Topo

Julio Gomes

Seleção não deve se preocupar com grupo, mas com cruzamentos e logística

Julio Gomes

01/12/2017 03h44

As bolinhas sairão hoje, na Rússia, uma após a outra. E saberemos quem a seleção brasileira vai enfrentar na primeira fase do Mundial, em que estádios, etc. Passaremos meses falando dos tais três adversários da seleção de Tite.

É normal que seja assim. Mas, a meu ver, o mais importante no sorteio desta sexta-feira são outras duas coisas: os cruzamentos futuros e as datas/deslocamentos entre jogos.

Vamos imaginar que o Brasil dê o maior azar do mundo e caia em um "grupo da morte". Que grupo da morte seria esse? Possivelmente um que tivesse Espanha ou Inglaterra, Dinamarca ou Suécia e a Nigéria. Será que o Brasil sofreria tanto assim para passar de um grupo desses? Claro que seria desafiador, mas seria uma grande surpresa se Brasil ou Espanha fossem eliminados em um grupo assim.

Mas agora vamos pensar de forma diferente. Vamos imaginar que seja a Argentina a cabeça de chave deste hipotético grupo da morte com Espanha, Dinamarca e Nigéria, por exemplo. E que o Brasil fique em um grupo teoricamente mais fácil, mas cruze nas oitavas de final justamente contra alguém desta chave. Isso significaria enfrentar Argentina ou Espanha já no primeiro jogo de mata-mata.

Isso sim, é algo a evitar. É muito melhor enfrentar uma Espanha ou uma Inglaterra logo na fase de grupos, quando perder não significará eliminação, do que pegar pedreiras em todas as fases eliminatórias.

Em 2014, o Brasil não teve muita sorte. Pegou um grupo não tão fácil, com Croácia e México, e cruzou nas oitavas com um grupo que tinha Espanha, Holanda e Chile. Acabou jogando contra o Chile e só não caiu logo nas oitavas de final porque passou nos pênaltis.

A Copa da Rússia tem algumas ausências importantes. Itália, Holanda, Chile, EUA, Gana… Com isso, diminuem bastante as possibilidades de um ou mais grupos da morte serem formados. É mais improvável que aconteça com o Brasil no ano que vem o que aconteceu em 2014: grupo relativamente difícil e cruzamento ingrato.

Ampliando um pouco a questão dos cruzamentos, há uma outra torcida. Dos sete outros cabeças de chave, três podem ser considerados da "primeira prateleira" na lista de favoritos ao título: Alemanha, França e Argentina. Os outros quatro são Bélgica, Portugal, Polônia e Rússia.

O ideal seria que o Brasil ficasse em uma "metade" diferente das maiores potências. Ou seja, se ele for sorteado para cair nos grupos B, C ou D (a Rússia já está no A), o ideal seria que Alemanha, França e Argentina estivessem ocupando a metade de baixo (grupos E, F, G e H). Assim, o Brasil evitaria qualquer confronto contra estas seleções antes das semifinais.

A outra grande chave é a questão logística.

O sonho de consumo de Tite e comissão é cair no grupo B. O cabeça de chave deste grupo fará a estreia em Sochi e, se for primeiro, jogaria de novo na cidade nas quartas de final. Teria jogos em Moscou na segunda rodada, oitavas e semis. Ou seja, a logística de viagem ficaria extremamente facilitada e o cruzamento seria com o grupo A, o da Rússia, a cabeça de chave destacadamente mais fraca.

O lado ruim de cair no grupo B seria estrear logo no dia 15 de junho, segundo dia de Mundial. Os cabeças dos grupos C e D estreiam no dia 16 e, considerando que a seleção ficará em Sochi, teria de fazer muitas viagens na fase de grupos. Algo parecido aconteceria se o Brasil fosse sorteado para ser cabeça do grupo E ou F. Seriam cinco cidades diferentes nos cinco primeiros jogos.

O grupo G seria uma boa opção, pois a estreia seria somente no dia 18 de junho (mais dias de preparação) e em Sochi. O outro lado da moeda é que o cabeça deste grupo, se for o primeiro colocado, será o país com menos intervalo entre fase de grupos e oitavas e entre oitavas e quartas de final. Mais tempo de descanso antes da estreia, mas menos tempo entre um jogo e outro no decorrer da competição. Algo parecido acontecerá com o cabeça do grupo H.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.