Topo

Julio Gomes

Futebol brasileiro segue moendo técnicos sem dó

Julio Gomes

04/05/2017 23h25

Técnicos são demitidos em muitos países. É normal vermos treinadores caírem também no "primeiro mundo da bola". Mas é surreal o que acontece no Brasil.

O Campeonato Brasileiro nem começou, e vários times já demitiram treinadores. O último, o Palmeiras, que manda Eduardo Baptista embora poucos meses depois de contratá-lo.

O que esperam de um profissional em 3 ou 4 meses de trabalho?

OK, OK. O Palmeiras com Baptista não engrenou. Faz uma primeira fase da Libertadores cheia de emoções, gols no fim, drama. Mas, ainda assim, iria e vai se classificar.

No Paulistão, fez a melhor campanha da primeira fase. Ganhou clássicos. Foi eliminado na semifinal pela Ponte Preta. OK, não estava nos planos. Mas a Ponte é um time de Série A, oras. O Palmeiras ganhou UM Paulistão em 21 anos. Não é exatamente que o campeonato seja uma baba, que o Palmeiras ganhe toda hora.

E o Palmeiras não é o Real Madrid. Sim, bom elenco, bons nomes, mas calma lá. Não existe essa diferença toda que muitos querem ver para outros elencos do Brasil.

Borja e Guerra chegaram de outros países, é necessário tempo. Moisés se machucou, Tchê Tchê se machucou.

Não foi o técnico que foi expulso com 10 minutos de jogo contra o Tucumán na Argentina. Não foi o técnico que perdeu os gols que os caras perderam contra o Peñarol em São Paulo. Não foi o técnico que fez uma besteira atrás da outra contra a Ponte em Campinas.

O que exatamente quem contratou Eduardo Baptista esperava?

"Resultados" seria uma resposta cretina. A temporada mal começou, o mais importante ainda não foi jogado. "Desempenho" seria uma resposta ampla demais. E não se atinge desempenho, mudando um jeito de jogar, da noite para o dia.

O Palmeiras jogava tão bonito assim como Cuca no Brasileiro? Não, não jogava. Arrancou os resultados, foi campeão, parabéns. Mas não era um futebol inesquecível, de encher os olhos.

O estilo de Baptista ver futebol é completamente diferente. Entende-se, portanto, que sua contratação devia-se a um desejo de retomar um estilo antigo e histórico do Palmeiras. Se a ideia era seguir no "estilo Cuca", então que fosse contratado outro treinador.

Quem contratou Eduardo Baptista precisava vir a público e explicar algumas coisas. O que exatamente se esperava dele e o profissional não entregou? Quanto a demissão vai custar para os cofres do Palmeiras?

Treinadores, de alguma forma, merecem. São vítimas em muitos casos, mas também se aproveitam. Sabem que uma demissão será sempre seguida de uma contratação. Incapazes de se unir para mudar as coisas. Do outro lado, dirigentes ou atuam como torcedores (o que são, passionais e imediatistas) ou jogam pra torcida (pela própria sobrevivência).

Não é possível que o futebol brasileiro siga funcionando como uma máquina de moer carne. Não é saudável, não é correto com os profissionais, não é correto com as finanças dos clubes. É muito amadorismo.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.