Diário da Copa: A bandeira e o balé
E lá vamos nós ao Museu das Forças Armadas, em Moscou. Não estava nos meus planos e nem no mapa turístico. Mas era um convite do meu irmão.
E, se estou aqui, é também por ele. Meu grande inspirador e influenciador, o cara que eu esperava chegar de madrugada de volta do jornal onde ele trabalhava só para poder pegar a tabela do campeonato sei lá de onde que vinha na revista Placar – ele comprava todas.
O cara que me fez gostar de esportes e de jornalismo. A voz "do contra" que faz a nossa família não ser o trágico uníssono que marca as famílias brasileiras. Que me fez e faz pensar.
Pensar. Como nos custa pensar! O museu das Forças Armadas é, de alguma maneira, uma enorme homenagem ao "não-pensar". Eu sempre achei os músculos inimigos do cérebro.
A história russa é forjada em guerras, invasões e defesa, como de tantas nações por aí. O museu é fantástico. Apesar de estar todo em russo, é muito visual e apresenta uma incrível coleção de armas, uniformes, documentos, mapas, relíquias, artefatos militares. Tem até um "jardim da guerra", com aviões, helicópteros, mísseis e tanques.
Fico me perguntando como o ser humano foi capaz de criar tantas coisas destrutivas. Por que fomos incapazes de viver em paz, não em guerra, durante toda a história da civilização?
No centro do museu, a bandeira. A tal bandeira soviética fincada no Reichstag alemão em 1945, quando eles chegaram a Berlim e derrubaram o nazismo.
É um troféu para os russos. Para todos nós, possivelmente. Troféus decorrentes de barbáries.
Não vejo problema em celebrar vitórias, mesmo que em um passado sangrento. Desde que, claro, se aprenda com ele.
Com a Croácia na final da Copa e aquele quente Sérvia x Suíça dos albaneses, nos lembramos que até outro dia havia uma carnificina na Europa. O que dizer da Síria? Ou da violência urbana nas grandes cidades, até mesmo do mundo desenvolvido? Será que estamos aprendendo?
Enquanto escrevo esse texto, estou em um banco em frente ao Teatro Bolshoi, outro orgulho dos russos. Casais se beijam, turistas tiram fotos, estudantes riem, as fontes dão o efeito sonoro.
Entre as bombas e balas e o balé, eu sei bem de que lado prefiro estar.
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