E não é que 'não tem mais bobo' mesmo no futebol?
A frase "não tem mais bobo no futebol" é batida. A meu ver, ela era mais usada para justificar um tropeço do favorito do que propriamente por convicção de quem a dizia.
Mas as simultâneas Copa América e Eurocopa estão nos mostrando que REALMENTE não tem mais bobo. Até tem, mas eles se resumem a algumas seleções minúsculas, amadoras, tipo os San Marinos da vida.
Eu não gostei da ampliação da Euro de 16 para 24 seleções. Achava que as eliminatórias perderiam competitividade (entra quase todo mundo!) e o mesmo aconteceria na fase de grupos do torneio. Não aconteceu nem uma coisa nem outra. Nas eliminatórias, seleções médias, que antes se viam sem chances, passaram a acreditar e fizeram campanhas melhores que o imaginado. Holanda, Grécia e Dinamarca, por exemplo, ficaram pelo caminho.
E a fase de grupos está nos mostrando tudo, menos desequilíbrio. Não teve nenhum jogo fácil até agora. A França, anfitriã e favorita ao título, ganhou dois jogos na bacia das almas contra Romênia e Albânia. Portugal tropeçou na Islândia, a Espanha ganhou nos minutos finais, a Inglaterra cedeu pontos para uma instável e fraca Rússia.
Do outro lado do Atlântico, a Copa América já nos reservou eliminações de Brasil e Uruguai para Peru e Venezuela, respectivamente, na fase de grupos. O Chile, atual campeão, sofreu contra Bolívia e Panamá. O México, jogando "em casa" e em grande fase desde a chegada de Osorio, quase caiu para os venezuelanos.
Somadas as competições, só a Argentina vem fazendo os jogos parecerem fáceis.
As quartas de final da Copa América começam nesta quinta-feira, e a Argentina tem pinta de que estará na final. Tem sua melhor chance de quebrar o incômodo jejum de 23 anos sem títulos da seleção absoluta. Mas será tão impossível assim perder para a Venezuela nas quartas? Ou para Estados Unidos ou Equador nas semis?
Lembrando que o Equador acaba de ganhar da Argentina fora de casa pelas eliminatórias da Copa-2018.
Claro que, se a Argentina não chegar à decisão, será tratado como zebra. Mas o fato é que estamos chamando de "zebras" no futebol resultados em função da cor da camisa e da história das seleções. E não da análise fria de chances de cada um.
No futebol globalizado, o que vemos são seleções que compreendem totalmente o momento atual do esporte. Compactação, aproximações, dinamismo. Não há mais aquela posição guardada e específica. Todos defendem, todos atacam, a sincronia de movimentos é a chave e o jogo é jogado em 20 metros, não 50.
Os jogos da Eurocopa e da Copa América estão mostrando o caminho aos desavisados. São partidas equilibradas, intensas, com sistemas sólidos. Literalmente, qualquer um pode ganhar de qualquer um. Claro que seleções com jogadores mais dotados tecnicamente levam vantagem. Mas o indivíduo só será o ponto decisivo de uma partida se o coletivo estiver azeitado.
Ter uma espinha dorsal, jogadores que passam anos vestindo a camisa da seleção nacional, é uma das grandes chaves. Ninguém tem tempo para treinar. Os automatismos criados ao longo dos anos, às vezes desde as seleções de base de cada país, não podem ser desperdiçados porque "tem que jogar quem está melhor", como muitos dizem aqui. Um dos grandes erros do Brasil nas últimas décadas tem sido a constante reconstrução.
Tite é o enésimo treinador que terá de começar um trabalho do zero, em vez de herdar um time, um sistema, e fazer mudanças pontuais.
Vamos aguardar para ver que conceito de jogo será aplicado. Há uma grande esperança de que pelo menos, independente dos nomes, o Brasil passe a jogar um futebol como o de outras seleções, compacto, solidário e dinâmico. Antes tarde do que nunca. Porque entre Copa América e Eurocopa, se for para escolher um "bobo", creio que ele somos nós.
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