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Julio Gomes

Diego Costa, o "malvado favorito", está de volta e revoluciona o Atlético

Julio Gomes

06/01/2018 11h54

A primeira metade da temporada do Atlético de Madri foi, talvez, a pior desde a chegada de Diego Simeone, em dezembro de 2011. Mais do que a eliminação na primeira fase da Liga dos Campeões da Europa (o grupo não era moleza, tinha Chelsea e Roma), o que chamaram a atenção foram as atuações ruins e apáticas no Espanhol.

Depois de duas temporadas melhorando seu jogo, deixando para trás o DNA de time defensivo e raçudo e passando a gostar de jogar com a bola, com jogadores de meio e de frente de mais toque e qualidade, o Atlético parece que retrocedeu.

Cansou, talvez? O time talvez tenha se esgotado psicologicamente após tantos anos de exigência máxima. Afinal, para concorrer com Barcelona, Real Madrid e os outros gigantes da Europa na Champions, o Atlético sempre teve de jogar cada partida, cada minuto, como se fosse a última.

Curiosamente, o suspiro que faz o futuro parecer mais promissor vem do passado. Diego Costa.

Diego foi contratado por 65 milhões de euros no início da temporada, mas só pôde estrear agora em janeiro, por uma punição recebida pelo Atlético. Ficou três meses entrando em forma e treinando, perdeu quilos, queria voltar tendo impacto imediato. E foi o que aconteceu.

Já na reestreia, quarta, pela Copa do Rei, fez um gol na vitória por 4 a 0 sobre o Lleida. E neste sábado, em sua volta à Liga Espanhola, na primeira partida no novíssimo estádio Wanda Metropolitano, a primeira como titular, fez um gol nos 2 a 0 sobre o Getafe. Mais do que isso: cumpriu o script completo.

Taticamente, mudou o jogo do Atlético, que passa a ter um Griezmann mais móvel (como ele gosta e rende mais). Passa a ter uma presença de área muito mais forte do que com o velho Torres ou Gameiro. Passa a ter um jogador que incomoda, distrai, inferniza a vida dos defensores adversários.

Animicamente, passa a ser um Atlético mais parecido com o velho time de Simeone. Raçudo, inflamado, malvado.

O árbitro de Atlético x Getafe teve uma atuação patética. Encheu o Atlético de cartões e perdoou o Getafe. O efeito Diego Costa tem disso também, os árbitros não gostam dele, ninguém gosta dele. É o jogador que recebe uma falta e levanta rapidinho para espinafrar o juiz. É o jogador que sai para o túnel no intervalo batendo boca e trocando empurrões com algum adversário. Xinga até a sombra.

É o jogador que deixa o braço para proteger a bola. Alguns não teriam nem a falta marcada. Outros, levariam vermelho direto. No caso de Diego, saiu um amarelo. Seguido, claro, de encarada, empurra empurra, tensão.

Tensão.

Esta é a palavra. Este é o principal efeito Diego Costa. O jogo fica tenso, o adversário fica tenso, os companheiros ficam tensos, a torcida, os árbitros, todo mundo. Os jogos ganham uma atmosfera diferente. Tensão pode ser ruim, claro que pode. Mas não é possível ganhar no futebol sem tensão. E era isso que esse Atlético não mostrava na temporada 17/18.

E veio o gol. Contra ataque, bom posicionamento na área, finalização de primeira, no contrapé do goleiro, tudo certinho.

Mas Diego Costa é Diego Costa. E ele subiu a escadinha que dá acesso à arquibancada para ganhar um banho de massas. Debaixo de chuva em Madri, foi abraçado, beijado, amassado, esmagado. Foi para a galera.

Na volta, adivinhem? Amarelo. E vermelho.

Empurra empurra, nome gritado, bate boca, cotovelo, amarelo, gol, celebração irracional, banho de massas na chuva, vermelho, aplausos, suspensão. O Atlético x Getafe deste sábado foi 100% Diego Costa.

Não dá para não pensar em como teria sido aquela final de Champions em 2014, entre Atlético e Real Madrid. Diego Costa saiu machucado logo no início, o Atlético chegou a abrir o placar, mas levou o empate nos acréscimos e perdeu o título na prorrogação.

O torcedor ama Diego Costa. É o típico jogador odiado por quem está contra, amado por quem está do mesmo lado (menos Antonio Conte).

O Atlético está fora da Champions, mas já é, nas casas de apostas, o principal favorito a ficar com o título da Europa League (à frente de Arsenal, Dortmund, Napoli, Milan…).

No Espanhol, está seis pontos atrás do Barcelona, que amanhã deve voltar a abrir nove, pois recebe o Levante. O jogo entre eles no segundo turno será no Camp Nou. O título do Barcelona está praticamente garantido.

Mas, no mínimo no mínimo, teremos a partir de agora fortes emoções nos jogos do Atlético. O homem de Sergipe está de volta.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.