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Julio Gomes

Que a pira seja acesa pelo maior brasileiro olímpico. Quem é ele ou ela?

Julio Gomes

03/08/2016 06h00

Pelé não sabe se poderá acender a pira olímpica. Não debaterei as questões contratuais do Rei.

Mas uma rápida conversa com amigos me mostrou como é difícil definir qual o maior brasileiro da história das Olimpíadas.

Pelé, definitivamente, não é. E creio que um personagem que não seja do futebol, que nunca rendeu uma medalha de ouro ao Brasil, deveria ser escolhido para acender a pira da Rio-2016.

Quem seria essa pessoa?

Pelé é o maior atleta da história do Brasil. Ayrton Senna, o segundo. Em uma lista de 10 mais, apareceriam vários futebolistas. Mas essa turma toda não tem nada a ver com Olimpíadas. Senna nem vivo está.

O nome de Gustavo Kuerten vem rapidamente à cabeça. Em um esporte "grande" no mundo todo, Guga foi número 1 do mundo. Não brilhou em Sydney-2000, quando vivia o auge, porém. Foi o maior nome de um esporte olímpico que já tivemos, possivelmente. Mas sem fazer algo grande na Olimpíada em si.

Robert Scheidt e Torben Grael são os maiores nomes da história da vela nacional. Mereceriam, pelos feitos olímpicos, entrar na lista para acender a pira. Mas praticam um esporte desconhecido, para poucos, quase irrelevante perto de outros mais difundidos e populares.

No atletismo, talvez o esporte-símbolo dos Jogos, tivemos nomes tremendos, com feitos em épocas em que o Brasil não ganhava nada e nem dinheiro tinha. Adhemar Ferreira da Silva, Nelson Prudêncio e João do Pulo, infelizmente, não estão mais entre nós. Joaquim Cruz? Por que não?

No judô, foram vários os medalhistas. Mas nenhum deles repetiu a dose.

Na ginástica, Arthur Zanetti pode ganhar status de mito. Duas medalhas em um esporte em que sempre fomos "nada"? Uau. Mas, por enquanto, ainda não tem tal status.

Gustavo Borges e César Cielo, dois gigantes da natação. Seriam candidatos naturais, mas longe de unânimes, a maior atleta olímpico brasileiro.

E aí chegamos ao vôlei. Na quadra ou na praia, o esporte mais eficiente do Brasil em Olimpíadas, que nunca deixa o país na mão. Contra o vôlei, jogam dois fatores. Primeiro, não é um esporte "mundial". Não se compara com o basquete, por exemplo, em termos de peso e atenção nos quatro cantos do mundo. É um esporte essencialmente grande no Brasil e nos Estados Unidos. Outro fator que joga contra é que é um esporte coletivo, essencialmente o de quadra, então é difícil escolher um nome.

Giba? Sheilla? Maurício? Fofão? Complicado colocar um desses como maior atleta olímpico brasileiro, não é mesmo?

Me veio na cabeça então o nome de José Roberto Guimarães.

Não, ele não entrou em quadra. Não cortou uma bola sequer. Mas o homem levou o vôlei masculino ao primeiro ouro olímpico, lá em 1992. E depois levou o feminino ao bi, em 2008 e 2012. Esse gênio do esporte nacional não tem medalha olímpica em casa, pois técnicos não são agraciados com uma.

Um grande caráter. Um grande gestor. Uma pessoa sem uma mancha sequer, uma suspeita, sem atitudes discutíveis eticamente. Vitorioso da melhor forma possível. No trabalho e no carinho, não no grito ou na raiva.

O único tricampeão olímpico da história do Brasil nos Jogos.

Ele não tem uma medalha. Mas poderia ter a honra maior. Zé Roberto seria o meu escolhido para acender a pira olímpica na sexta-feira.

Quem seria o teu?

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.