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Julio Gomes

Bale pode virar maior rival de Cristiano Ronaldo pela Bola de Ouro

Julio Gomes

05/07/2016 00h56

Cristiano Ronaldo e Gareth Bale não são melhores amigos. Dizem que a relação não é boa nem ruim. Apenas são companheiros de clube distantes por terem estilos de vida diferentes. Cristiano não veria em Bale uma ameaça a seu reinado em Madri. Se por um lado não ficou tão contente com a pompa que envolveu a contratação do galês, em 2013, por outro sabe que suas chances de se dar bem no clube aumentam com os dois jogando lado a lado.

Por "se dar bem", leiam "ganhar títulos".

Juntos, eles ganharam duas das três Champions League que disputaram. Antes da chegada de Bale, Cristiano havia amargado quatro anos do Real sem chegar à final europeia.

Nesta quarta-feira, não haverá beijinhos e possivelmente nem troca de camisas. Cristiano Ronaldo e Gareth Bale estarão frente a frente na semifinal da Eurocopa.

Para Portugal, é a chance de chegar à segunda decisão de sua história. Para o País de Gales, a chance de atingir um feito inacreditável, justo na primeira vez que o país disputa a fase final da competição.

Já temos razões suficientes para ver a partida. Vale final de Euro, ora pois!

Mas pode ser que valha mais que isso.

Com o Barcelona eliminado na Champions League e a Argentina sem título da Copa América, Lionel Messi vê diminuídas as chances de ser eleito o melhor do mundo pela sexta vez.

De partida, Cristiano Ronaldo torna-se o grande favorito. Afinal, foi o artilheiro da Champions League, conquistada pelo Real Madrid. No entanto, em ano com Euro e Copa América, seria bom aguardar. Ainda mais pelo fato de Cristiano não defender uma seleção, teoricamente, forte.

Se Portugal passar por Gales e chegar à final da Eurocopa, Cristiano Ronaldo, ganhando ou não o título, se destacando ou não nestes dois jogos, será eleito melhor do mundo pela quarta vez. Terá sido campeão europeu de clubes e finalista com Portugal, todo um feito. Não haveria francês ou alemão ou chileno capaz de tirar a conquista dele.

Mas e se Gales passar?

E se um tal Gareth Bale levar um país que havia 58 anos não disputava uma competição grande até a finalíssima?

Vamos lembrar que Bale também foi campeão europeu com o Real Madrid. E, ao contrário de 2014, foi protagonista ao longo da temporada. Na reta final, foi até mais importante que Cristiano Ronaldo, mantendo o time vivo na liga espanhola até o fim e fazendo o gol que definiu a semifinal, contra o Manchester City.

Ganhou peso, inegavelmente. Se é possível minimamente imaginar um Real exitoso sem Cristiano (por lesão ou o que quer que seja), isso se deve à presença de Bale.

bale_ronaldo

Já são oito anos de revezamento entre Messi e Cristiano com a Bola de Ouro em mãos. Só uma vez, em 2010, um ganhou sem o outro ter sido o segundo colocado (Messi foi o melhor, Iniesta, autor do gol que definiu a Copa daquele ano, acabou em segundo). De resto, só dobradinhas. O último "melhor do mundo" do planeta Terra foi Kaká, em 2007. Depois disso, só os dois ETs dominando.

Será que Bale, contra todos os prognósticos, será esse cara a quebrar a escrita de quase uma década?

É verdade que o fato de a Fifa ter absorvido a Bola de Ouro histórica ajuda o domínio da dupla. Antes, o prêmio da France Football era mais técnico que midiático. Jornalistas das grandes publicações europeias eram os que votavam. O prêmio refletia, de fato, o desempenho técnico naquele ano corrido e não o nome na camisa. Era eleito o melhor do ano, não o que mais joga bola. Há uma diferença enorme aqui entre uma coisa e outra.

Por exemplo: em 2010, Iniesta, Xavi e Sneijder jogaram mais que Messi. Nenhum deles era melhor que Messi. Mas todos haviam sido mais importantes que o argentino naquele ano específico.

Com o sistema Fifa, de votação de técnicos, capitães e jornalistas de TODOS os países, o prêmio virou muito mais um prêmio de "quem é o melhor jogador do mundo" do que "quem foi o melhor neste ano". Se desvirtuou.

Isso beneficiou o domínio de Messi e Ronaldo. E alguém terá de fazer MUITA coisa para bater um dos dois. Porque, por "default", de forma automática, gente de centros menos conhecedores de futebol acaba votando sempre nesses caras.

Ser campeão da Europa por País de Gales é muita coisa?

Sim, é. Muito mesmo. MESMO.

Se Gales passar por Portugal, Bale passa a ser favorito à Bola de Ouro? Não dá para dizer isso. Cristiano, pelo recall e pelo que jogou na Champions, ainda estará à frente.

Mas, pelo menos, se abre uma janela. Teria meu voto.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.