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Julio Gomes

Mônaco, 2007. Há 10 anos, nascia a inimizade Hamilton-Alonso

Julio Gomes

26/05/2017 06h00

Enquanto a Fórmula 1 está em Mônaco, Fernando Alonso está em Indianápolis. O que aconteceu com o piloto que era para muitos (ainda é para alguns) o melhor piloto do mundo? Por que Alonso não ganha um título da F-1 desde… 2006?

Depois do bicampeonato com a Renault e a aposentadoria de Michael Schumacher, Alonso era apontado como o próximo piloto dominante da categoria. Ele foi para a McLaren, uma equipe forte e histórica, e tinha como companheiro de equipe um estreante vindo da GP2. Um tal Lewis Hamilton.

Aquela temporada 2007 foi, sem dúvida, uma das mais espetaculares da história da F-1. Eu tive a sorte de ver tudo de perto, cobri todas as corridas para a Rádio Bandeirantes. Havia um equilíbrio muito grande entre Ferrari e McLaren, qualquer um podia ganhar qualquer corrida. As equipes médias conseguiam se colocar entre elas, havia bons talentos surgindo, teve escândalo de espionagem e, claro, a treta master: Alonso versus Hamilton.

Quando a McLaren decidiu colocar o jovem inglês para ser o número dois de Alonso, o espanhol disse a Ron Dennis que talvez isso pudesse comprometer a briga pelo título de Construtores. Estava sabendo bem, o Alonso. Hamilton subiria no pódio nas nove primeiras corridas de sua carreira e só perderia o título porque realmente bobeou no final.

A relação entre eles começou a se deteriorar justamente na quinta corrida, em Mônaco. O GP daquele ano foi disputado em um dia 27 de maio. Hamilton vinha de um terceiro lugar e três segundos. Alonso havia vencido uma, mas ficado atrás do inglês em duas. A coisa já estava esquisita.

Naquele ano, ainda havia aquela coisa de começar a corrida com o combustível que tivesse no carro após a classificação. A McLaren adotava um revezamento, cada corrida um teria uma volta a mais na classificação. Em Monaco, Alonso fez a pole. Mas, na corrida, Hamilton tinha um ritmo muito rápido, apesar de mais combustível. E poderia buscar a vitória na estratégia. Mas a McLaren decidiu que Alonso venceria a corrida.

Tudo normal. Um era o bicampeão do mundo. O outro, um rookie.

Depois da corrida, na entrevista coletiva, um ao lado do outro, Hamilton manda a seguinte declaração, com alta carga de ironia e irritação: "Está pintado o número dois ali no meu carro. Eu sou o piloto número dois da equipe. O número um está no carro dele".

Ali, ficava claro que Hamilton não estava para brincadeira. Naquela temporada, fazer uma classificação melhor que o companheiro dava muita vantagem para a corrida. E Hamilton era simplesmente mais rápido que Alonso nas voltas voadoras. Assim como Massa estava pressionando Raikkonen pelos lados da Ferrari por ser melhor nos treinos classificatórios.

Depois das declarações de Hamilton em Mônaco, a imprensa inglesa começou a pressionar muito a McLaren para dar tratamento igualitário a seus pilotos. Hamilton ganhou as duas corridas seguintes, no Canadá e Indianápolis e, após a corrida dos EUA, foi Alonso quem passou a reclamar publicamente. Até chegar ao auge na Hungria, com Alonso parado nos boxes durante a classificação, sem deixar Hamilton trocar pneus e abrir volta rápida. Foi degringolando. Mas a bronca começou mesmo no Principado.

No fim, ficaram empatados em pontos, com um a menos do que Raikkonen, campeão que se beneficiou da briga interna da McLaren.

A meu ver, aquela temporada do mimimi fez Alonso perder o rumo na F-1. Sim, é verdade que ainda foi parar na Ferrari e chegou perto do título duas vezes, perdendo o campeonato para Sebastian Vettel na última corrida em 2010 e 2012. Mas o fato é que a McLaren ainda se manteve competitiva por bons cinco anos após sua saída, tanto que Hamilton foi campeão em 2008. De repente poderia ter sido ele, Alonso, e não Hamilton, que teria feito a mudança para a campioníssima Mercedes na hora certa.

Alonso parece ter sempre tomado as decisões erradas. Sempre a partir de não ter aceitado disputar de igual para igual com um novato na McLaren. E hoje está, quem diria, de novo na McLaren, pelo terceiro ano seguido com uma carroça em mãos.

Dez anos depois das farpas lançadas por Hamilton em Mônaco, lá está ele novamente. Agora em busca do quarto título mundial. Já Alonso precisou ir a Indianápolis para se sentir piloto novamente.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.