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Julio Gomes

Os ricaços que me desculpem, mas o Napoli é a grande história da Europa

Julio Gomes

11/02/2018 04h00

PSG, City. City, PSG. Neymar, Guardiola. Guardiola, Neymar. Dólares. Euros. Libras. Qualidade.

Napoli. Pizza. Maradona. Paixão. Loucura. Qualidade.

Nomes próprios trazem "sinônimos" diversos, ainda que alguns sejam comuns a eles.

Se estamos falando há meses dos que parecem ser dois dos melhores times da Europa, o PSG e o Manchester City, é porque o dinheiro fez com que isso fosse possível. O PSG foi comprado pelo Qatar. Isso mesmo, o país. O Qatar comprou o time de Paris. O City foi comprado pelos Emirados Árabes Unidos. Dinheiro de famílias reais. Que patrocinam algumas coisas não tão louváveis assim pelo mundo.

Não vou ser poliana. Muito dinheiro jogado em futebol é geralmente fruto de picaretagem e exploração. E isso não acontece só nesses dois clubes. Acontece em vários lugares.

Mas, por serem clubes de uma história pouco (ou quase nada) vencedora antes desses aportes, fica uma percepção de artificialidade. Muita qualidade. Muita bola. Muita gente top do futebol mundial. Não temos por que não admirar. O difícil é amar.

Paixão está em Nápoles.

O Napoli estava quebrado em 2004. Quebrado. Falido. Foi resgatado pelo produtor de cinema Aurelio De Laurentiis, o atual presidente. Que vá lá, não é flor que se cheire, tem sobre ele acusações de lavagem de dinheiro, etc. Mas caramba, estamos falando do clube que representa todo o Sul (pobre) da Itália. O Napoli não podia simplesmente deixar de existir.

Depois de passar pela terceira e segunda divisões, o Napoli voltou. Nesta década, nos últimos sete campeonatos, ficou sempre entre os cinco primeiros. Passou a ser figura constante na Champions League. Ganhou duas Coppas Itália. Só falta realmente o título da Série A. E a hora é agora.

Após 24 rodadas, o Napoli soma 63 pontos. São 20 vitórias, 3 empates e apenas a derrota em casa, justamente para a Juventus. A toda-poderosa hexacampeã italiana tem 62 pontos. Já são sete rodadas seguidas com os dois times ganhando seus jogos. Mas a desse fim de semana de Carnaval, a 24ª rodada, foi especial.

Especial porque a Juventus ganhou na sexta-feira em Florença, um estádio difícil, um jogo sofrido, em que a Fiorentina teve inúmeras chances de sair na frente do placar. Especial porque o Napoli, pressionado, jogou contra a terceira colocada, a Lazio, e saiu perdendo logo de cara. Parecia ser o fim. A rodada que, a priori, poderia ser de tropeço juventino e vitória napolitana, ia se transformando na rodada de pesadelo para o Napoli.

Mas quem joga bola, joga bola. E o Napoli, com o futebol leve e envolvente promovido pelo surpreendente técnico Maurizio Sarri, virou para 4 a 1 para cima da Lazio. Voltou à liderança e mandou o recadinho para a Juventus. "Siamo qui". Estamos aqui.

Mesmo a quilômetros de distância, separado por um oceano, foi possível sentir pela TV o clima do estádio San Paolo. É comoção pura.

Se é verdade que o confronto do segundo turno entre eles será em Turim e o Napoli ainda enfrentará Milan e Inter fora, a Juventus está envolvida com Champions League, Coppa Itália e jogará fora contra Lazio, Roma e Inter. Tem muita água para rolar.

Mas o fato é que o Napoli é a grande história a ser seguida nesta temporada.

Com todo respeito aos investimentos de PSG e City, que realmente têm tudo para desafiar o domínio europeu recentemente estabelecido por Real Madrid, Barcelona e Bayern, a história do Napoli é a mais linda, é a mais raiz.

Eu cresci tendo na Juventus o meu "time da Europa". Torcia muito, de verdade. Era fanático. Em uma era pré-Internet, ia atrás de informações de todos os modos, aprendi a falar italiano, queria morar em Turim (que erro!). Meu pai, só de farra, resolveu "virar" torcedor do Napoli. Nos primeiros anos, ele se deu bem. Eram os anos de Maradona e dos únicos dois títulos italianos da história do Napoli. Depois disso, logicamente, a Juve continuou sendo o que sempre foi: uma máquina de títulos.

Eu perdi o entusiasmo quando comecei a trabalhar com esporte e acompanhar o futebol com outros olhos. Tenho uma linda camisa 8 que me foi presenteada por Emerson, em 2006. Sigo gostando da Juve, mas não como antes.

Hoje, me flagro torcendo contra a Juventus e a favor do Napoli. Se forem campeões, comprarei uma camisa azul para meu pai. Promessa feita.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.