. "Os europeus parece que têm medo de nós, russos, nem chegam perto". Vladimir me fala longas frases em russo, como se eu entendesse alguma coisa só porque lhe dei bom dia no idioma local e aprendi uma palavra ou outra.

Nossa negociação acontece em russo, espanhol, inglês e português. Uma loucura! Mas dá certo. Compro minhas matrioskas, consigo um bom desconto, ele me chama de "chorão", eu digo que aprendi com a minha mulher e ele cai na risada.

Enquanto embala minhas bonequinhas, ele deixa cair uma matrioska de Neymar, que estava no caminho. Foi um strike, Neymar caiu e levou umas dez bonequinhas com ele. Vladimir começa a fazer um som, como se a matrioska de Neymar estivesse se contorcendo de dor. Todos em volta caem na risada.

É com essa imagem que Neymar sai da Copa. Virou piada internacional. Ao abrir as matrioskas de Neymar, os outros bonequinhos Neymarzinhos são iguais – lógico – e cada vez menores. O grande desafio dele é mudar. Senão não será maior do que é hoje nunca.

Já o desafio de Vladimir e do resto dos colegas das outras barracas é arrumar matrioskas de Mbappé e Modric. Não encontrei nenhuma em Izmailovo. Nem de Pogba ou Griezmann, nenhum francês, nenhum croata. Precisam atualizar e variar o estoque. O futebol mudou.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.