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Julio Gomes

Real Madrid e Juventus campeões. Agora só falta saber quem é melhor

Julio Gomes

21/05/2017 16h48

Faz muito tempo que a final da Liga dos Campeões da Europa não é, além da disputa pelo título, um tira-teima. O jogo para determinar quem é, de fato, o melhor do continente. É o caso neste ano.

Neste domingo pela manhã, a Juventus confirmou o hexampeonato italiano com uma vitória sobre o Crotone por 3 a 0. De tarde, o Real Madrid ganhou o Campeonato Espanhol ao fazer 2 a 0 sobre o Málaga.

Quem é melhor? Juventus ou Real Madrid? Para mim, é impossível dizer. Precisamos da final do dia 3 de junho, daqui a dois fins de semana, em Cardiff, para saber. Sinto-me incapaz de apontar um favorito.

Os títulos domésticos deste domingo mostram a força de ambos. A Juventus construiu uma dinastia na Itália. O Real Madrid quebra o incômodo domínio do Barcelona. Pode até ter o melhor ataque do mundo, mas não tem a taça.

Por ser um torneio de mata-mata, nem sempre a Champions League opõe na final os dois melhores times da temporada.

Nos últimos três anos, qualquer final sem o Bayern de Munique não reunia os dois melhores da Europa. Talvez a última vez tenha sido em 2011? Mas o atropelamento do Barcelona de Guardiola na final mostra que aquele Manchester United não estava em um nível tão alto. Possivelmente o segundo melhor time daquele ano era o Real Madrid de Mourinho, eliminado pelo Barça na semi.

Enfim, quanto mais voltamos no tempo, mais vamos chegando a tempos em que equipes não eram super seleções, como hoje. E fica mais difícil achar a situação em que os melhores do ano estavam na final.

No sábado, 20 de maio, foi o aniversário de 19 anos da final de 1998, entre Juve e Real. Aquele Real Madrid acabou em quarto lugar a Liga espanhola, mas venceu por 1 a 0 a decisão contra uma Juve bicampeã italiana e que estava em sua terceira final europeia seguida. Naquela final, havia um favorito. Que perdeu, por sinal.

Mas não falávamos dos dois melhores da Europa, o Real Madrid não era nem o melhor da Espanha.

Hoje, como negar que a final será um tira-teima?

A Juventus construiu um domínio nunca antes visto na Itália. É o primeiro time hexacampeão da história da Série A e o primeiro a ganhar três vezes seguidas a Copa da Itália (conquistada na última quarta, 2 a 0 na final sobre a Lazio). Em casa, a Juve ganhou 18 jogos e empatou 1 no campeonato. Não perde desde setembro de 2015 um jogo em seu estádio.

Tudo isso ancorada com uma base defensiva ultrasólida, jogadores que atuam juntos há muito tempo. Buffon, Chiellini, Bonucci, Barazagli. Ganhou um campeão com Daniel Alves. Outro em Mandzukic. Jogadores de espírito competitivo e história. História que querem construir personagens sedentos e decisivos, como Higuaín e Dybala. É um time equilibrado e que sabe jogar de várias maneiras diferentes.

E o Real Madrid, depois de um título espanhol em oito anos, consegue retomar a hegemonia doméstica. O último título tinha sido em 2012, com Mourinho. É verdade que perdeu para o Barcelona em casa no mês passado. Mas aquilo foi coisa de Messi. Não dá para contestar a campanha madridista.

Zidane teve coragem, colocou times mistos em várias partidas fora de casa e conseguiu ter os titulares inteiros fisicamente para a reta final, quando não havia margem para tropeços. É verdade que em muitos momentos o time parecia não saber bem a que jogava, ganhou muitos pontos na marra, nos minutos finais, nas bolas levantadas na área.

Mas a lesão de Bale e a consequente entrada de Isco no time equilibrou tudo. O Real Madrid passou a depender menos de bolas aéreas, passou a ter mais a bola nos pés, a fazer valer a qualidade de seu meio de campo. O time fez pelo menos um gol em TODOS os jogos da temporada. Já são 64 consecutivos.

A Internazionale, em 2010, foi o único time italiano a conseguir a tríplice coroa na história. A Juventus, campeã da Série A e da Copa, pode repetir o feito. Para isso, precisa quebrar o jejum de 21 anos sem conquistar a Europa.

O Real Madrid nunca conquistou a tríplice coroa. Os 11 títulos europeus só vieram acompanhados de título espanhol duas vezes. Em 1957 e 1958. O time de Zidane tenta quebrar um tabu de 59 anos, portanto. Não é pouca coisa.

Um dos dois fará história com H maiúsculo. Precisamos dessa final para saber quem é o melhor. Chega logo, dia 3!

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.