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Julio Gomes

Será que o PSG é mesmo o caminho mais fácil para Neymar ser Bola de Ouro?

Julio Gomes

31/07/2017 12h41

A contratação de Neymar pelo Paris Saint-Germain está cada vez mais próxima. Possivelmente, nos próximos dias será anunciada, com pompa e circunstância.

Não é difícil prever que o assunto dinheiro será pouco falado por Neymar ou seu staff. Não irão querer dizer publicamente que a troca é movida pelo vil metal. Pega mal, já sabem. O mais provável é que o discurso seja o de "buscar um novo desafio na carreira", "transformar o PSG em campeão europeu", etc.

O que não se fala muito na Europa, mas parece obsessão por aqui, em uma sociedade que em regra se preocupa mais com sucessos individuais do que coletivos, é a tal busca pela Bola de Ouro.

Há muitos anos se fala tanto de quando, afinal, Neymar será eleito o melhor mundo. O detalhe é que ele nunca foi o melhor do mundo. E não é. Mas o que importa, na cabeça de alguns, é que será. E é necessário saber como articular as coisas para que isso aconteça. Para que ele esteja no centro, no topo, não no degrau abaixo.

E aí a convenção é acreditar que, no Barcelona, com a sombra de Messi, ele nunca será o melhor do mundo. Portanto, precisa encontrar as condições ideais para tal. Um time bom, em condições de ser campeão da Champions e em que ele seja o destaque.

Eu pergunto: será mesmo que no PSG Neymar terá um caminho mais fácil para ganhar a Bola de Ouro do que no Barcelona?

De bate pronto, a resposta é um retumbante "sim". Mas tenho muitas dúvidas sobre tanta certeza.

No curto prazo, agora que é mundialmente conhecido, a grande chave para Neymar ganhar a Bola de Ouro é a Copa do Mundo da Rússia.

Tradicionalmente, o destaque da seleção campeã é quem leva o prêmio de melhor do ano. É verdade que em 2010 e 2014 os prêmios individuais foram para Messi e Cristiano Ronaldo, mas há um enorme porém aí. Foram anos em que a Bola de Ouro havia sido "comprada" pela Fifa. Aquele sistema de votação em que o capitão do Sri Lanka tem uma poderosa voz.

Agora, a Bola de Ouro voltou a ser a Bola de Ouro. Com especialistas que realmente acompanham o futebol de alto nível de perto definindo os melhores do ano. Voltaremos a ter gente como Weah ou Sammer ou Nedved ou Shevchenko ganhando o prêmio, e não apenas os jogadores de mais nome e mídia.

Em 2010, a Bola de Ouro teria (e devia ter) ido para Iniesta, Xavi ou Sneijder, certamente não para Messi. Em 2014, talvez para Neuer, em vez de Cristiano Ronaldo – ainda que naquela temporada, de fato, o português tenha arrebentado e a seleção alemã não tenha nos mostrado algum grande destaque individual na Copa.

Se a seleção brasileira ganhar a Copa do Mundo de 2018, é muito provável que Neymar terá sido decisivo na campanha. Gabriel Jesus e Philippe Coutinho ainda não têm o mesmo tamanho. Brasil hexa significará Neymar melhor do mundo, sem muitas dúvidas.

E aí, pouco importa em que time ele estará. Talvez seja até melhor estar junto com Messi, conquistando ou perdendo as mesmas coisas que o argentino no Barcelona e tendo a Copa do Mundo como "desempate", do que estar em um PSG que PODE fracassar precocemente na Europa.

O PSG nunca foi campeão europeu e terá de passar por times estrelados e fortíssimos, como Real Madrid, Bayern, Juventus, Chelsea, Manchester United, City, o próprio Barça. Já a seleção brasileira sabe o caminho dos títulos e terá menos adversários rumo ao hexa.

Por outro lado, claro, a Copa é uma só, a Champions tem todo ano. No longo prazo, ser a estrela do PSG pode abrir mais possibilidades de Bola de Ouro a Neymar. No longo prazo, porém, também seria possível contar com uma passagem de bastão de Messi para ele no Barcelona.

O debate sobre "o melhor caminho para ser Bola de Ouro" nem deveria existir. Cansa um pouco essa individualização de um esporte coletivo. Mas somos o que somos. E, por mais que isso dificilmente seja ouvido da boca de Neymar, o fato é que entra na balança da tomada de decisão.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.