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Julio Gomes

Com Buffon e Pellè, a Itália é toda uma instituição

Julio Gomes

27/06/2016 15h28

Falar que a "era espanhola" acabou será chover no molhado. Elogiar muito Buffon vai fazer parecer que a Itália foi massacrada no jogo desta segunda. E notar que a Itália tem Pellè vai parecer piada.

Mas como escrever sobre o jogo mais relevante das oitavas de final da Euro sem falar destas três coisas?

A Espanha já aportou muito para o futebol mundial. Mais o Barcelona do que a Espanha, na verdade. E mais nos anos de Guardiola do que em outros, ainda que esta "era" já dure seus 10 anos.

Marcação adiantada, participação dos atacantes em todas as facetas táticas defensivas do jogo, posse de bola como recurso primordial, aproximações entre jogadores, maiorias criadas por todo o campo, triangulações, privilegiar a técnica em vez da força. O futebol não está mudando, ele já mudou. E a Espanha tem tudo a ver com isso.

E quer prova maior do que a forma como a Itália jogou?

A Itália não deu chutões. Se defendeu com firmeza e ocupação de espaços, como sempre fez. Mas, com a bola, confundiu completamente a Espanha. Porque jogou. Não só com bolas longas, esticadas no "seja o que deus quiser". Mas, sim, com aproximações, qualidade, ultrapassagens, técnica.

Conte é um baita treinador. Sorte do Chelsea. Del Bosque não analisou bem o que a Itália fizera na estreia, contra a Bélgica. Azar dele.

A Itália foi mais Espanha que a Espanha nesta tarde. Fez o primeiro gol e teve várias ocasiões para matar a partida. Duas absurdamente claras no segundo tempo.

Naturalmente, na meia hora final de jogo o time que tem que buscar o resultado vai atacar mais e pressionar. A Espanha, daqueles times que ganharam a Copa e duas Euros, ainda tem uma boa defesa. Mas, sem Xabi Alonso e Xavi, perdeu muito no meio de campo. E, sem Villa e Torres, perdeu muito poderio ofensivo. Vai precisar se reencontrar, e não acredito que seja com Del Bosque. Um ótimo gestor de estrelas, mas que não é o mais brilhante e moderno taticamente.

Quando a Espanha empurrou a Itália contra o próprio gol, apareceu Buffon. Três defesas espetaculares. Uma delas, em um toque de Piqué à queima roupa nos últimos minutos, foi monumental.

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Buffon é simplesmente um monstro. Um dos grandes goleiros que já vimos jogar. Se seguir Zoff, capaz que ainda fique uns bons anos por aí. Tomara. Além de ser tecnicamente perfeito, não ter falhas em seu jogo, é um líder. É carismático. Uma instituição do tamanho de um camisa com quatro estrelas no peito.

Para o perfeito jogo defensivo da Itália, ao longo da história, faltava só um Pelé mesmo.

Não tem Pelé, mas tem Pellè. Desculpem, a piadinha é inevitável.

Como inevitável era o segundo gol, dado que a azzurra domina como ninguém a arte de contra atacar.

A Itália ganhou da Alemanha na semifinal da Copa de 2006. E na semifinal da Euro 2012. Os alemães mesmos costumam se auto declarar "fregueses" dos italianos, a nível de clubes e seleções. A Itália ainda entrou em campo com 10 pendurados contra a Espanha, mas só um deles está suspenso do próximo jogo, o reserva Thiago Motta.

Desafio maior não haverá para a campeã do mundo. Sábado que vem. Não dá para perder.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.