Topo

Julio Gomes

Inexplicável preguiça da Espanha gera chave da morte na Euro

Julio Gomes

21/06/2016 18h28

Cinco países europeus já foram campeões do mundo: Alemanha, Itália, Espanha, França e Inglaterra. Todas elas ficaram do mesmo lado na chave do mata-mata da Euro. Terão de se matar. Desta turminha aí, sairá apenas um finalista.

A Alemanha, a Itália e a França fizeram a parte delas, ganharam seus grupos. A Inglaterra e a Espanha, no entanto, não. E, se Portugal tampouco fizer sua parte e acabar em segundo no grupo F, também ficará deste lado da chave.

Uau. Foi criada uma chave da morte para fazer a Euro pegar fogo (coisa que, convenhamos, ainda não aconteceu no campo. Fora dele, está fervendo com hooligans, ultras e outros idiotas).

Da Inglaterra não se pode esperar muito. Não é uma seleção do nível das outras quatro grandonas citadas. Acabou levando um gol no fim da Rússia, martelou, martelou, mas não marcou contra a Eslováquia e ficou em segundo.

A Inglaterra pega o segundo colocado do grupo F. Pode até passar, seja este time Portugal, Hungria, Islândia ou Áustria. Mas das quartas, contra a França, duvido muito.

Já a Alemanha deve enfrentar a Eslováquia nas oitavas, isso ainda depende da definição de terceiros colocados. E, nas quartas, Espanha ou Itália. Duas seleções que trouxeram muitos problemas para a Alemanha nos últimos anos e, respectivamente, a derrotaram nas Euros de 2008 e 2012.

A Espanha não queria enfrentar a Itália. Lógico que é melhor enfrentar um terceiro colocado do que uma camisa com esse peso.

Mas mereceu o destino. Fez um jogo preguiçoso contra uma Croácia cheia de reservas. Abriu o placar em uma linda jogada que acabou no gol de Morata. E, a partir daí, passou a especular com o resultado. A Croácia nunca deu a bola de graça para a Espanha. Sempre que pôde, tentou controlar o jogo, que é seu DNA, mesmo sem Modric em campo.

perisic

Nem sempre pôde, porque é difícil fazê-lo contra a Espanha. Mas, quando não teve a bola, a Croácia fechou bem suas linhas e cedeu poucas ocasiões a uma rival desinteressada. Curioso, pois a Espanha foi uma das poucas seleções a não poupar ninguém na última rodada, talvez por notar quão importante era ser primeira do grupo e fugir da chave da morte. Vicente del Bosque admitiu a "surpresa" com o resultado. Deve estar p da vida.

Sem a bola, a Croácia foi eficiente em seu plano de jogo de contra atacar em velocidade. Rakitic e Perisic fizeram um grande jogo. A ausência do paradão Mandzukic na frente mais ajudou que atrapalhou.

Com 1 a 1, os croatas tiveram um pênalti não marcado. Logo depois, o péssimo juiz holandês marcou um pênalti inexistente para a Espanha – defendido pelo goleiro croata, que se adiantou mais de dois metros antes da cobrança. A arbitragem só será esquecida justamente porque os lances capitais não fizeram diferença. Nos minutos finais, Perisic foi perfeito para consumar contra ataque e deixar o placar em 2 a 1.

Merecido castigo para uma equipe da Espanha que talvez tenha subestimado a adversária e a importância de ser primeira do grupo.

fabregas_2008

A Itália já botou muito medo na Espanha. Era tida como uma asa negra. Tudo começou a mudar em 2008. Num jogo de quartas de final, em Viena, a Espanha massacrou a Itália durante o jogo todo. O placar final foi de 0 a 0, mas aquele sucesso nos pênaltis abriu o caminho para tudo de bom que os espanhóis conquistaram. Foi um tabu quebrado. A foto acima mostra o tamanho do momento (este jogo de Viena é um dos inesquecíveis da minha vida, entre os que eu estava no estádio. Sabíamos todos que estávamos vendo história ali).

Na Euro de 2012, Espanha e Itália caíram no mesmo grupo. Abriram a competição empatando por 1 a 1. Se reencontraram na final, e a Espanha meteu um inapelável 4 a 0. No ano seguinte, já decadente, a Espanha voltou a eliminar a Itália nos pênaltis, na Copa das Confederações. Foram três empates nestes quatro jogos. Mas a goleada na final quatro anos atrás e os êxitos nos pênaltis dão muita confiança aos espanhóis diante desse duelo.

Outra coisa é pensar na Alemanha depois. E outra coisa é pensar que a Espanha perdeu uma invencibilidade de 14 jogos em Euros. A última derrota havia sido em 2004, contra o Portugal de Felipão, gol de Nuno Gomes. Outros tempos. E também outra coisa é reviver fantasmas. Os fantasmas do Brasil em 2013 e 2014. De um time que até domina o adversário, mas com falta de punch e sangue nos olhos.

Um time despreocupado com um fato tão dramático quanto ter de bater Itália, Alemanha e França para chegar à terceira decisão consecutiva.

Que Espanha veremos contra a Itália? A hiper vencedora, confiante e dominadora, que encheu os olhos de 2008 a 2012. Ou a que não assusta muita gente, de 2013 para cá?

Talvez esta seja a chave para saber o que vai acontecer na chave da morte.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.