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Julio Gomes

Estreia do Atlético-PR tem DNA de Diniz, mas time precisa de rodagem

Julio Gomes

31/01/2018 04h00

O Atlético-PR, comandado por Fernando Diniz, estreou nesta terça-feira na Copa do Brasil e, de fato, na temporada 2018 – o Estadual é disputado por time B, com outro treinador. O resultado não foi bonito, mas foi suficiente. 0 a 0 em Caxias do Sul, o que garantiu vaga para a segunda fase.

Deu para ver que a ideia de jogo de Fernando Diniz apareceu em alguns momentos. Mas ainda é muito cedo e, logicamente, jogar futebol desse jeito demanda treinos e tempo. Faltou brilho, faltaram chances de gol, faltou qualidade individual, mas valeu ao Atlético pela organização defensiva e a classificação em uma eliminatória-armadilha. Nenhum time de Série A tinha um duelo tão complicado de cara.

Aqui faço um parênteses. O regulamento da Copa do Brasil é bizarro, inaceitável. Como assim em um mata-mata que é só mata (jogo único) um time entra em campo com a vantagem do empate? Um time com dois resultados e o outro com um? Só no Brasil mesmo. Só da cabeça dos nossos dirigentes pode sair algo assim.

Eu adoro eliminatórias de jogos únicos. Podia ser inteira assim, a Copa do Brasil. Mas, se empatar, pênaltis, oras bolas. E sorteio de mando de campo para saber quem joga em casa. Enfim.

A bizarrice do regulamento, no entanto, vai gerar jogos interessantes na primeira fase, já que ao time da casa só serve vencer. Foi o caso em Caxias. O time gaúcho foi agressivo, pressionou, esteve rondando o gol e ficou perto de eliminar o Atlético – o que seria um baque monstruoso para o técnico estreante.

Com as semanas que teve de treino, Fernando Diniz já conseguiu colocar seu dedo no estilo de jogo do Atlético-PR. O DNA está ali. Foi um time que evitou o chutão, tentou o tempo inteiro tocar, trabalhar e manter a posse da bola – em alguns momentos, no fim do jogo, errou passes perigosos e até correu riscos com as saídas de bola trabalhadas de pé em pé.

Foram 53% de posse de bola para o Atlético-PR, o que não é tanta vantagem assim. O Caxias finalizou mais (18 a 10) e explorou muito os lados, principalmente no primeiro tempo. Pela direita, o time gaúcho explorou muito um flanco que tinha Thiago Heleno (lento) e Carletto (mal na estreia).

O Caxias tentou ganhar o jogo na bola aérea, mas o Atlético soube se defender bem – aliás, a defesa foi o setor que recebeu os elogios do técnico.

O Furacão, convenhamos, deu um certo azar na chave. A estreia na Copa do Brasil foi contra um bom time do Caxias, bem treinado, que venceu as quatro partidas no Gauchão, lidera e já tem ritmo de jogo. Isso ficou claro especialmente no terço final da partida, quando os gaúchos tinham mais perna.

O goleiro Santos, da base do Atlético, fez defesas importantes na partida. E o goleiro Glédson, do Caxias, fez sua parte quando o Furacão teve contra ataques no segundo tempo.

Ribamar, o centroavante do Atlético, apanhou da bola o jogo inteiro. A coisa até poderia ter sido resolvida sem tanto sufoco, se houvesse mais eficiência.

É compreensível que o Furacão jogue o Paranaense para segundo plano. Mas o projeto de Diniz depende de prática. Por que não treinar o time em alguns jogos do próprio Estadual? Não é muito arriscado jogar esporadicamente e logo em partidas de mata-mata (ou, no caso das duas primeiras fases da Copa do Brasil, só mata)?

Não é necessário jogar um Atletiba, por exemplo, que poderia gerar um desgaste precoce e desnecessário. Mas por que não fazer alguns "treinos" em jogos oficiais na Arena contra times piores do Estado? É importante que braços de ferro entre dirigentes não prejudiquem a parte esportiva.

Ainda tem muito chão para Fernando Diniz e para o seu projeto no Atlético-PR. E ele precisa de rodagem.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.