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Julio Gomes

Brasil e Bélgica são seleções equivalentes, não há favorito

Julio Gomes

03/07/2018 14h12

Os programas de TV aí do Brasil já devem estar fazendo até de trás para frente as comparações entre as seleções brasileira e belga.

Courtois ou Alisson? Lukaku ou Gabriel Jesus? Neymar ou Hazard? Esse ou aquele roupeiro? Quem é melhor?

Não entrarei nessa. Eu sei que o povo gosta. Mas eu também tenho meus gostos. E prefiro tentar cada vez mais olhar para o futebol de forma coletiva.

Até porque os três "embates" que eu citei acima são, talvez, os únicos possíveis. O que faremos na hora em que chegarmos no Paulinho x De Bruyne? Ou Marcelo contra Carrasco? (ou Verthogen? depende do sistema…)

Oras bolas, quem não votar em De Bruyne está maluco. Só que o De Bruyne belga joga de forma diferente do De Bruyne do Manchester City. Atua em uma posição mais recuada, é responsável pela saída de bola. Já Paulinho pode até não ser visto como o mais talentoso da história, mas é um jogador que aporta gols, chegada, força física.

São características completamente diferentes, cada uma a serviço de um time, de uma ideia, de um jeito de jogar.

São dois times recheados de jogadores dos melhores clubes europeus.

Se fizermos um nome a nome, talvez a gente fique num 6 a 5 para alguém. Se olharmos para o lado coletivo, encontraremos duas seleções agressivas, que tentam praticar o futebol vertical, alternando fases de jogo em que quer a bola e que não faz questão da posse.

A Bélgica é mais ofensiva. Se propõe a colocar em campo "a turma toda", jogadores técnicos, de ataque. Aliás, é o time que mais fez gols na Copa. O Brasil é mais defensivo, um time mais preocupado em fechar espaços e não tomar gols – levou só um, que podia até ter sido anulado, e cedeu pouquíssimas chances.

Por qualquer ângulo que se olhe, Brasil e Bélgica fazem um duelo parelho, equilibrado e de altíssimo nível. É nisso que quero chegar.

Não é nenhum absurdo o Brasil perder da Bélgica, uma seleção que nunca foi uma das grandes vencedoras do futebol mundial. Em 2002, quando o Brasil tinha Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo, talvez uma eventual derrota nas oitavas de final pudesse ser (e seria) vista como "vergonha". Hoje, se uma eventual eliminação ocorrer, é uma vergonha falar em vergonha.

O Brasil pode ganhar da Bélgica. O Brasil pode perder da Bélgica. Peguem esses mesmos times, tirem as camisetas amarela e vermelha e coloquem, por exemplo, a do Flamengo e a do Fluminense, para usar o clássico mais famoso de nosso país. Ou então uma Manchester United e Chelsea. Estaríamos falando, com esses mesmos jogadores, que seria um absurdo um ganhar, o outro perder?

Acostumem-se com essa ideia. O Brasil segue sendo o principal celeiro de bons jogadores do mundo. Mas um país pequenininho, com um ótimo e consistente trabalho de base, já consegue se equiparar em termos de qualidade.

Nós não somos os melhores faz tempo. Somos bons, ótimos, e sempre estaremos no grupo de melhores. Mas esse grupo cresceu bastante, e nele hoje está a Bélgica.

São seleções fortes e equivalentes. Eu sei que dói para muita gente ouvir isso.

Meu conselho para quem gosta do esporte, e não vive só na ditadura do ganhar e perder é: aproveitem. Vai ser um jogão. Nenhum resultado é zebra. Nenhum resultado é vergonha.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.