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Julio Gomes

Posse de bola? City vira sobre o Barça em festival de contra golpes

Julio Gomes

01/11/2016 19h51

Guardiola x Barcelona. Jogo fundamentado em posse de bola, passe para o lado, à espera pelo pequeno espaço para chegar ao gol, certo? Errado. A vitória do Manchester City sobre o Barcelona, pela Champions League, foi uma mostra de como o futebol já se re-transformou nos últimos anos.

A posse de bola é objetivo de quase todos os times top de linha. O futebol já mudou, pós-Barça e Guardiola, na busca por jogadores técnicos, que saibam jogar, que busquem qualidade no passe e saída de bola em todas as linhas (não necessariamente fortes, altos e físicos). No entanto, a posse como tática de defesa (se eu tenho a bola, meu adversário não a tem) já está virando coisa do passado antes mesmo de ser a do futuro.

A grande herança da era Barça-Guardiola é, na verdade, a pressão exercida por todos os jogadores e em todas as partes do campo.

Tal pressão tem gerado roubos de bola e tem sido seguida não de "reconstrução de jogo", mas, sim, de transição rapidíssima para chegar ao gol. É o tal contra ataque, com nomes novos e menos metros a serem percorridos, porque a recuperação de bola é feita mais à frente.

No jogo de duas semanas atrás, os erros de passe do City no campo defensivo geraram um festival de Messi e goleada do Barça no Camp Nou. Guardiola passou seis jogos sem vencer pela primeira vez na carreira. Mas parece ter percebido (lógico que percebeu) que os erros de passe estavam sendo o grande buraco de sua gestão. É difícil mudar culturas futebolísticas, isso não acontece em semanas e, sim, em anos.

Nesta terça, em Manchester, a TV chegou a flagrar Guardiola pedindo para sua defesa se livrar da bola quando pressionada. Oras. Óbvio, não? Melhor um bico para frente do que perder a bola para Messi, Suárez ou Neymar.

Ainda assim, foi em um contra ataque de livro que o Barça chegou ao primeiro gol. Não saiu de um erro de passe do City e, sim, de um escanteio. Messi, Neymar, Messi, gol. O new Barça, de Luis Enrique, dos contra ataques absurdamente mortais, mostrou novamente que ninguém faz isso melhor no mundo.

Quando parecia que o City afundaria, chegou o presente. Sergi Roberto, meia-lateral, errou passe no campo de defesa. E aí o City fez o que o Barça fizera no Camp Nou. Roubou, acelerou, passou rápido e chegou ao empate com Gundogan.

O volante-meia alemão é um desses jogadores totais de hoje em dia, que marcam, ocupam espaços, atacam, finalizam. O City jogou com uma formação diferente da do Camp Nou, com uma linha de quatro, Fernandinho atrás, Aguero à frente. Aguero é quem se aproveita do passe errado de Sergi Roberto, o lance que mudou o duelo. Roubou, abriu para Sterling, cruzamento, Gundogan e gol.

Aguero, barrado no Camp Nou e em outras partidas, foi um dos nomes do jogo. Assim como De Bruyne, outro que andava devendo. No segundo tempo, o City voltou muito mais ligado, sem qualquer ideia de diminuir o ritmo do jogo. Pelo contrário. A ideia era deixar a bola para um Barcelona sem Iniesta e sem alguns de seus iniciadores de jogadas lá da defesa (Piqué e Alba). E o plano deu certo.

Com seguidos roubos de bola e transições rápidas, o City virou um festival para cima do Barcelona. Sabe de marketing, o tal do Guardiola. Virou o jogo e teve chances para mais. O Barça teve chance de empate com 2-1 abaixo em um contra ataque (como não?) puxado por Suárez, mas André Gomes, livre na área, bateu no travessão (Iniesta não tem a mídia dos outros, mas faz falta).

Em algum momento da rodada, o City perdia, ficava com 4 pontos e via o Borussia Moenchengladbach ir a 6. Iria ficar contra a parede no grupo. No fim, o time alemão bobeou e cedeu empate em casa ao Celtic. Então o grupo se normaliza.

Barça com 9, City com 7, Gladbach com 4, Celtic com 2. O Barça, pela vitória maior no confronto direto com o City, pode acabar empatado com o time de Guardiola para ser primeiro do grupo. Então basta um empate e uma vitória, jogando contra o Celtic fora e o Gladbach em casa. Vai ser o primeiro. Para o City, no entanto, se classificar em segundo e tendo vencido o Barcelona nesta terça, é lucro.

Mesmo que perca na Alemanha na próxima rodada (desde que por menos de 4 a 0, que foi o placar entre eles em Manchester), ao City bastará vitória em casa sobre o Celtic para se classificar.

Outro grupos e golaços

Favoritos não tiveram vida fácil. Arsenal, PSG, Bayern de Munique e Atlético de Madri ganharam ou de virada ou com gols nos minutos derradeiros.

A rodada foi marcada por gols espetaculares.

O Atlético achou um gol nos acréscimo de Griezmann para sair com uma vitória suada contra o Rostov. O francês havia feito um golaço acrobático para abrir o placar, mas os russos empataram e venderam caro a derrota. Com o resultado, o Atlético mantém três pontos de vantagem para o Bayern. A primeira colocação do grupo será disputada em Munique na última rodada, e o Atlético jogará por um empate independente do que aconteça na próxima rodada.

O Bayern também suou para vencer o PSV em Eindhoven, de virada, por 2 a 1. É verdade que o gol do PSV saiu em impedimento. A partir daí, foi um show de Lewandovski, que fez dois e ainda quase marcou um golaço, que acertou no travessão. Douglas Costa, que perdeu espaço com Ancelotti, entrou no lugar de Robben e foi importante para o Bayern. Foi dele o ótimo passe que quebrou a defesa e permitiu a Alaba fazer o cruzamento do gol da virada.

Outro brasileiro que jogou bem foi Lucas, em um sistema 4-3-3 do PSG em que Emery volta a atuar como Blanc fazia no time francês. O PSG jogou bem na Suíça, criou chances, mas só venceu o Basel por 2 a 1 com uma pintura do lateral Meunier aos 45 do segundo tempo. Após um cruzamento da esquerda, ele pegou de rosca, sem pulo, de fora da área. Um golaço que permite ao PSG seguir perseguindo o Arsenal no grupo.

Por falar em pintura, Ozil fez o gol da temporada até agora para o Arsenal vencer o Ludogorets, na Bulgária, por 3 a 2. Os ingleses perdiam por 2 a 0 e empataram ainda no primeiro tempo. Aos 43 do segundo, Ozil mostrou toda a calma do mundo em contra ataque para chapelar o goleiro, deixar dois zagueiros no chão e marcar. Um gol antológico do alemão, que certamente será finalista do prêmio Puskas.

Arsenal e PSG já estão classificados com 10 pontos. Na próxima rodada, se enfrentam em Londres. Quem vencer o jogo garantirá a primeira posição do grupo. Empate sem gols deixa o Arsenal dependendo apenas de uma vitória na última rodada (na Basileia). Empate por 1 a 1 (repetindo o de Paris) fará o grupo ser decidido no saldo. O Arsenal tem três gols a mais de saldo, mas o PSG pega o Ludogorets em casa na última rodada. Empate por dois gols ou mais deixa o PSG virtualmente como primeiro colocado. É o grande jogo da próxima rodada.

Finalmente, no grupo B o Benfica ganhou do Dynamo Kiev por 1 a 0, e Besiktas e Napoli ficaram no 1 a 1. Napoli e Benfica têm 7 pontos, o Besiktas tem 6 e o Dynamo, com 1, está fora. O Napoli tem a obrigação de vencer os ucranianos em casa na próxima rodada para ficar perto da vaga.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.