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Julio Gomes

É possível ver um lado positivo na lesão de Neymar

Julio Gomes

26/02/2018 04h00

A lesão de Neymar foi de dar medo. Tornozelo virado, choro, drama. Mas, conforme o domingo foi avançando, as notícias ficaram mais tranquilizadoras. Neymar não fraturou o tornozelo. Tem uma entorse forte, é dúvida para o jogo da semana que vem, contra o Real Madrid, mas não parece ser dúvida para a Copa do Mundo.

Falta saber, é verdade, se houve alguma lesão de ligamentos. Mais exames serão realizados nas próximas horas e ficamos na torcida para que o diagnóstico seja mesmo apenas de entorse, como parece.

Para o PSG, dane-se a Copa do Mundo – o clube só quer saber da Champions. Mas, creio, para a maioria dos meus leitores aqui, o Mundial é o que mais importa.

 

Nunca é bom ver um jogador machucado, sofrendo, sendo impedido de fazer o que mais gosta. Mas pode haver um lado bom, se for uma lesão que o deixe fora dos gramados por apenas duas, três semanas.

Com Neymar de fora, aumentariam as chances de eliminação do PSG pelo Real Madrid. E, assim como aconteceu no 7 a 1, Neymar ficaria eximido da responsabilidade pelo eventual fracasso. Afinal, não estava lá. Haveria, ainda, margem para a eterna especulação. "E se ele estivesse naquele jogo?".

De quebra, com algumas semanas parado e o PSG fora da Champions, Neymar chegaria muito mais descansado e inteiro para a Copa do Mundo da Rússia.

Todos sabemos que a combinação Champions-Copa não costuma dar certo. Ir até a final europeia significa, em regra, chegar "arrebentado" ao Mundial – além de acarretar a perda do período inicial de treinamentos.

Por outro lado, já vimos jogadores perderem largas partes de uma temporada por lesão, se recuperarem e chegarem voando na Copa – o caso clássico é o de Ronaldo em 2002.

Alguém dirá. "Julio, o cenário ideal não é o Neymar arrebentar e o PSG passar pelo Real Madrid?". Ou então "o cenário ideal não é brilhar na Champions e depois na Copa?".

Estou aqui apenas tentando encontrar um lado positivo para a triste imagem do domingo. E claro que o conceito de "ideal" depende muito do ângulo escolhido. A minha é a perspectiva de Neymar dar o hexa ao Brasil, não a perspectiva do torcedor parisiense. Brilhar na Champions e na Copa é algo que quase nenhum jogador consegue, pelo que já falei. O Mundial é disputado ao final de uma temporada extenuante.

Brilhar contra o Real Madrid elevaria o moral de Neymar, sem dúvida. Mas, além de a temporada se alargar na quantidade de jogos, nada impede que o PSG possa ser eliminado já nas quartas de final – e, depois de ter sido o jogador mais caro da história, Neymar sempre será responsabilizado, será a cara do eventual fracasso do projeto multimilionário da parceria PSG-Catar.

Se for uma lesão leve, sem grandes consequências, mas que o deixe fora por mais de 10 dias, ela pode tirá-lo da fogueira. Exatamente como aconteceu no 7 a 1.

Sempre é possível ver o copo meio cheio. E ainda tem quem me chame de pessimista.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.