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Julio Gomes

Semis da Champions opões melhores ataques contra as melhores defesas

Julio Gomes

21/04/2017 07h56

O sorteio desta sexta-feira definiu os dois duelos de semifinais da Liga dos Campeões da Europa. O Real Madrid recebe o Atlético de Madri em mais um grande dérbi, o quarto consecutivo na Europa, com a definição no estádio Vicente Calderón. Na outra semi, Monaco e Juventus, com segundo jogo da Itália.

Os dois duelos opõem dois dos ataques mais positivos da temporada europeia (Real Madrid e Monaco) contra os dois times de melhor defesa, os mais bem organizados e capazes de machucar o adversário de várias formas diferentes (Atlético e Juventus).

A Juventus é clara favorita contra o Monaco. Se por um lado o time francês tem a grande sensação da temporada europeia, o francês Mbappé, de 18 anos, a Juve tem apenas dois gols sofridos em dez partidas na competição. É um muro a ser derrubado – até agora, ninguém conseguiu.

O Monaco está em uma luta acirrada contra o PSG pelo título francês, que não conquista desde o ano 2000, e tem um duelo direto contra o mesmo rival no meio da semana que vem pela semifinal da Copa da França. É uma maratona de jogos pesados, e maratonas costumam deixar "vítimas" pelo caminho (lesionados, jogadores esgotados).

Já a Juventus está com o inédito hexacampeonato italiano em mãos (oito pontos de vantagem para a Roma), e a final da Copa da Itália, contra a Lazio, será só em junho. Pode tranquilamente administrar jogadores e focar totalmente na Champions – o segundo e último título máximo europeu da Juve foi conquistado em 1996, com quatro finais perdidas desde então.

O histórico entre os times tem dois confrontos em mata-mata. A Juventus superou o Monaco nas semifinais de 98 e nas quartas de final de 2015, vencendo em casa e administrando na volta – perderia as duas decisões posteriormente para Real Madrid e Barcelona.

Na temporada inteira, a Juventus tomou 30 gols em 47 jogos oficiais. Com Buffon, Chiellini e Bonucci, tem uma defesa sólida, experiente e entrosada. No ataque, a sensação argentina Dybala e o goleador Higuaín. É um timaço.

O Monaco, por sua vez, sofre muitos gols. Mas marcou 141 em 54 jogos oficiais. Só nas oitavas e quartas da Champions, contra Manchester City e Dortmund, foram 12 gols marcados em 4 jogos (e 9 sofridos). É um time que joga e deixa jogar, completamente diferente da equipe italiana.

A Juventus fará um plano de jogo para conter a agressividade do Monaco e se aproveitar das falhas defensivas. Ela é capaz de fazer isso? Bem, ficou dois jogos sem tomar um gol sequer do Barcelona de Messi, Suárez e Neymar. É plausível acreditar que conseguirá repetir a dose e chegar a mais uma final europeia.

O Real Madrid fez os mesmos 141 gols que o Monaco na temporada, mas em 50 jogos – anotou pelo menos um gol em todos os jogos que fez. O Barcelona fez 143 gols oficiais, 2 a mais que Real e Monaco, mas alternou goleadas com jogos em branco, foi um ataque menos consistente ao longo da temporada.

Curiosamente, o Real Madrid sofreu os mesmos 61 gols que o Monaco – é bastante vazado. Já o Atlético de Madri tem um perfil de gols parecido com o a Juventus, tendo sofrido 38 em 50 jogos.

O Atlético sempre foi o saco de pancadas do Real Madrid. Quando Zidane, hoje técnico, jogava, os dérbis eram favas contadas. Mas tudo mudou com a chegada de Simeone ao Atlético, no final de 2011.

Nos 21 dérbis anteriores a Simeone, foram 16 vitórias do Real e 5 empates. Desde que o argentino assumiu o Atlético, foram 22 dérbis: 8 vitórias do Real, 7 do Atlético e 7 empates. Uma história completamente diferente. No Santiago Bernabéu, onde será o primeiro jogo, Simeone ganhou quatro vezes e perdeu três em dez partidas.

Mas, é bom ressaltar, foi o Real Madrid quem riu por últimos nas últimas três Ligas dos Campeões da Europa. Sempre com equilíbrio e sofrimento.

Na final de 2014, em Lisboa, o Atlético vencia sua primeira Champions até os acréscimos do segundo tempo, quando Sergio Ramos empatou o jogo de cabeça. Na prorrogação, mais inteiro, o Real passou o carro (4 a 1) e conquistou "La Décima". No ano seguinte, duelo de quartas de final, com 0 a 0 no Calderón e vitória do Real por 1 a 0 no Bernabéu, gol do mexicano Chicharito Hernández aos 43min do segundo tempo. E, no ano passado, final novamente, empate por 1 a 1 e título do Real nos pênaltis.

Cicatrizes são importantes no futebol. As derrotas costumam trazer mais lições do que as vitórias. O Atlético de Madri está babando por este duelo contra o Real Madrid. Não há favorito neste confronto, é 50 a 50.

O Atlético vai precisar conter as bolas aéreas do Real, grande arma do time de Zidane ao longo da temporada. E o Real Madrid vai precisar superar uma eliminatória em que terá a bola e fatalmente ficará exposto em alguns momentos. Os dérbis têm sido encardidos para o Real porque Simeone sabe explorar bem o desconforto do adversário para jogar assim.

O último deles foi pouco tempo atrás, 1 a 1 pela Liga espanhola. E foi isso aqui o que escrevi no blog sobre o jogo.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.