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Julio Gomes

Sem Dani Alves, Tite deveria transformar Marcelo em protagonista

Julio Gomes

12/05/2018 04h00

A lesão que tira Daniel Alves da Copa do Mundo pode ser um sinal. Está na hora de Marcelo ser protagonista da seleção brasileira.

Marcelo e Firmino foram os dois melhores jogadores brasileiros na temporada 2017/2018, que se encerrará na Europa justamente com a final entre eles, Real Madrid x Liverpool na Champions League. Firmino não é nem titular da seleção, disputa posição com Gabriel Jesus.

Marcelo só não era titular na cabeça de Dunga. Com Tite, voltou a ganhar a posição. No Real Madrid, Marcelo pegou o bastão das mãos de Roberto Carlos para não soltar mais. São duas décadas com um brasileiro tomando conta da lateral esquerda do clube mais importante do mundo.

Como é característica dos laterais brasileiros, criados para atacar, não para defender, Marcelo sofreu muito e ainda sofre nesta fase do jogo. Em muitos momentos, foi preterido no Real, com Mourinho ou Ancelotti, justamente por isso. Mas, com Zidane, tomou conta de vez e passou a ser peça fundamental do fluxo de jogo do Real Madrid.

Assim como Daniel Alves sempre foi muito mais do que um lateral nos anos dourados do Barcelona. Daniel era mais um atacante pela direita, um jogador crucial para o fluxo de jogo do time e a saída para o ataque. Dani e Xavi. Marcelo e Kroos. Parcerias históricas.

Daniel Alves manteve a característica em sua vida pós-Barça, mas perdeu fôlego e, neste ano na França, tesão e competitividade. Mas estava claro, pelo menos para mim, que veríamos outro cara na Copa do Mundo. A seleção motiva esses jogadores, ao contrário do que muita gente pensa. Eles querem MUITO ganhar pelo Brasil.

Com Daniel Alves de um lado e Marcelo do outro, o treinador tem muitas opções de saída de bola, mas muitos problemas de cobertura. Nenhum dos dois é bom defensor.

Sem Daniel Alves, Tite ganha a luz verde para fazer o mesmo que Zidane. Focar o jogo ofensivo do Brasil, a transição, em Marcelo.

Pode jogar com três zagueiros, com Marquinhos pela direita, ou pode jogar com um lateral mais defensivo, tipo Fágner. Pode até, em determinado momento do jogo, abrir pela direita um meia.

Pode também fazer uma convocação diferente, com cinco zagueiros ou com algum jogador que se sinta bem aberto pela direita, mas que não seja lateral de ofício. Pode levar ou Fágner ou Danilo, não necessariamente os dois. Tudo isso é coisa para o treinador pensar, e pensar rápido. Não descarto que ele comece a preparação com uns 24 ou 25 e deixe para cortar alguns perto da Copa.

Mas o mais importante é a oportunidade para montar um time que machuque o adversário essencialmente com Marcelo e Neymar, da esquerda para dentro. Sem dó, sem preocupações, com foco nos dois melhores jogadores do país.

Claro que um time campeão do mundo não terá só uma opção de ataque ou saída de bola. Estou falando do foco, da característica predominante, da marca registrada, do protagonismo a quem merece.

Sempre dá para olhar o copo meio cheio.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.