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Julio Gomes

Luan acerta em cheio: o melhor jeito de ir para a Europa é ir consagrado

Julio Gomes

30/11/2017 11h00

Muitos jogadores brasileiros caem no canto da sereia. Geralmente, um canto entoado por agentes que são ótimos atores. Fingem que estão muito preocupados com a carreira de seus clientes, quando na verdade estão preocupados com as comissões.

Luan não se deixou seduzir. Um digno herdeiro da mítica camisa de 7 de Renato, de Paulo Nunes, Luan é hoje tricampeão da América. E seu nome irá rodar o mundo após o golaço contra o Lanús.

É fácil ser seduzido pelo futebol europeu. Lá, estão os melhores. Os melhores jogadores, os melhores campos, os melhores CTs, os melhores campeonatos, os melhores tudo. O fato é que jogar no futebol europeu é uma obrigação para quem quer crescer, evoluir e chegar mais longe no esporte.

Negar uma chance no futebol europeu é como negar uma chance em Hollywood ou na NBA. Mas o futebol europeu não é uma massa uniforme. Há clubes e clubes. Campeonatos e campeonatos. Cidades e cidades.

Luan é quase uma unanimidade. O melhor jogador brasileiro atuando no Brasil. Campeão olímpico, 24 anos de idade. Mas já não é assim tão novinho. Há, sim, aspectos que precisam ser melhorados em seu jogo. Já foi até alvo de parte da torcida gremista.

É difícil para um rapaz como Luan recusar uma proposta como a que veio do Spartak Moscou, no meio do ano. Uma proposta para ganhar três, quatro ou cinco vezes mais, como ele disse.

Mas Luan ficou no Grêmio. "Por esse grupo e pelo que a gente vinha fazendo, eu tinha a convicção de que a gente poderia ser campeão da Libertadores".

O Grêmio poderia até ter perdido a final. Mas a leitura de Luan (e de quem quer que esteja ao lado dele e tenha influenciado nessa tomada de decisão) estava correta.

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O melhor jeito de chegar à Europa é chegar consagrado, em alta, valorizado, conhecido e respeitado. Como chegou Neymar ao Barcelona, após o título da Libertadores com o Santos. Não estou comparando os jogadores, apenas as situações.

A vida de um jogador brasileiro na Europa pode não ser fácil. Existe a adaptação ao país, língua, costumes, o ambiente de vestiário, o jogo, as demandas táticas, nutrição, etc.

É muito diferente chegar por cima e chegar como mais um.

Luan escancarou o mercado para ele mesmo com o golaço que vai rodar o mundo e o tri da Libertadores para o Grêmio. Foi o melhor jogador da maior competição do continente. Se a convocação final de Tite para a Copa do Mundo fosse amanhã, ele fatalmente estaria na lista.

Quanto valia Luan em agosto e quanto vale Luan hoje?

Abrir mão do contrato com o Spartak para ficar no Grêmio foi uma decisão sábia. Com a renovação assinada até 2020 e a multa rescisória fixada em 20 milhões de euros, Luan vai poder escolher onde jogar. Certamente aparecerão clubes de ligas de elite atrás dele. E bons salários.

Luan tem um futebol refinado, mas vai precisar de perseverança para evoluir na Europa. Ele não se encaixa em qualquer posição do meio para frente e não dá grande contribuição defensiva. Não tem jeito, são exigências do futebol moderno.

É muito melhor cair em um time pronto e em que seja bancado pelo técnico do que cair numa roubada. Pode fazer toda a diferença entre triunfar ou não no futebol de alto nível, toda diferença entre ir ou não para uma Copa do Mundo – aliás, a decisão conservadora nesse sentido seria ficar no Grêmio no próximo semestre e chegar à Europa só depois da Copa-2018.

Ele está na história do Grêmio e as páginas daqui para frente estão todas em branco. Luan tem bola e tem mercado. Nada como ter uma boa cabeça, e não apenas bons pés.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.