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Julio Gomes

Iniesta deixa o Barcelona como maior jogador da história da Espanha

Julio Gomes

27/04/2018 10h12

Andrés Iniesta é um mito. Um gênio da bola. Mas é mais do que isso.

E talvez esse "plus a mais", como diria o outro, é que faça a despedida dele do Barcelona após 16 temporadas, anunciada nesta sexta-feira, tão revelante e emocionante.

Iniesta não é o melhor jogador de todos os tempos do Barcelona. Lá estiveram Messi, Cruyff, Romário, Xavi, só para citar alguns. Sem dúvida ele está no top 10 da história do clube, afinal, fez parte da era mais vitoriosa da história do Barça.

No domingo, com um empate em La Coruña, o Barça deverá garantir por antecipação mais um título da Liga espanhola. Será o nono de Iniesta. O nono em 14 anos, desde que começou a fazer mesmo parte do time. É um absurdo. Bote aí na conta também seis Copas do Rei, quatro Liga dos Campeões da Europa, três Mundias de Clubes, três Supercopas da Uefa, sete da Espanha. É um escândalo.

Mas o que faz de Iniesta o maior jogador espanhol de todos os tempos, como eu cravo no título deste post?

Oras, entre outras coisas, os feitos com a seleção espanhola, é óbvio. Duas Eurocopas e uma Copa do Mundo, com direito ao gol do título naquela prorrogação de Johanesburgo. Um gol de título de Copa do Mundo é coisa para poucos.

Mas vamos além disso. Afinal, a seleção espanhola campeã de tudo é formada por outros jogadores de igual importância. Xavi, Sérgio Ramos, Casillas, Piqué, etc.

Depois de fazer aquele gol em Johanesburgo, Andrés Iniesta sacou a camisa em êxtase e, por baixo da "roja", mostrou uma camiseta em que homenageava Dani Jarque – morto um ano antes, aos 26, após um ataque do coração, Jarque era capitão do Espanyol, rival local do Barcelona.

Gente. Vamos ser sinceros. Ninguém mais lembrava de Dani Jarque. Não é que passaram o mês da Copa inteiro falando dele. Aquela foi uma homenagem inesperada. Maravilhosa. Humana. Sincera.

É o paralelo a Cafu se lembrando do Jardim Irene. Só os verdadeiros humildes conseguem voltar tantas casinhas no tempo justo no momento em que estão vivendo seu ápice.

Iniesta, o autor do gol do título espanhol, passou a ser aplaudido por todos os campos da Espanha. Sempre, em qualquer jogo do Barcelona. E isso é assim há quase oito anos. Só porque ele fez o gol? Só por causa da homenagem a Jarque?

Não, não só. Pela atitude em campo, por ter sido sempre um exemplo de cavalheirismo e fair play em campo, por nunca ter dado pernada nem cotovelada em ninguém, por jogar muita, mas muita, mas muita, mas muita bola – o jeito de jogar que o espanhol venera e ama. E, claro, por não ter sido um divisor em anos de divisão e tensão.

Iniesta sempre foi uma voz apaziguadora ou silenciosa no auge da rivalidade Barça-Madrid e também neste momento de independentismo catalão à flor da pele. Ele não é catalão. Ao contrário do que muitos pensam, Iniesta é de Castilla La Mancha, uma região bem "espanhola", e foi cedo para as bases do Barça. Mas nunca insuflou e nem menosprezou o separatismo catalão – ao contrário de Xavi, Piqué ou Sergio Ramos, por exemplo.

Não vou debater quem jogou mais. Acredito que Xavi tenha sido um jogador mais completo taticamente, uma influência mais importante em campo para o Barcelona e para a Espanha. Mas Iniesta foi mais genial, mais decisivo. Eles estão ali, pau a pau.

Como disse hoje Julio Maldini, o melhor jornalista de futebol da Espanha, escolher entre Xavi e Iniesta é como escolher entre papai e mamãe. Ou seja, não dá para escolher. Mas, olhando de fora, eu percebo que a admiração por Iniesta é nacional e unânime. Xavi, pela questão extra-futebol, não é uma unanimidade.

Junte tudo isso ao gol na final da Copa, aos títulos, à classe, etc, e temos o maior jogador da história da Espanha. Eu gosto de usar "maior", em vez de "melhor", porque gosto de abranger mais do que as quatro linhas para elencar jogadores em seu lugar na eternidade da bola.

E olho. Porque o homem se aposentou do Barça, mas não do futebol. E algo me diz que essa Espanha, com a tabela que tem, o time que tem, a confiança adquirida por essa geração e com Iniesta em campo… vai dar o que falar na Copa da Rússia.

Hasta pronto, Andrés. Y muchas gracias.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.