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Julio Gomes

Como Juventus e Barcelona mudaram e ficaram nivelados desde a final de 2015

Julio Gomes

10/04/2017 06h00

O Barça é quase o mesmo, a Juve é outra. Como os times mudaram dois anos após a final da Champions (se enfrentam na terça à tarde pelas quartas de final)

Juventus x Barcelona. As quartas de final da Liga dos Campeões da Europa começam com um dos grandes clássicos do futebol mundial. Camisas que entortam o varal, entidades globalizadas e multimilionárias, jogadores quase todos de seleção, celebridades, estrelas mundiais. Os dois gigantes disputaram, até hoje, oito finais cada um da máxima competição europeia. Mais que eles, só Real Madrid, Milan e Bayern de Munique.

E foi dois anos atrás, em 2015, que Juve e Barça se enfrentam na única final entre eles, em Berlim. O Barcelona venceu por 3 a 1, conquistando seu quinto título europeu – a Juventus tem dois, o último conquistado em 1996.

De dois anos para cá, poucos nomes mudaram no Barcelona – mas a produtividade caiu. Já a Juventus é um time muito parecido na defesa, mas completamente diferente do meio para frente.

A Juve, que já era treinada por Allegri, mantém a sólida base defensiva com Buffon, Lichtsteiner, Barzagli, Bonucci, Chiellini. Aquele time de 2015 tinha, então, um meio de campo com Pirlo, Pogba e Vidal. Os atacantes eram Morata e Tévez.

Pirlo e Tévez foram ganhar dinheiro nos EUA e na China, respectivamente. Pogba foi a peso de ouro para o Manchester United, Vidal é titular do Bayern, Morata voltou ao Real Madrid para esquentar banco.

Hoje, a Juve tem um time com nomes de menos peso, mas que jogam de forma mais solta e agressiva no ataque. Pjanic e Khedira são volantes de muita chegada. Cuadrado é uma opção para espalhar o campo. O croata Mandzukic, centroavantão de toda a vida, se descobriu atuando pelo lado esquerdo e complementando muito bem as movimentações de Dybala e Higuaín, a dupla goleadora argentina.

Um parágrafo à parte para Daniel Alves. Talvez não seja ele, individualmente, a grande diferença entre os times de 2015 e 2017. Mas o fato é que o jogador brasileiro se encaixou na Juventus como poucos esperavam. Talvez joga de lateral, talvez mais avançado, talvez até comece no banco. Mas trouxe experiência, mentalidade ganhadora e, certamente, suas informações sobre o Barcelona não serão desprezadas.

Se para a Juventus Daniel Alves é importante, para o Barcelona a falta que ele fez e faz é vital.

O Barça que entrou em campo na final de 2015 tinha Ter Stegen; Daniel Alves, Piqué, Mascherano e Alba; Busquets, Rakitić e Iniesta, Messi, Suárez e Neymar. Para se ter uma ideia, nove destes jogadores começaram a partida histórica dos 6 a 1 contra o PSG, que colocaram o Barcelona nas quartas.

Estamos falando essencialmente do mesmo time. Só que Daniel Alves nunca foi apenas um lateral direito no clube catalão, com quem quer que fosse o técnico da vez. Ele sempre foi muito mais um atacante pela direita, um jogador essencial para o fluxo de jogo do time, fazendo associações com Xavi, depois Rakitic, sempre com Messi.

A queda de rendimento do Barcelona nesta temporada passa muito por essa perda. A produção de Rakitic despencou, por exemplo, a ponto de passar muitos jogos relegado ao banco de reservas. Foi somente entre os dois jogos contra o PSG, no auge da crise, que o técnico Luis Enrique encontrou uma solução. Linha com três zagueiros atrás e Rafinha atuando aberto pela direita, como fazia Daniel Alves, e espalhando totalmente o campo – já que Neymar abre pela esquerda.

Só que 1) Rafinha se lesionou e está fora da temporada; 2) Sergi Roberto, que deverá ser o substituto e foi o herói anotando o sexto gol no PSG, não tem a mesma qualidade ofensiva; 3) agora todo mundo já conhece o sistema tático que fez o jogo virar.

Contra o Málaga, no fim de semana, o Barcelona voltou a apresentar seus problemas defensivos e de criação de jogo. Voltou a atuar de forma medíocre, o típico jogo que dependia do trio MSN resolvendo tudo na frente. Só que, desta vez, dois dos três deixaram o time na mão: Neymar com uma expulsão infantil, Suárez com uma de suas piores partidas, perdendo gols e tomando decisões equivocadas.

Iniesta está dois anos mais velho e longe da melhor forma, Rakitic sumiu sem Alves, Busquets é um carregador de piano de cauda, Piqué mais tuita do que joga. Aliás, Busquets é desfalque para a partida de ida, e Neymar, Piqué e Rakitic estão pendurados para a volta. Dois anos atrás, Luís Enrique tinha gente como Xavi e Pedro no banco de reservas. Hoje, tem André Gomes e Alcácer. Um oceano.

É claro que não convém duvidar do Barcelona – o PSG que o diga. Mas o fato é que a super "remontada" (com uma ajudaça da arbitragem, sempre é bom lembrar) e o crescimento de Neymar em março mascararam uma temporada para lá de opaca.

É um Barça defensivamente frágil, que tem problemas para criar jogo, sem grandes opções de banco e ultradependente das individualidades na frente.

Já a Juventus, apesar de não ter Pirlo, Pogba ou Tévez, como em 2015, é um time experiente, coeso, rápido, goleador e forte nos bastidores. Um time que em casa não perde há 21 jogos europeus (quatro anos). Contra espanhóis, só perdeu 2 de 23 jogos em casa na história das competições europeias. Uma Juve que não precisará jogar todas as fichas em um jogo só, pois desta vez o duelo é em ida e volta.

Se o Barça levar um ferro daqueles no Juventus Stadium, uma nova remontada seria muito mais complicada contra um time cascudo como este da Juve. O duelo de 2017 não tem pinta de revanche, até pelas grandes diferenças que citei na Juve.

Mas tem pinta, sim, de um confronto entre times muito mais nivelados agora do que eram antes.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.