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Julio Gomes

"Zidane virou um grande na Juventus, só faltou a Champions"

Julio Gomes

30/05/2017 06h00

Poucos jogadores podem presumir de estar na lista dos maiores de dois dos clubes mais poderosos do mundo. Zinedine Yazid Zidane é um deles.

Um dos maiores jogadores da Juventus. Um dos maiores jogadores do Real Madrid. Dois clubes que fazem neste sábado a final da Liga dos Campeões da Europa, em Cardiff.

Hoje, Zidane é técnico do Real Madrid e tenta se tornar o primeiro homem desde Arrigo Sacchi (Milan 89-90) a se tornar campeão europeu por dois anos seguidos. Aliás, o Real Madrid tenta também ser o primeiro clube a ser rei da Europa por dois anos seguidos desde a criação da Champions League moderna, em 1992.

O francês é o nome próprio da final antes de a bola rolar. Se for campeão novamente com o Real, irá tirar da Juventus o título que ele mesmo não conseguiu dar.

A Juve era campeã europeia quando, no meio de 1996, foi buscar Zidane, então com 24 anos, no Bordeaux. O clube chegou a mais duas finais europeias, em 97 e 98, já com Zizou no time, mas perdeu ambas.

"Zidane chega depois da Euro 96 e logo demonstra um grande valor, vira um ponto de referência para o time. Ele virou um grande com a camisa da Juventus", contou ao blog o jornalista Alberto Cerruti.

Cerruti escreve para a "Gazzetta dello Sport" há mais de 40 anos, é um dos jornalistas mais respeitados da Itália, uma referência, e acompanhou de perto a saga europeia daquela Juventus.

"Na Juve, ele cresce do ponto de vista tático. Passou a jogar para o time, fazer sacrifícios, pela primeira vez entende que podia virar um líder. Depois vieram os sucessos com a seleção francesa, Mundial de 98 e Euro 2000, virou um grande orgulho para a Juventus ter um campeão em seu elenco", conta Cerruti.

"Os dois maiores da história da Juventus são Platini e Del Piero. Mas Zidane está no top 5 de qualquer torcedor. Sempre foi uma estrela. Só faltou mesmo ganhar a Champions."

Na final de 97, a Juve foi derrotada pelo Borussia Dortmund de forma surpreendente. No ano seguinte, perdeu justamente para o Real Madrid, em Amsterdã. Zidane participa de algumas jogadas de bola parada, mas não faz uma de suas melhores partidas com a camisa juventina.

"Foram duas finais estranhas", lembra Cerruti. "A Juventus era favorita, mas jogou mal as duas finais. Del Piero era a estrela principal, Zidane era um dos pilares do time, mas não o principal nome. Nunca foi indicado como culpado, não ficou com fama de perdedor nem nada do tipo. Em 98, no gol da vitória do Real Madrid, Mijatovic estava em posição de impedimento. E o time não conseguiu buscar, não parecia a Juventus."

Em 2001, Zidane foi vendido ao Real Madrid por 77 milhões de euros – na época, a maior transferência da história do futebol.

Logo em sua primeira temporada, Zidane conquistou, finalmente, sua única Champions League como jogador. Com direito a um gol antológico na final em que o Real Madrid venceu o Bayer Leverkusen, em 2002.

"Ele tinha mulher espanhola, queria ir para a Espanha e foi uma grande oferta econômica. Ganharam todos com a troca. Ele saiu bem, não saiu como um traidor ou qualquer coisa do tipo. Até hoje é muito ligado à Juventus, tem casa em Turim. Talvez, naquele momento, tenha entendido que com o Real Madrid seria mais fácil, tivesse mais possibilidades de ganhar a Champions League. O futebol espanhol tem até hoje mais espaço, menos defensivismo, ele se encontrou muito bem logo de cara. E fez aquele gol maravilhoso na final de 2002", lembra Cerruti.

Hoje, Zizou é "professor". Em um ano e meio no cargo, já conquistou Champions, Mundial e Liga espanhola com o Real Madrid. Ainda é visto com ressalvas por muitos analistas. Não pelo italiano.

"Pensam que é fácil vencer no Real Madrid, mas não é bem assim. Ele mudou o time, colocou Casemiro, deixou James Rodríguez fora, teve coragem, não fez o time que o presidente (Florentino Pérez) queria. Sem Bale, fez Isco jogar, demonstrou ser um grande treinador. Tem muito carisma dentro do vestiário e entendeu a tranquilidade de Carlo Ancelotti, que foi seu técnico da Juventus e com quem trabalhou depois no Real. O treinador Zidane ainda é subvalorizado", analisa Cerruti.

E quem vai ganhar a final de sábado?

"A Juventus é mais forte, mais completa. Precisa ter determinação e agressividade, deixar de lado esse complexo de perder finais. Se esperar o Real Madrid e não atacar, pode pagar o preço. Essa é uma final que será vencida por quem marcar o primeiro gol. Não vejo a Juventus conseguindo uma virada. Precisa entrar convencida e buscando a vitória desde o primeiro minuto".

Se conquistar o título europeu, será a primeira vez da Juventus desde 1996. Já são 21 anos de fila. Naquela final perdida para o Real em 98, Zidane utilizava justamente a camisa 21.

O blog agradece à atenção de Alberto Cerruti. Um grande.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.