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Julio Gomes

Diário da Copa: Salame de cavalo em Kazan

Julio Gomes

05/07/2018 12h49

Estou em fase de reeducação alimentar. Só como quando tenho fome. Mastigo devagar. Me concentro na comida. Saciado, paro. Mas em Copa do Mundo…

Nessas coberturas, é difícil parar para comer direito. Muita correria, deslocamentos, muitos textos e vídeos para mandar, uma loucura. E aí acabamos comendo mal.

Mas naquele dia de Sol, em Kazan, eu queria me aventurar. Já havia passado por um restaurante ucraniano, um geórgio e um russo, mas não um tártaro. Kazan, a cidade dos tártaros, uma das últimas que o império dos tsares tomou. A cidade onde o Brasil joga amanhã contra a Bélgica.

Nunca fui um fã de carne crua. Na verdade, sempre fui bem chato com comida, cresci nos últimos anos e fui aprendendo quanta coisa boa deixei para trás. Foi só recentemente que provei o bife tártaro. Acho que o nome mais comum é steak tartare? Posso estar errado.

Como estava em Kazan, terra dos tártaros, resolvi pedir o steak tartare. Já fiquei desconfiado, pois o prato aparecia no meio das entradas, com algumas saladas para lá de conhecidas, sem muito destaque.

Lá veio ele. Igualzinho ao que eu já conhecia. Carne crua, tempero, alcaparras, cebola, ovo. Uma delícia. Mas… será que isso é mesmo coisa de tártaro?

O simpático Yulian, o garçom, deu risada. "Não, é só o nome mesmo! Não é um prato daqui". Oras bolas. Me lembrei de quando fui a Bolonha e o spaghetti não tinha carne moída. Não sei por que é spaghetti à bolonhesa se em Bolonha é diferente.

"Yulian, então me traga algo daqui, por favor!". Dez minutos depois, lá vem ele, com todas as iguarias tártaras e russas. Uma espécie de carpaccio de ganso. Vagens ardidinhas. Uma torta tártara, com frango e batata, que me lembrou uma empadona. Umas tortinhas que me lembraram as quesadillas mexicanas. Um caldo de frango quente demais para o calor que estava. E….. adivinhem. Carne de cavalo!

Pobre cavalo. Se bem que nunca pensamos na pobre vaquinha na hora do churrasco. Estava mais para um salame de cavalo, fatiadinho, bem seco. Vamos que vamos.

Não era ruim. Saboroso, até. Um pouco duro, talvez. Difícil de mastigar. Foi bem com um pãozinho. Pensei no cavalinho. Não muito na vaquinha. Empurro o prato para o lado. Vem cá, steak tartare…

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.