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Julio Gomes

Rueda faz um papelão e queima o filme dos estrangeiros

Julio Gomes

08/01/2018 19h37

Veio Osorio, foi-se Osorio. Veio Bauza, foi-se Bauza. Veio Rueda, foi-se Rueda. Entre eles, é verdade, "fomos" com Aguirre, Gareca, Portugal, Fossatti, etc.

Está difícil para um técnico estrangeiro engrenar no Brasil. É verdade que as condições de trabalho aqui estão longe de serem as ideais. Calendário horroroso, que não dá fôlego para ninguém sério trabalhar, e dirigentes amadores, o que faz com que os técnicos saibam que já estão a ponto de serem demitidos assim que foram contratados.

Ainda assim, não dá para colocar na conta do São Paulo ou do Flamengo o fato de Osorio, Bauza e Rueda saírem para seleções nacionais. Osorio ainda saiu para uma Copa. Bauza, para a seleção de seu país, simplesmente a Argentina. Mas Rueda…

Deixar o Flamengo para ir para um Chile, que nem na Copa vai jogar? Esportivamente, inexplicável.

Mas o que incomoda mesmo foi a forma.

As notícias de Rueda no Chile estão pipocando já há algumas semanas. Da parte do treinador colombiano, sempre foi dito que "não havia nada". Os dirigentes do Flamengo dizem que, para eles, Rueda sempre disse que não havia nada e que se reapresentaria nesta segunda normalmente.

Rueda chegou, mentiu ao dizer, ainda no aeroporto, que não havia nada com os chilenos, acertou a rescisão e tchau.

Se é verdade que o Flamengo não sabia de nada, é uma das grandes sacanagens dos últimos tempos. Uma falta de profissionalismo daquelas.

Não há problema nenhum em Rueda deixar o Flamengo por uma oferta. É do jogo, cada um sabe da própria vida. Tem problemas de saúde na família e queria ficar perto? Justíssimo.

O problema é deixar o Flamengo cego por tanto tempo e justo em um momento tão delicado, no início de temporada, com o mercado pegando fogo.

Isso tudo, repito, se for verdade a versão flamenguista de que Rueda deixou o clube no escuro o tempo todo. E, como do lado dele, nunca veio informação alguma, não há razão para duvidar do clube. Se Rueda negar tudo isso e disser que sempre deixou o Flamengo informado, repensaremos muitas coisas.

Mas a impressão, de fora, é que o Flamengo só não se desesperou em momento algum porque sempre teve Paulo César Carpegiani na manga. Que, de fato, foi deixado no escuro.

O torcedor tem todo o direito de ficar p da vida com o colombiano. Torcedor que, claro, teve uma parcela grande lá na contratação de Rueda. Nas redes sociais, a pressão foi tão grande que basicamente não houve outra opção para a diretoria que não fosse ir atrás do técnico campeão da América. Ainda foram atrás de Renato Gaúcho, hoje sabemos, mas o técnico do Grêmio recusou.

Rueda nunca se mostrou com a faca nos dentes trabalhando no Flamengo. Fez um trabalho tão bom (ou tão ruim) quanto Zé Ricardo. Bateu na trave em duas finais, mas perdeu ambas. Fez um Brasileirão que não emocionou ninguém.

Não foi tão criticado justamente porque chegou sob clamor popular e porque havia juntado muitos créditos após as bonitas atitudes quando do acidente trágico da Chapecoense, quando ele era técnico do Atlético Nacional.

Havia muita esperança de que seu trabalho aparecesse agora. Não vai aparecer.

E o futebol brasileiro, tão carente de intercâmbio e ideias novas, vê os técnicos estrangeiros chegarem para saírem. Os que tanto defendemos a chegada deles ficamos com cara de tacho. Que papelão, señor Rueda.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.