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Julio Gomes

Barcelona reencontra bom e velho freguês na Champions

Julio Gomes

14/02/2017 09h56

Unai Emery chegou ao Paris-Saint Germain no meio do ano passado para elevar o clube a outro nível. Por isso, leia-se: ganhar de algum gigante, superar a barreira das quartas de final na Liga dos Campeões da Europa. O problema para Emery é que o desafio passa por seus dois maiores pesadelos.

Um tal Barcelona. Um tal Lionel Messi.

O técnico basco se destacou já aos 35 anos de idade, com um campanha magnífica pelo minúsculo Almería (Felipe Melo e o goleiro Diego Alves jogavam lá). Foi para o Valencia, onde ficou quatro temporadas. Em tempos de domínio de recordes de Barça e Real (os anos de Guardiola e Mourinho), Emery levou o Valencia a três terceiros lugares na Espanha. Era o que dava para fazer. Depois de uma rápida e frustrada passagem pelo Spartak Moscou, chegou a Sevilha no meio da temporada 12/13. Em três temporadas e meia, levantou três vezes a taça da Europa League. Um feito.

Durante esses anos todos, Emery enfrentou o Barcelona 23 vezes: ganhou uma, empatou seis, perdeu 16 vezes. Saiu derrotado das 11 visitas que fez ao Camp Nou. Caiu nas finais da Supercopa da Europa (2015) e da Copa do Rei (2016) na prorrogação. Foi conseguir a primeira vitória somente na 21a partida, um Sevilla 2 x 1 Barça, no fim de 2015. Nestes anos todos, levou 25 gols de Messi – que, por sinal, não jogou nessa única vitória de Emery, em Sevilha.

Ufa.

Isso que é freguês de carteirinha!

messi_emery

O que isso quer dizer, no entanto? Adoramos números e identificar quando alguém sempre ganha ou sempre perde em determinada situação. Tendemos a achar que as coisas acontecem sempre da mesma maneira, em looping. No futebol, são assim… até a hora em que não são mais. Como diria o filósofo, tabus estão aí para serem quebrados.

Das quatro eliminações consecutivas do PSG nas quartas, duas foram para o Barça (2013 e 2015). Quando disputaram a final da extinta Recopa, em 97, também deu Barça (Ronaldo, Guardiola, Luis Enrique, Figo, era aquele time contra o de Leonardo e Ricardo Gomes). Chegou a hora de quebrar o tabu?

Emery nunca enfrentou o Barcelona com um time tão bom quanto o que tem em mãos no momento. E, como destacou o próprio técnico rival, Luis Enrique, se toda essa freguesia serviu para algo é o fato de Emery conhecer muito bem o Barça, seus pontos fortes e fracos.

O grande desafio é parar Messi e Suárez. O Barcelona não faz uma temporada brilhante coletivamente. Mas, individualmente, os caras estão resolvendo tudo. Suárez tem 25 gols na temporada, sendo 18 deles em 20 jogos da liga doméstica. A artilharia é dele. Messi fez 17 no Espanhol e nada menos do que 10 gols na fase de grupos da Champions. São 32 gols em 32 jogos na temporada.

Suárez fez gols em 70 dos 128 jogos que fez com a camisa do Barça nestes dois anos e meio. Nestes 70, o time ganhou 65 e empatou 5. Ou seja, se o uruguaio marca, o Barça não perde.

Se não bastassem os dois, ainda tem Neymar. Um coadjuvante de luxo.

O problema do Barça definitivamente não é o ataque. Mas, sim, a dificuldade em fazer a bola chegar lá. Daniel Alves tinha um papel crucial na construção, faz mais falta do que se imaginava. Iniesta ficou machucado a maior parte da temporada e até Busquets perdeu jogos. A fluência foi afetada duramente.

Ainda assim, é difícil imaginar o PSG não levando um gol sequer do Barcelona. Ainda mais com o desfalque de última hora de Thiago Silva.

O que resta fazer? Marcar mais gols.

Para isso, o PSG tem Cavani, 33 gols em 31 jogos na temporada. Um monstro no ataque, que nos faz pensar se o PSG perdeu muito tempo confiando em Ibrahimovic – pode ser craque, gênio, até, mas nunca triunfou na hora da verdade das Champions que disputou.

Com a chegada de Draexler e Lucas Moura se firmando, tem sobrado o banco para Di María. E o argentino tem mostrado poder de reação, se incomodou, vem jogando melhor. O meio de campo é talentoso, apesar da Verrati-dependência.

Unai Emery disse que o jogo será decidido taticamente e nas batalhas individuais.

Ele tem certa razão. Erros grandes demais serão catastróficos para quem cometê-los. E os atacantes do PSG são capazes de expor a defesa do Barça, que não terá Mascherano.

O PSG deve pressionar muito a claudicante saída de bola do Barça, Lucas, Draexler e os meias são ótimos fazendo isso. A chave é não deixar algum lançamento encontrar Messi e/ou Suárez e/ou Neymar em situação de um contra um (ou contra poucos).

O fato é que, com Emery, apesar do início de temporada instável, o PSG é um time mais coeso, mais forte. Mas ainda não mostrou se conseguirá dar o grande salto.

Será que a freguesia vai falar mais alto?

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.