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Julio Gomes

Barcelona muda e atropela. Conseguirá operar o milagre europeu?

Julio Gomes

04/03/2017 18h45

O Barcelona fez um de seus melhores jogos na temporada neste sábado, no Camp Nou. Goleou o bom time do Celta de Vigo por 5 a 0, sem tomar conhecimento do adversário, e chega embalado e empolgado para o duelo de oitavas de final da Liga dos Campeões da Europa, quarta-feira, contra o Paris Saint-Germain.

Sempre é bom lembrar, no jogo de ida, em Paris, o Barça levou um sonoro 4 a 0. Nunca, na história das competições europeias, um 4 a 0 foi revertido na partida de volta.

Contra o Celta, o Barcelona mostrou sua melhor versão. Messi está voando, Neymar fez uma grande partida.

No auge da crise, o técnico Luís Enrique mudou a formação tática do time. Com a bola, Rafinha abre o campo pela direita, assim como Neymar faz pela esquerda. É uma tentativa de espalhar a defesa adversária e dar espaço a Messi, assim como era feito nos anos de sucesso com Daniel Alves no time.

Sergi Roberto afunila para formar um trio no meio com Busquets e Rakitic, e os dois zagueiros formam uma linha de três junto com o lateral Alba atrás. Sem a bola, Rafinha recompõe pelo meio e Sergi Roberto vira lateral direito, tendo menos terreno para recuperar. Assim, o time deixa de oferecer o corredor que ofereceu ao PSG na ida.

Depois da humilhação de Paris, o Barça quase tropeçou em casa contra o fraco Leganés – Messi salvou no último suspiro. Era o auge da crise, das críticas a Luís Enrique, à falta de criação do time, absolutamente dependente das genialidades do trio de frente.

No fim de semana passado, a nova forma de jogar foi colocada em prática. A vitória suada – e até mesmo pouco merecida – contra o Atlético de Madri foi um divisor de águas. Depois disso, o técnico anunciou que não renovará o contrato ao final de temporada, o que eliminou uma nuvem que pairava no noticiário do clube.

Luís Enrique não vai mais ficar. Então, não é necessário mais ficar falando dele, seja para massacrá-lo ou defendê-lo. O cara ganhou oito de dez títulos possíveis em duas temporadas. Na Catalunha, decidiu-se: vamos deixá-lo trabalhar nesses meses finais.

Em campo, o time fez 6 a 1 no Sporting Gijón e, hoje, 5 a 0 no Celta. Adversários fracos? Bem, o Celta havia vencido o Barça por 4 a 3 em Vigo, no jogo do turno, e eliminou o Real Madrid da Copa do Rei, com direito a vitória no Bernabéu, em janeiro.

Em nenhum momento da temporada atual o Barcelona havia feito 11 gols em dois jogos seguidos da Liga espanhola – no campeonato passado, só aconteceu uma vez. Fazer 11 gols em dois jogos é um feito raro até mesmo para o Barça de Messi, Suárez e Neymar.

Logicamente, os "vilões" de sempre seriam os únicos candidatos capazes de reverter um 4 a 0. Real Madrid, Bayern de Munique e Barcelona.

O PSG sabe disso. Desde os 4 a 0, baixou um pouco o ritmo, mas continuou ganhando jogos na França. É um time que segue embalado e que fará um plano de jogo para conseguir um gol no contra ataque e obrigar o Barcelona a fazer seis.

É muito diferente acontecer um 4 a 0 e "ter de" acontecer um 4 a 0. Um time que pode perder por até três gols não tem necessidade de buscar resultado, se abrir, ficar exposto. E o PSG tem um técnico, Unai Emery, que perdeu todas as vezes que foi ao Camp Nou. Mas que, de bobo, não tem nada.

A história do jogo sonhada pelo torcedor do Barcelona é aquele massacre inicial, um gol no começo, um segundo gol antes do intervalo, um terceiro em qualquer momento do segundo tempo e pandemônio final em busca do quarto. A história do jogo sonhada pelo PSG é acertar um contra ataque mortal com 0 a 0 ou mesmo 1 a 0 ou 2 a 0 contra. Seria uma ducha de água fria, fim de papo.

Em 2013, o Barcelona levou 2 a 0 do Milan nas oitavas de final. Na volta, ganhou por 4 a 0. Mesmo naquele jogo, contra um Milan que já não era grandes coisas, o time italiano perdeu um gol feito quando o jogo estava 1 a 0 para o Barça. Poderia ter sido mortal.

É difícil imaginar que o PSG, com jogadores como Di María, Draexler e Cavani, não encaixe um contra ataque bem encaixado. Ao Barcelona, mais do que fazer gols, será necessário ter muita sorte. Enquanto há vida, há esperança. E a esperança foi reforçada com as três vitórias dos últimos sete dias.

Na história europeia, houve três casos de times que reverteram em casa derrotas por quatro gols de diferença. O último foi o Real Madrid das grandes remontadas, em 1986. Levou 5 a 1 do Borussia Moenchengladbach na Alemanha, fez 4 a 0 no Bernabéu e avançou na extinta Copa da Uefa.

A virada sensacional mais recente foi a do La Coruña, nas quartas de final da Champions de 2004. Levou 4 a 1 do todo poderoso Milan, que era detentor do título europeu. Fez 4 a 0 na volta, em Coruña – para depois ser eliminado pelo Porto de Mourinho na semifinal.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.