Topo

Julio Gomes

Modric vai à Copa. E o futebol agradece

Julio Gomes

09/11/2017 19h52

A Croácia não deu chance para o azar. Foi mais intensa do começo ao fim, jogou bem e enfiou logo 4 a 1 na Grécia, em partida de ida da repescagem europeia para a Copa do Mundo.

Sim, ainda jogarão a volta, semana que vem, na Grécia. Uma Grécia que nos últimos quatro anos, entre competições e amistosos, jogou 40 partidas e só três vezes fez mais de dois gols em um jogo – duas destas foram contra Gibraltar.

A Croácia já está virtualmente classificada. Porque abriu boa vantagem de gols. Porque é muito mais time. Porque tem Luka Modric.

O meio-campista do Real Madrid é, hoje, e talvez já há uns dois anos, o melhor do mundo em sua posição. Enquanto o Barcelona gastou tempo e dinheiro tentando achar o novo Xavi, o jogador que talvez seja seu melhor discípulo foi parar no Real Madrid, levado por Mourinho em 2012.

Em cinco anos de Real, foi três vezes campeão da Champions League. Sempre fundamental nas campanhas, o motorzinho do time, com presença e cobertura na defesa, qualidade de passe impressionante, chegada ao ataque, uma inteligência tática invejável.

Chamo Modric de meio-campista porque sou incapaz de chamá-lo de meia ou de volante ou de qualquer outra coisa. Ele é o dono do meio de campo.

Bom para o futebol que a Croácia esteja na Copa da Rússia. Depois da bobeada na fase de grupos das eliminatórias, deixando a vaga direta para a Islândia, a Croácia passou a correr risco. Uma eliminatória simples de mata-mata é sempre um perigo.

Mas o time da quadriculada vermelha e branca entrou em campo disposto a atropelar a Grécia. E atropelou. Não ganhou por mais pelo excesso de preciosismo no segundo tempo. Esse é o ponto de atenção, sempre foi, a maneira como o time se desconcentra ou se desmotiva.

Além de Modric, este é um time recheado de jogadores titulares nos grandes clubes europeus. Subasic é goleiro do Monaco, Lovren é zagueiro do Liverpool, Vrsaljko é lateral do Atlético de Madri, Rakitic é meia do Barcelona, Perisic é atacante da Inter de Milão, Kalinic, do Milan, Mandzukic, da Juventus.

Se tal grupo de qualidade encaixar nas mãos de algum técnico top (especula-se que a Croácia esteja atrás de Carlo Ancelotti), por que não acreditar nesta seleção na Copa?

Temos a mania de achar que sempre as grandes irão ganhar. Mas o futebol de hoje em dia está muito nivelado e uma competição curta de mata-mata permite qualquer coisa. Vamos lembrar que Portugal é o atual campeão europeu, que o Chile ganhou as últimas duas Copas América e que a Holanda, semifinalista das últimas duas Copas, nem passou perto de se classificar para a próxima. O futebol global está bem louco.

Na última Copa, a Croácia poderia ter ido longe. Jogou melhor, mas perdeu na estreia para a seleção brasileira (com mãozinha do juiz) e depois foi incapaz de vencer o México no calor de Recife. Na Euro-2016, caiu nas oitavas justamente para Portugal, na prorrogação, depois de dominar o jogo todo e de ter vencido o grupo que tinha a Espanha na fase anterior.

A Croácia é capaz de tudo e de nada.

E quem tem Luka Modric pode sempre sonhar com tudo.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.