Gabriel Jesus na Europa estará mais para Neymar ou Gabigol?
Em uma análise do respeitado jornal inglês "The Guardian", ainda em agosto, a contratação de Gabriel Jesus pelo Manchester City foi comparada à chegada de Mirandinha ao Newcastle, em 1987. Lembram dele?
Dez anos antes de Gabriel Jesus NASCER, chegava o primeiro jogador brasileiro ao futebol inglês. A comparação, claro, só se deu porque Mirandinha vinha do Palmeiras, assim como Gabriel.
Mais vale especular se o novo garoto prodígio do futebol brasileiro terá um impacto parecido com o de Neymar ou com o de Gabigol na Europa. Ambos talentosos, jovens, que despertaram muito interesse e verdadeiras batalhas extra-campo de grandes clubes europeus por eles.
Neymar não chegou para ser o salvador da pátria. Chegou ao Barcelona de Messi. Um clube que tentava se acertar após a era Guardiola e a infelicidade de Tito Vilanova, que vivia a transição para um futebol mais "comum", como o que joga hoje. Ainda assim, um clube campioníssimo, forte.
Quando Messi faltou, Neymar não deixou a peteca cair – é verdade que ter Suárez ao lado ajuda um tanto. Se nunca ameaçou o reinado do argentino, Neymar ganhou protagonismo, foi importante em temporadas vitoriosas e é claramente o futuro do clube. Ninguém duvida de Neymar em Barcelona.
Gabigol, por outro lado, vive situação inversa. Foi para a Inter de Milão (péssima escolha), ganhou poucos minutos até agora e vai ter de ganhar a vida em uma liga, a italiana, difícil demais para atacantes. Ainda mais para jogadores com as características que ele tem.
Talvez alguém tenha comprado o discurso de "novo Neymar", discurso que eu nunca engoli. Dá para perdoar. As fornadas costumam ser boas na Baixada Santista.
Os "Gabrieis" acabaram tendo a chance de, ao lado de Neymar, conquistar a sonhada medalha de ouro olímpica. Mas aí chegou Tite na seleção principal e os destinos foram traçados de forma distinta: enquanto um virou titular, o outro perdeu espaço.
Gabigol tem uma carreira de respeito na base, tem dois títulos paulistas no curriculum, chegou ao time principal do Santos aos 16 anos. Mas parece, à distância, ter aquela mentalidade comum entre os jovens jogadores brasileiros com mídia em excesso. Achar que tem um futebol muito maior do que verdadeiramente tem. Há campo para evolução, sem dúvida. Batalhar para triunfar em um clube difícil, em território hostil, como a Itália, talvez fosse mais louvável do que voltar logo para o Brasil (infelizmente, já começam a surgir especulações plantadas por empresários).
Gabriel Jesus, por outro lado, mostra muita maturidade. Chega à Europa com um título brasileiro no bolso, destaque em um clube que não ganhava o campeonato havia 22 anos. Não teve uma trajetória tão longa aqui como a de Neymar, poderia ter passado mais alguns anos em um clube grande como o Palmeiras, sendo elogiado e criticado, louvado e xingado. Poderia ter criado mais casca. Perdido e ganhado. Ainda assim, não saiu "sem jogar", como aconteceu com muitos jovens que fizeram a transição sem escalas por nossa combalida elite.
Chega a um Manchester City com muitas interrogações no ar. Guardiola reclama das arbitragens, é criticado nas mesas redondas, começa a ser tratado na Inglaterra com um "bebê chorão". Seu time perdeu tanto terreno para o Chelsea que o título inglês parece missão impossível.
Como Conte também chegou ao Chelsea no meio do ano, fica meio difícil justificar pela "falta de tempo de trabalho" o início claudicante do técnico mais badalado do mundo.
O que fará Guardiola com Gabriel Jesus? Vai jogar logo o menino na fogueira da Premier League ou vai dar tempo ao tempo? Como justificar um hipotético "pouco uso" do atacante diante da crise de resultados? Como ele será usado? Competindo com Aguero para jogar no comando do ataque ou com os "pontas", transformando-se em Douglas Costa-2, "A Missão"?
O grande problema do City de Guardiola não tem sido a falta de gols – nos últimos 14 jogos oficiais, só não marcou em um. Mas, sim, o excesso de cartões vermelhos, erros de saída de bola e gols sofridos – nos últimos 22 jogos, só passou três sem levar pelo menos um gol. O jovem atacante brasileiro não é a solução para o principal buraco de Guardiola no momento.
Gabriel desembarcou nesta terça em Manchester e já se especula que ele possa jogar sexta-feira, pela Copa da Inglaterra. É um jogo secundário para o City. Se ele jogar, já teremos uma ideia do que pretende Guardiola.
Nunca é fácil chegar no meio da temporada, sem dominar o idioma, na liga doméstica mais competitiva do mundo, onde árbitros não protegem talentos e jornalistas preferem gastar tinta criticando atacantes que se jogam do que elogiando os que driblam.
Talvez, para este restante de temporada, a resposta à pergunta proposta por este post seja "nem Neymar, nem Gabigol". Possivelmente Gabriel Jesus tenha muitos minutos, mas sem um impacto imediato. Nem vai ficar encostado, como Gabigol, nem "chegar chegando", como Neymar.
Para os próximos anos, eu apostaria algumas fichas em Jesus como o Gabriel mais importante pelas bandas de lá.
Após uma curta pausa de fim de ano, aqui estamos de volta para debater futebol e esporte em alto nível. Sem histeria, sem interesses escusos ocultos, sem bordões, sem preconceitos. Queremos cada vez mais tratar o futebol como ele merece. E queremos uma sociedade menos agressiva e violenta, física ou verbalmente.
Agradeço muito aos que deixaram comentários construtivos (a maioria!) ao longo do ano passado e sejam todos e todas bem vindos para participar também em 2017. Sempre com educação e respeito à opinião do próximo. Não deixem de opinar, concordar, discordar, compartilhar o que vocês leem por aqui. Não deixem de acompanhar o melhor noticiário aqui nas páginas do UOL Esporte.
Aproveitem para me seguir também no Twitter e no Facebook. É só clicar nos links. E um feliz ano novo para todos nós!
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.