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Julio Gomes

Notórias despedidas na Europa: Calderón, Wenger, Xabi Alonso e Lahm

Julio Gomes

21/05/2017 14h25

O estádio Vicente Calderón já é história. E que história! À beira do rio Manzanares, com uma avenida passando por baixo das tribunas, com uma vista linda da cidade, com grande ambiente, de estádio de futebol de verdade.

O Atlético se despediu de seu estádio vencendo o Athletic Bilbao por 3 a 1. Dois gols de Fernando Torres, el niño, a grande esperança nos anos de vacas magras e que depois voltou em anos muito melhores – que só não foram perfeitos por causa das quatro derrotas seguidas para o Real Madrid em Champions League.

A festa foi maravilhosa. Com gols, aclamação aos velhos ídolos e ao time feminino, campeão nacional.

O Calderón era um estádio ruim para trabalhar, não vou negar. Chato para chegar. A zona mista, nos meus anos lá, pelo menos, era caótica. Ficar no campo era meio arriscado, já caiu radinho de pilha do meu lado. Na tribuna de imprensa, uma escadaria inacabável, chuva no computador… mas a vista da catedral de Almudena e do Palácio Real compensava tudo.

Vai deixar saudades. O Atlético vai jogar do outro lado da cidade, em uma arena dessas ultramodernas. Tomara que não perca o espírito, cada vez mais em falta no futebol-business.

Arsène Wenger é outro que se despede. Talvez do Arsenal, ainda não sabemos. Mas certamente da Champions League, pelo menos por um ano.

Wenger foi o primeiro homem nascido fora das ilhas britânicas a assumir o comando do Arsenal. Isso aconteceu no meio de 1996, há exatos 21 anos. Em sua primeira temporada, o Arsenal acabou em terceiro lugar, mas naquele ano somente os dois primeiros se classificavam para a Champions League.

No ano seguinte, temporada 97/98, o Arsenal conquistou o primeiro de seus três títulos ingleses com Wenger. Nunca ficou fora do G4 e, consequentemente, se classificou 19 vezes seguidas para a máxima competição europeia. Um feito e tanto, ainda mais considerando que no meio disse tudo o clube construiu um estádio novo e não teve tanto dinheiro para contratar, ainda mais se compararmos com clubes milionários controlados por estrangeiros (Chelsea, Manchester City).

Em 2016/2017, o Arsenal acabou pela primeira vez fora dos quatro primeiros na era Wenger. Ficou em quinto, com 75 pontos, mais que os 71 que renderam o vice-campeonato no ano passado. De nada adiantou bater o Everton por 3 a 1 na última rodada da Premier League, já que o Manchester City e o Liverpool venceram seus jogos e acabaram em terceiro e quarto, respectivamente.

Na vitória do Liverpool por 3 a 0 sobre o Middlesbrough, o brasileiro Lucas Leiva entrou a 10 minutos do final e acabou o jogo com a tarja de capitão no braço. Teve toda a pinta de despedida, após 10 anos no clube. Uma carreira de muito respeito. Se algum time brasileiro conseguir trazê-lo, estará fazendo um enorme negócio.

Também na Inglaterra, John Terry se despediu do Chelsea com mais uma vitória e título inglês. Um jogador que nunca teve esse futebol todo que se fala por lá, mas que inegavelmente é um símbolo da era vencedora do Chelsea.

Outros que se despediram, mas do futebol, foram Xabi Alonso e Phillip Lahm, com o fim da temporada do Bayern de Munique – pentacampeão alemão.

Xabi Alonso é um dos jogadores mais subestimados que vimos ao longo das últimas décadas. Enorme participações, dentro e fora de campo, em times históricos: o Liverpool campeão da Europa em 2005, o Real Madrid da Décima em 2014, a Espanha bicampeã europeia e, claro, campeã do mundo em 2010. Sabe demais de futebol, não tenho dúvida que voltará ao cenário europeu em outro cargo logo logo.

Phillip Lahm, o último homem a levantar uma Copa do Mundo, é outro que merece menção. Desafiou a lógica (um baixinho no futebol alemão!), ocupou muitas posições, triunfou com todos os técnicos. Exemplo de atitude e bola.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.