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Julio Gomes

A um ano da Copa, França parece ser o maior obstáculo para a seleção

Julio Gomes

13/06/2017 19h17

Vamos começar pelo fim? Assim ninguém se dá ao trabalho de malhar o analista nos comentários. Sim, eu sei que a Copa do Mundo é uma competição rápida e que em um jogo qualquer coisa pode acontecer. Nos dias de hoje ainda mais, pois há muito equilíbrio entre times e seleções no futebol globalizado e da velocidade da informação. Não há segredos. Há padrões. Zebras acontecerão cada vez mais em competições internacionais curtas. Times organizados ganham jogos.

Dito tudo isso, não quero me furtar de tentar prever o futuro com base no presente, no passado e nas próprias perspectivas de futuro. Hoje, considero a seleção brasileira a mais forte do mundo. E, entre as europeias, a França, e não a Alemanha ou a Espanha ou a Itália, é quem promete ser o maior obstáculo para o hexa.

Brasil e França podem perder de QUALQUER UM. Isso é óbvio. Não ficarei aqui colocando o óbvio como "porém" ao analisar seleções e seus momentos. A Alemanha era a melhor seleção do mundo em 2014, disparado. E quase tropeçou na Argélia. Acontece. É uma questão de encaixe, seleções que tentam se dar bem na fraqueza alheia. Muitas vezes funciona.

Em 20 jogos contra aquela Alemanha, aquela Argélia ganharia um. Quase foi na Copa. Mas não podemos ignorar a superioridade alemã e nos escorar no "não tem favorito" para analisar e prognosticar um jogo de futebol. Claro que tinha e claro que tem.

O que faz da seleção brasileira tão forte? Uma série de fatores que simplesmente se encaixaram com a chegada de Tite. Ótimo treinador, antenado e atualizado com métodos e formações do futebol atual, ótimos jogadores em todas as posições, jogadores que compraram a ideia do técnico e rapidamente adotaram um estilo de jogo coletivo e participativo, muito uso de informações, estatísticas, vídeos, etc. Tudo isso em uma das camisas mais poderosas da história do futebol.

A França, já não é de agora, montou uma seleção muito boa e também tem um técnico competente, Deschamps, que conseguiu unir jogadores historicamente divididos. Uma seleção que viu dois jogadores promissores ganharem status de estrelas mundiais em Pogba e Griezmann.

A França parou na Copa do Mundo de 2014 na Alemanha, como era de se esperar. Mas superou a mesma Alemanha ano passado, na Eurocopa. Realmente faltou vencer Portugal (sem Cristiano Ronaldo desde o início do jogo) na decisão. E este é um ponto negativo que não pode ser deixado de lado. Que time é esse que perde um Europeu em casa, daquele jeito?

Mas algumas coisas aconteceram nesta temporada, que acabou oficialmente com estas partidas de seleções.

Algumas coisas tipo o Monaco, campeão francês e semifinalista da Champions.

Mbappé, já comparado com Henry, é um fator X nesta seleção francesa. Um jogador em claras condições de explodir rumo à estratosfera nesta temporada que vem e que mostrou um pouco disso no amistoso desta quarta-feira, na vitória sobre a Inglaterra (3 a 2 mesmo com um jogador a menos).

Mbappé é o que Neymar poderia ter sido na Copa de 2010, por exemplo. Um jogador muito jovem, de apenas 18 anos, que foi convocado pela primeira vez em março e que traz para um bom time aquele algo mais. Coragem, talento, velocidade, capacidade de desmontar esquemas.

Mas tem mais além dele. A temporada brutal do Monaco deu a Deschamps jogadores muito confiantes em Lemar, Sidibé e Mendy. Além deles, surgiu também Dembélé, que explodiu com a camisa do Borussia Dortmund (na foto acima, abraçado a Mbappé). Nenhum destes estava na Euro, um ano atrás.

Lloris, que era apenas um bom goleiro, ganhou status de um dos melhores do mundo com a número 1 do Tottenham. Descarte a besteira que ele fez no fim de semana contra a Suécia, pelas eliminatórias. E Kanté, depois da temporada brilhante no Leicester, foi para o Chelsea e transformou-se no melhor jogador da Premier League. É o Makelele 2.0. E ainda tem a dupla de zaga, Umtiti e Varane, mais do que consolidados e aprovados após esta temporada, titulares de Barcelona e Real Madrid, respectivamente.

Enfim. Uma França que já era forte na Copa de 2014 e na Euro de 2016, ganhou um punhado de jogadores que podem dar "algo a mais" no ano que vem. É uma claríssima candidata.

Imaginem um confronto entre Brasil e França na Copa? Daria calafrios, não é mesmo? Depois de 1986, 1998 e 2006, pode até haver um bloqueio pelo histórico. Convenhamos, o Brasil já entra ganhando contra um monte de seleções. Justamente pelo medo que impõe. Não contra a França. Com medo, eles não jogarão.

Mas e as outras seleções?

Temos muito tempo para dissecá-las. A Alemanha cumpriu um ciclo em 2014. Era uma seleção montada, que bateu na trave nas Euros de 2008 e 12, além da Copa de 2010. Desde o tetra, perdeu Lahm, Schweinsteiger, Goetze não explodiu, Draxler ainda é mais promessa que realidade. É uma seleção fortíssima, sem dúvida. É a campeã e é a Alemanha, oras bolas. Tem Neuer. Tem Kroos. Mas ainda passa por uma transição e hoje é menos forte do que era.

A Espanha está na mesma. Tem ótimos talentos. Jogadores pedindo passagem, como Isco e Asensio, um camisa 9 de muito respeito em Diego Costa, goleiraço, ótima dupla de zaga. Maaaaaas. Ainda não encaixou com Julen Lopetegui. O ciclo novo foi sendo adiado, demorou para começar e não sei se conseguirá encontrar a química necessária antes do Mundial.

A Itália tem mais camisa e sangue vencedor do que propriamente um time. A Bélgica, exatamente o contrário. Tem time, um baita time, mas falta aquela competitividade necessária para ganhar a Copa. A Argentina tem craques do meio para frente, muitos problemas atrás, mas ganhou um treinador fantástico em Sampaoli.

Todas estas podem ganhar a Copa. Até o México de Osorio pode ganhar a Copa! Até Portugal. Até a Croácia. Até o Uruguai. É mata-mata (ou melhor, só "mata") e hoje há um equilíbrio brutal no futebol.

Mas, neste momento, a um ano do Mundial, ninguém parece mais pronto e com mais poder de fogo do que o Brasil e seu eterno nêmesis: a França.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.