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Julio Gomes

Messi, monstruoso, coloca o clássico no bolso

Julio Gomes

23/04/2017 18h02

Real Madrid e Barcelona fizeram um superclássico digno do apelido que recebe. Um jogo de futebol enorme, com muitas alternativas, muitas jogadas de gol, muitos milagres e um nome próprio: Lionel Messi.

Nitidamente cabisbaixo e desanimado em muitos momentos da temporada, incluindo os últimos jogos, Messi entrou em campo neste domingo para resolver tudo. Para mostrar o gênio que é em um palco onde já brilhou tantas vezes, o estádio do maior inimigo. Agora são 23 gols em 34 jogos na carreira contra o Real, sendo 14 deles no Bernabéu.

Jogou com um papel na boca para estancar o sangue após uma cotovelada involuntária de Marcelo no primeiro tempo. Fez um golaço para empatar a partida. E virou o jogo aos 47min do segundo tempo.

Com a vitória por 3 a 2, a sexta do Barcelona nos últimos nove jogos no Santiago Bernabéu, o time catalão assume a liderança do campeonato. São os mesmos 75 pontos do Real Madrid, mas o Barça tem a vantagem no critério de desempate (que é o confronto direto). Só que o Barça só tem mais cinco jogos a fazer, enquanto o Real jogará mais seis vezes.

Agora a pressão está toda do lado do Real Madrid, que só ganhou uma das últimas oito Ligas domésticas e não é campeão desde 2012, com Mourinho. O Barcelona, que já morreu e renasceu umas três vezes na temporada, tem tudo para ganhar os cinco jogos que restam. O Real, envolvido com semifinal de Champions League, que se vire para fazer mais nos jogos que tem.

Os primeiros 10 minutos do jogo foram todos do Real Madrid. Mas o Barcelona equilibrou quando Messi começou a aparecer. Luís Enrique armou o time em um 4-4-2, com Iniesta ao lado de Busquets no meio e Alcácer, o substituto de Neymar, fechando pela esquerda. Messi e Suárez ficaram livres na frente.

Saiu o gol do Real Madrid, de Casemiro, e logo Messi fez um golaço para empatar. Ter Stegen já fez no primeiro tempo uma defesa fantástica em chute de Cristiano Ronaldo.

E fez outra espetacular em um cabeceio a queima roupa de Benzema no início do segundo tempo, quando o Real Madrid dominava novamente.

Mas, de novo a partir dos 10min, o Barcelona acertou a saída de bola, abriu o campo com as subidas de Sergi Roberto e Alba e voltou a ameaçar. Começou o show de Navas, com grandes defesas, especialmente um chute de Suárez na pequena área e um cabeceio firme de Piqué.

Navas só não alcançou o chute fantástico de Rakitic, sumido na temporada inteira e que apareceu na melhor hora possível para o Barcelona.

Logo depois, Sergio Ramos foi expulso (falarei mais de arbitragem abaixo) e o jogo ficou nas mãos do Barcelona, que passou a ter contra ataques com superioridade numérica. Piqué, o grande inimigo público do Real Madrid, teve uma chance de ouro e voltou a parar em Navas.

Do outro lado, mesmo com um homem a menos, o Real Madrid chegou ao empate em uma bela jogada de Marcelo, o deslocamento e o gol de James Rodríguez, que ia se transformando em herói improvável do campeonato.

Mas Marcelo falhou. O Real Madrid acreditou na virada que daria o título, foi para cima e esqueceu que tinha um a menos em campo. Sergi Roberto recuperou uma bola na defesa e arrancou. Modric tentou parar o jogo com falta, mas não conseguiu. Marcelo nem tentou. Sergi avançou, passou para André Gomes, Alba deu um passe muito bom para Messi, e o argentino colocou no cantinho impossível para Navas.

Isso tudo aos 47 minutos do segundo tempo.

Foi o melhor jogo de futebol do ano e colocou fogo no Campeonato Espanhol.

Por melhores que tenham sido os duelos de mata-mata da Liga dos Campeões até agora, todos os grandes duelos foram marcados por erros importantes de arbitragem.

O superclássico teve algumas polêmicas. Mas, no meu ponto de vista, o trio de arbitragem acertou nos lances capitais.

Ao dar não pênalti em Cristiano Ronaldo no primeiro minuto, em um lance em que o português é acertado por Umtiti, ou melhor, encostado. Acertou ao não considerar que Marcelo agrediu Messi, em um acidente de trabalho em que o cotovelo do brasileiro acabou fazendo o argentino sangrar.

Acertou o bandeira ao não dar impedimento no gol do Real Madrid, em um lance muito difícil, em que um jogador do Barcelona, lá no alto, habilita um mundo de jogadores madridistas na área.

O juiz acertou também ao não expulsar Casemiro ainda no primeiro tempo, em um lance em que o brasileiro fez uma falta em Messi que poderia ser de amarelo – como poderia não ser, prefiro quando árbitros não comprometem tanto o jogo com expulsões tão cedo. Assim como achava que Vidal não deveria ter sido expulso no jogo entre Bayern e Real na terça-feira (vermelho tão pedido pelo madridismo), interpreto a não expulsão de Casemiro da mesma maneira.

E, finalmente, o árbitro acertou ao expulsar Sergio Ramos de forma direta a 15 minutos do final do jogo, quando o capitão do Real deu uma voadora para derrubar Messi. Não acertou o argentino (ainda bem!). Não precisa acertar para ficar configurada a agressão.

Foi um jogo difícil para a arbitragem que, creio, não comprometeu o resultado final. Difícil também será encontrar um jogo melhor que esse.

Talvez o resultado mais justo pelo que fizeram times e goleiros fosse mesmo o 2 a 2.

Mas Messi tem sua própria justiça.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.