A Premier dá mais uma lição: jogadores que não desistem nunca
Liverpool e Tottenham fizeram um jogo daqueles de dar gosto. Os clássicos da Premier League costumam ser fantásticos. Os do Liverpool então, nem se fala – afinal, é um time de DNA ofensivo e com defensores que cometem muitas falhas infantis.
O Liverpool, único capaz de ganhar do todo-poderoso Manchester City na Premier, vencia o Tottenham por 1 a 0 em casa. Foi melhor no primeiro tempo, podia ter feito mais. Na sequência, o time londrino dominou totalmente o segundo tempo, mas esbarrava na defesa de Liverpool.
Até que tudo aconteceu nos 15 minutos finais. O empate saiu dos pés de Wanyama, com um petardo inacreditável de fora da área. Um dos gols do ano.
Em vez da satisfação com o empate, o Tottenham mostrou sede. Foi para cima e conseguiu um pênalti. Em um lance difícil, em que Kane estava em posição de impedimento, mas a falha de Lovren, que ataca a bola e fura, tocando de leve nela, habilita o atacante. Kane, em uma rara tarde infeliz, chuta no meio do gol e desperdiça o que seria a virada.
Tudo indicava que o jogo acabaria empatado. Mas aí o egípcio Salah, que certamente é um dos cinco melhores jogadores da temporada, fez o inimaginável. Recebeu uma bola pela direita, cruzou e ela tocou no braço de Delle Ali. Pênalti não marcado. Salah é tão rápido, tão rápido, que deu tempo de reclamar, desistir de reclamar, insistir na jogada, driblar três e meter o 2 a 1. Outro gol do ano.
Impossível não pensar em tantos jogadores que ficariam lá reclamando de pênalti e correriam babando para cima do árbitro. Vemos isso com frequência no Brasil. O jogador que desiste da jogada para reclamar ou cavar alguma falta.
Acabou, certo?
Nada disso. Ainda deu tempo de o Tottenham jogar uma bola na área e Van Dijk, o zagueiro mais caro do mundo, chutar Lamela na área. Teve a intenção? Não vejo intenção de fazer falta no lance. Mas o fato é que Lamela se antecipa na jogada, ganha o espaço e é acertado. Pênalti.
Só que o juiz não viu! Passaram alguns segundos até que o assistente chamou o árbitro para falar do pênalti. Aos 49 do segundo tempo, em um clássico, fora de casa.
Quantos bandeiras no mundo têm a capacidade técnica e, o principal, a coragem, a tranquilidade para marcar um lance desses? Saber que não será agredido, não irá para a geladeira, etc, etc…
E lá se foi Kane para a segunda chance e seu gol número 100. Depois de perder a chance da virada, não perdeu a do empate. 2 a 2.
A Premier League dá lições para todo mundo, principalmente aqui para nós, todos os dias. Mas, à parte toda a organização magnífica extra-campo, o que mais têm encantado são as lições dentro das quatro linhas.
Jogadores que não simulam, respeitam as decisões de arbitragem, que escolhem jogar bola. E não desistem nunca.
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