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Julio Gomes

Manchester United massacra. Leicester virou abóbora

Julio Gomes

24/09/2016 10h25

E o Leicester já virou abóbora.

Normal, nenhum problema nisso. Um ano atrás (ou dois ou dez), se o Manchester United fizesse quatro gols no primeiro tempo contra o Leicester em um jogo de sexta rodada, poucos queixos ficariam caídos.

Desta vez, alguns ficaram. Afinal, é o atual campeão inglês contra um clube que ainda não acertou o rumo desde a aposentadoria do lendário técnico Alex Ferguson. Foram três anos fora das três primeiras posições na Premier – após 22 anos consecutivos sempre entre os três.

O jogo deste sábado passou aquela impressão de "coisas voltando ao devido lugar". Com Rooney no banco (vem polêmica aí) e dois volantes que são meias e fazem o jogo fluir (Pogba e Ander Herrera), o United de Mourinho mostrou um jogo dinâmico, veloz. Construiu naturalmente a goleada, com alguma contribuição do Leicester nas bolas paradas.

No segundo tempo, com o jogo resolvido pelos quatro gols no primeiro, o United diminuiu a intensidade.

Na atual temporada, além dos 4 a 1 deste sábado, o Leicester já levou 4 a 1 do Liverpool e foi eliminado pelo Chelsea na Copa da Liga (levando quatro). Na pré-temporada, já havia levado quatro do PSG e do Barcelona. Coisas em seus devidos lugares.

Parece claro que o sistema defensivo está sofrendo. Terá sido pela saída do volante Kanté? Nada é tão simples.

Simples foi para Kanté ir para um clube maior, o Chelsea. Seus ex-colegas Vardy e Mahrez foram sondados por grandes da Europa e resolveram ficar, renovaram até 2020. Na minha visão, erro clássico. As histórias de Cinderela não se repetem. Se a vida financeira deles ficou resolvida, a vida esportiva pode ficar em segundo plano. Cada um sabe onde o calo aperta e a real qualidade que tem, mas eles erraram feio se acharam que o Leicester passaria a ser um clube de elite, a disputar títulos todos os anos. Se ficarem mesmo até 2020, possivelmente jogarão quatro temporadas evitando rebaixamentos.

O Leicester lembra muito aquele São Caetano de outrora. Jogadores que não saíram perderam uma grande chance de defender camisas pesadas do futebol brasileiro. Diferente do que fez o São Caetano em 2002, no entanto, o Leicester não chegará à final de "sua" Libertadores – até que o grupo fácil deixará o Leicester disputar as oitavas da Champions League atual, mas difícil ir além.

De qualquer forma, por mais doloroso que seja cair na real, o torcedor do Leicester deve encarar tudo sempre com o copo meio cheio. Em vez de ficar lamentando os 4 a 1, basta lembrar que foi neste mesmo Old Trafford, em maio, que um empate por 1 a 1 deixou o Leicester com o título inacreditável nas mãos – ele viria no dia seguinte, após um empate do Tottenham (malditos pontos corridos).

Ser campeão inglês um ano e depois passar a vida no meio da tabela, às vezes amargando algum rebaixamento? Ou chegar todo ano em terceiro ou quarto lugar, nunca perto do título, mas sempre ali indo à Champions?

Para os donos de clube, sem dúvida a segunda opção é a melhor. E para o torcedor de um Leicester City da vida? Eu fico com a primeira. Tenho certeza que eles não trocariam 2016 por 20 Champions Leagues.

A carruagem virou abóbora. Mas os tempos de carruagem são simplesmente inesquecíveis. A história esportiva mais linda e surreal que já vimos acabou.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.