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Julio Gomes

Depois das cenas horrorosas de Curitiba, por que temos futebol hoje?

Julio Gomes

18/06/2017 12h54

A cena da agressão de alguns "torcedores" do Coritiba a um homem caído no chão é de dar dor de barriga. Quer dizer, tem gente que gosta. Eu não. Não há nada mais horroroso que a violência humana. O que leva uma pessoa a dar seguidos pisões e chutes na cabeça de outro caído?

Não há briga de torcida ou ódio que se justifique. E está longe, muito longe de ser uma cena inédita.

Independente do que aconteça com o torcedor corintiano agredido. Ou quem começou. Independente de qualquer argumento. A pergunta que fica é: por que raios teve um jogo de futebol depois disso?

"Ah, Julio, não podem ser punidas milhares de pessoas por causa da imbecilidade de alguns".

E eu respondo: sim, podem sim. Enquanto a sociedade continuar sendo conivente, seguiremos vendo cenas de violência em dias de futebol.

Porque as torcidas organizadas são (ou viraram ou sempre foram, sei lá) apenas instituições que encobrem crimes e criminosos.

Lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, vendas ilegais. Quem quiser cutucar, encontra de tudo. E pessoas violentas usam as torcidas para fazer o que gostam: machucar outros. Se uma pessoa resolver chutar a cabeça de outra na rua, possivelmente ela será presa e arcará com as consequências. Em um jogo de futebol, ou escondidos dentro de manadas, elas podem fazer o que querem sem consequência alguma. Tudo é colocado sob o guarda-chuva "briga de torcidas".

Como se fosse a paixão por um clube (ou o suposto ódio ao outro) que gerasse esse tipo de cena que vimos no domingo. Ou esta imagem clicada abaixo pelo amigo Leonardo Bessa.

Quantos dos animais de hoje estavam naquela batalha épica no gramado do Couto Pereira naquele Coritiba x Fluminense? E quantos dos corintianos dentro daqueles ônibus não estiveram envolvidos em algo parecido? Estamos falando de todos os clubes, de todas as torcidas-facções. Uma cena que se repete em looping.

É inacreditável que Coritiba e Corinthians tenham entrado em campo. Aliás, nada mais justo que um 0 a 0, porque não é possível que alguém pudesse comemorar alguma coisa hoje em Curitiba.

E é inacreditável que o resto da rodada seja realizado neste domingo.

Ah, mas tem o calendário. Ah, mas tem ingressos vendidos. Ah, mas pessoas viajaram para ver os jogos. Não importa. NÃO IMPORTA.

A sociedade precisa dar um basta. Os clubes, em sua maioria coniventes, parceiros ou, no mínimo, omissos em relações às facções autodenominadas torcidas organizadas, precisam criar vergonha na cara.

Jogos com torcida única, proibição de sinalizadores… estamos cansados de medidas paliativas e que nada resolvem. O poder público tem a obrigação de desmantelar as torcidas organizadas, inclusive cortar na carne, porque deve ter muito mais gente envolvida aí do que imaginamos – estou falando até de esferas públicas.

Em dias como hoje, não é possível ter futebol. Só medidas radicais, que incomodem muita gente, farão com que o problema seja realmente resolvido.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.