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Julio Gomes

O que os papelões de Brasil e Argentina no futebol nos mostram

Julio Gomes

10/08/2016 15h28

A Argentina foi eliminada na primeira fase do torneio olímpico de futebol. O Brasil seguirá o mesmo caminho, se não vencer a Dinamarca. Este post independe do resultado desta quarta à noite. O time ainda não conseguiu fazer um gol sequer, após enfrentar África do Sul e Iraque. Já os argentinos ficaram fora por serem incapazes de ganhar de Honduras.

O que isso nos mostra?

Já sabemos há tempos que "não tem mais bobo no futebol". Apenas não levamos a frase a sério. Também já sabemos da importância da parte tática, a organização em campo. Apenas não levamos a sério. Seguimos confiando na técnica, na individualidade.

Brasil e Argentina levaram catados para a Olimpíada. O time argentino era um time D. O brasileiro é um sub-23 com todos os tipos de desfalques. De machucados a não liberados por clubes.

Renato Augusto, tão criticado, seria naturalmente um dos três caras acima de 23 anos convocados? É claro que não. O cara chegou dois dias antes da competição. Não conhece praticamente ninguém – e isso que atua em uma posição crucial no meio de campo. Mas foi dos poucos liberados. Está na China.

As pessoas se enganam pela presença de Neymar. Não é porque tem Neymar que esse time é bom. Ninguém joga sozinho. Muito menos um jogador que acaba de sair das férias e que não tem, por característica, ser um criador que envolva todos os seus companheiros. Neymar é um finalizador. Um falso líder técnico.

Por mais que Micale tenha comandando um time sub-23 em alguns amistosos, percebemos nitidamente que o Brasil não tem um time.

Sim, pode ser que outras seleções tampouco tenham tido a possibilidade de treinar, juntar seus melhores jogadores, etc. Mas, para os que não têm entrosamento, defender é muito mais fácil do que criar jogo. A proposta de Micale é apenas uma proposta. Ela levo tempo para ser consumada. Não será na Rio-2016.

Não estou aqui defendendo ninguém. Apenas analisando à distância e sem tantas emoções. A seleção merece críticas por seu jogo. Mas parece também que estão jogando para cima desses jogadores todas as frustrações acumuladas ao longo de anos. Na vida e nos campos.

Os caras não estão jogando bem. Mas falta de vontade? Não vejo esse desprezo todos que dizem que os futebolistas têm pela Olimpíada ou pela camisa amarela.

Atitude deplorável? De Neymar fora de campo, sem dúvida. Ele virou o monstrinho que Dorival já alertava que viraria. Mas do resto do time?

Será que eles são culpados por serem ricos e os outros esportes serem tão abandonados? Oras, contingências da vida. Velejadores também são ricos. E o pessoal do hipismo então? Há jogadores e atletas humildes, há os que não são. Em todas as modalidades.

Me parece haver um exagero e uma dispersão das críticas. Estão orientadas para alguns fatores que pouco têm a ver.

O papelão está acontecendo e pode aumentar por algo muito mais simples. Futebol é coisa de equipe, não de indivíduos. Catados não ganham campeonatos.

argentina_olimpiada

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.