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Julio Gomes

Janela europeia: ingleses no ataque, Real Madrid quietinho

Julio Gomes

01/09/2016 08h15

Foi-se a Olimpíada, voltamos ao futebol (não comemoro, acho uma pena, mas as coisas são como são). Um dos meus sonhos era ver o Brasileirão ser disputado de janeiro a agosto. Assim, as janelas europeias seriam muito menos dramáticas para nosso principal campeonato.

A de janeiro ainda pegaria o início de temporada. E a que se fecha em agosto pegaria o campeonato acabando. Mas, claro, os dirigentes que tomam conta disso devem estar preocupados com coisas muito mais importantes, não é mesmo?

Até que, no fim, a janela de verão europeu não foi assim tão destruidora para o futebol brasileiro. Sim, peças importantes saíram. O Santos perdeu Gabigol para a Inter de Milão, o Corinthians deu sequência ao desmanche perdendo Elias para o Sporting, o São Paulo já havia perdido Ganso para o Sevilla, o Grêmio havia cedido Giuliano ao Zenit, agora o Atlético Mineiro perde Douglas Santos para o Hamburgo.

 

O Palmeiras, líder do campeonato, consegue segurar Gabriel Jesus até o fim do ano. E, convenhamos, nenhuma das perdas fará um time deixar de ser campeão. Ninguém foi retalhado nos momentos derradeiros da janela de transferências.

E na Europa? O que vimos?

Barcelona e, principalmente, o Real Madrid estiveram tímidos no mercado. É fato que é difícil melhorar elencos como os dos dois superpoderosos, e o mesmo se aplica ao Bayern de Munique. São as três forças destacadas dos últimos anos e continuam sendo nesta temporada.

Me surpreendeu a calma do Real Madrid, dado que o clube ainda corre o risco de ser proibido pela Fifa de atuar nas duas próximas janelas. Trouxe Morata de volta, o que dá sangue novo para o ataque, competição para Benzema e opções de jogo. Recuperou o jovem meia Asensio, que estava emprestado. Mas acabou não monetizando com um (supostamente) insatisfeito James Rodríguez e não conseguiu trazer um meia defensivo para competir com Casemiro. O sonho era Pogba. Não rolou.

Por mais que tenha conquistado a Champions, não vejo o Real Madrid tão completo assim em todas as linhas. Vai ter de remar para recuperar a liga do Barcelona.

Barça, por sua vez, que engordou o elenco, coisa que estava havia tempos precisando fazer. Trouxe o atacante Alcácer e o meia André Gomes do Valencia, o bom volante Suárez, do Villarreal, o lateral Digne, do PSG, e o jovem zagueiro Umtiti, do Lyon. Perdeu Daniel Alves, a baixa mais relevante. Perdeu Bravo, mas confesso que sempre achei Ter Stegen, no mínimo, do mesmo nível do goleiro chileno. E ainda veio o arqueiro Cilesen, do Ajax.

Considerando ainda que Arda Turan estará em sua primeira temporada inteira com o clube e é quase um reforço, o Barça dá mais peso ao elenco para lidar com eventuais imprevistos.

O Atlético de Madri, que na temporada passada foi à final da Champions e deu calor nos grandões na Liga, é um ganhador da janela. Evitou o desmanche, convenceu Simeone a continuar e ainda trouxe o atacante francês Gameiro, uma garantia de gols que chega do Sevilla, o extremo argentino Gaitán, do Benfica, e o lateral croata Vrsaljko. Podemos todos colocar o Atlético como uma força em todas as competições – de novo.

Ainda na Espanha, o Sevilla, que está na Champions e trouxe Jorge Sampaoli, tem um time interessante. Perdeu Gameiro e os meias Banega, para a Inter, e Krychowiak, para o PSG, mas trouxe o francês Nasri por empréstimo do City, Ganso, os bons argentinos Vietto e Kranevitter do Atlético de Madri, entre outros nomes de menos expressão. O Sevilla sempre monta bons times, dentro do seu escopo.

Antes de falarmos dos ingleses, que foram os que mais atacaram o mercado, precisamos passar por três grandes clubes que devem ganhar suas ligas com tranquilidade e, assim, focar as atenções na Champions League.

Unai Emery, muito, muito, muito bom técnico, foi do Sevilla para o PSG. É uma grande notícia para o PSG, que teve, com Laurent Blanc, sucesso doméstico e decisões equivocadas na hora H do torneio continental. É verdade que Ibrahimovic foi embora. Mas o ataque tem gente como Di María, Cavani, Lucas, Pastore, Lavezzi…

O PSG não fez estragos na janela, mas trouxe reforços pontuais, jogadores da "classe média" e que podem ajudar a dar consistência ao elenco. O volante polonês Krychowiak, do Sevilla, o lateral belga Meunier, os atacantes Ben Arfa e Jesé, aquele mesmo do Real Madrid. O ótimo meia Lo Celso, do Rosario Central, chega no meio da temporada. É um PSG fortíssimo.

Como forte é o Bayern de Munique. Aliás, na opinião deste blog, o mais forte. O Bayern trouxe Hummels, um zagueiro espetacular, e Renato Sanches, a joia do Benfica que passou a valer bem mais que os 35 milhões de euros pagos pelo clube alemão depois da campanha vitoriosa de Portugal na Eurocopa. A perda de Gotze, que voltou a Dortmund, não é tão relevante.

Guardiola se foi. Mas chega Carlo Ancelotti, um homem que sabe como poucos conduzir elencos estrelados a títulos europeus. Além de ótimo treinador e gerenciador de pessoas, tem uma estrela de dar inveja. O Bayern fará estragos com Ancelotti e o elenco que tem.

Que o Borussia Dortmund ofereça competição na Bundesliga é algo que só ajudará o Bayern. Além de Gotze e Rode do próprio Bayern, chegaram Schurrle, o lateral português Guerreiro, o zagueiro ex-Barça Bartrá, o atacante Dembélé, do Rennes. Saíram Hummels, Gundogan e Mkhitaryan. Não é pouca coisa, mas será um Borussia forte mesmo assim.

A Juventus movimentou somas incríveis com a venda de Pogba ao Manchester United por 105 milhões de euros e a chegada de Higuaín por outros 90 milhões – as duas maiores transferências do ano. Higuaín substitui Morata à altura. Pjanic veio da Roma para reforçar o meio de campo. O colombiano Cuadrado segue no clube, o zagueiro Benatia chega do Bayern e Daniel Alves veio de graça do Barcelona. Reforço de peso. Se Allegri encaixar as novas peças e com a tranquilidade para ser hexa na Itália, a Juve é outra força europeia de relevância.

Por fim, chegamos aos ingleses. Na Premier League, estão os técnicos mais badalados. Mourinho no United, Guardiola no City, Antonio Conte chegando no Chelsea, além de Klopp, que já estava no Liverpool. Importante lembrar, no entanto, que destes todos somente o Manchester City está na Champions League – Leicester, Tottenham e Arsenal são os outros ingleses na principal competição europeia.

O United de Mou trouxe Pogba, Mkhitaryan, o zagueiro marfinense Bailly, do Villarreal, e, claro, Ibra. Não deve ser um time brilhante ao longo do ano, mas pragmático e vencedor, como sempre acontece quando Mourinho está no comando.

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Guardiola experimenta vida nova em uma liga competitiva como ele nunca viveu. Já tem até polêmica, com a saída de Hart, goleiro histórico do clube, para o Torino por empréstimo. Para Guardiola, ele não sabe jogar com os pés. Veio Bravo, o chileno ex-Barça. Foi o clube que mais gastou. Chegam o zagueiro Stones, do Everton, por 56 milhões de euros, Gundogan e o extremo Sané do futebol alemão, o espanhol Nolito, que fez ótima temporada pelo Celta e foi titular na Eurocopa, além, claro, de Gabriel Jesus em janeiro.

O Chelsea de Conte fez a compra de maior impacto do último dia de janela, repatriando David Luiz. Tem coisas nessa vida que são difíceis de entender. Conseguiu arrancar Kanté, o motorzinho do meio de campo do campeão Leicester, trouxe o lateral espanhol Alonso, ex-Fiorentina, e ainda gastou para trazer o jovem atacante belga Batschuayi, do Olympique de Marselha. Não foi normal a temporada passada para o Chelsea, é time para brigar pelo título inglês.

Do time que fez uma das coisas mais incríveis que já vimos, o Leicester só perdeu Kanté de muito importante. Incorporou Mendy, do Lille, e dois atacantes interessantes: o nigeriano Musa, que era do CSKA, e o argelino Slimani, do Sporting. O Arsenal gastou muito para comprar o suíço Xhaka e o zagueiro alemão Mustafi. Não acredito que estes dois e o Tottenham, que fechou a janela trazendo o francês Sissoko, sejam capazes de interferir na briga pelo título, que ficará restrita a Chelsea e os times de Manchester.

Quem ganhou? Quem perdeu? Aí deixo para vocês opinarem aqui no blog.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.