Rosberg e o título de quem não topou ser apenas um escudeiro
Quando, de repente, a Mercedes se viu como o melhor carro da F-1 (disparado), todos pensaram que começava ali a "era Lewis Hamilton". Um pilotaço, já campeão em 2008, e com um companheiro de equipe com toda a pinta de ser o futuro-escudeiro-número-dois-que-não-incomodaria.
No primeiro ano, Hamilton ganhou 11 corridas contra 5 de Rosberg. Levou o campeonato com 67 pontos de vantagem. No segundo ano, domínio parecido. Hamilton ganhou 10 corridas contra 6 de Rosberg – sendo que o alemão venceu as últimas três, com o campeonato já decidido. A vantagem foi de 59 pontos.
Mas Rosberg não aceitou. Se recusou a aceitar. No fim do ano passado, com as três vitórias acima citadas para encerrar o campeonato, já se preparava para mostrar que não estava disposto a se resignar com algumas vitórias, algumas disputas, alguns vices.
No Brasil, vimos os tais "escudeiros" com olhos diferentes. Gerhard Berger era louvado, pois não enchia a paciência de Ayrton Senna. Mas Rubens Barrichello e Felipe Massa foram desprezados por não terem acompanhado (e muitas vezes terem trabalhado para) Michael Schumacher e Fernando Alonso na Ferrari. A história teve também Riccardo Patrese, o número dois de Nigel Mansell. Mark Webber, o número dois de Sebastian Vettel.
Rosberg se recusou a ser como esses caras. Caras que, não tenho dúvidas, nunca quiseram ser apenas escudeiros. Nunca quiseram ser o segundo melhor. Mas não conseguiram mudar essa história e, em algum momento, sucumbiram à situação.
Rosberg não sucumbiu.
Começou o ano ganhando quatro corridas seguidas. E depois, quando ganhou apenas uma de oito, vendo Hamilton ganhar seis corridas e tomar a liderança do Mundial, tinha tudo para desmoronar. Resignar-se. Mas não. Simplesmente não.
Rosberg passou as férias do verão europeu ouvindo que "nunca seria". Mas mostrou uma força psicológica que poucos tiveram na história de um esporte como a F-1. Ganhou quatro das cinco corridas pós-férias, retomou a liderança e se colocou em posição de apenas administrar a liderança nas quatro corridas finais.
Nos Emirados Árabes Unidos, na última corrida, viu Hamilton adotar uma honesta estratégia de ser lento. Deixar as Ferraris e Red Bulls terem a chance de tirar Rosberg do pódio. Não jogou o carro para cima de ninguém, não freou forçando acidente, não colocou a vida de ninguém em risco. A Mercedes não gostou, Rosberg não gostou, mas não vejo como Hamilton possa ser criticado. Perdeu de pé. E ainda pode se gabar de ter vencido mais corridas no ano.
Rosberg teve muita coragem de fazer uma ultrapassagem de alto risco contra o jovem e arrojado Max Verstappen. Segurou Vettel nas voltas finais. Fez uma corridaça, em função da estratégia de Hamilton.
E conquistou o título. Título que também conquistaram outros pilotos que não ficarão para a história com um dos dez melhores de todos os tempos, gente como Jenson Button, Damon Hill, Jacques Villeneuve. Título "solto" que poderia ter caído para o lado de Massa ou Barrichello, mas não caiu. Paciência.
Não sei se Rosberg se aposentará "somente" com esse título, pois a F-1 deve mudar no ano que vem e o domínio da Mercedes não será tão brutal como nestas três temporadas. Mas o fato é que, ao contrário de outros, ele se recusou a ser um número dois. E conseguiu! Palmas para Rosberguinho.
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