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Julio Gomes

Que cruéis somos

UOL Esporte

20/08/2016 22h36

O Brasil ganha o ouro no futebol. E os sorrisos demoram uma eternidade para aparecer.

Neymar chora. Micale chora. Renato augusto chora. Douglas Santos chora. Todo mundo chora.

O choro coletivo mostra o quê? Tem a ver com a carga bizarra, pouco humana de pressão que é colocada nesses homens.

Carga que vem da família, da imprensa, dos vizinhos, de todo mundo. Como povo, somos simplesmente cruéis demais com jogadores de futebol.

"Ah, eles recebem milhões para isso".

Bom, primeiro que nem todos recebem milhões. Segundo, quase todos passaram por dificuldades tão grandes na vida que os tais milhões deveriam servir como compensação, não como justificativa para mais pressão.

Se eles ganham milhões é porque pagamos milhões para vê-los. Se hoje muitos são mimados e não sabem perder é pela redoma criada em volta, a falta de estrutura e cultura.

O fato é que se fala tanta bobagem sobre futebol que no fim a "análise" fica em ganhar ou perder. E quando a coisa é assim binaria o "perder" se transforma em algo gigantesco. Pois o "perder" significa que todo o sacrificio feito para ganhar não valeu.

Sabem o que o choro coletivo mostra? Que esses rapazes estavam mais preocupados em não perder do que ganhar. E isso não é saudável.

Thiago Silva foi esculachado porque chorou ao ganhar. E esses medalhistas de ouro? Serão também? Espero que não.

E o que o ouro representa?

Muito para eles. Bacana para gerações futuras, que terão menos pressão. Mas não é sinal de nada.

O futebol é disparado o esporte que mais importa aqui. Sempre seremos fortes. Deveríamos, no entanto, ver o futebol de outra maneira.

Incluindo, preparando os quase jogadores ou jogadores não tão bons para trabalhar com esporte. Usando o amor das crianças pelo futebol para colocá-las em um universo mais amplo. Educá-los. Trazer as mulheres para o esporte.

Enfim, o que se faz na Alemanha.

(Crédito: Reuters)

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.