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Julio Gomes

Argentina e México começam bem; Brasil está atrás de muita gente

Julio Gomes

07/06/2016 01h16

México 3 x 1 Uruguai e Argentina 2 x 1 Chile foram dois belíssimos jogos de futebol. Eram, de qualquer maneira, os duelos que mais chamavam a atenção ao olhar para a tabela da primeira rodada Copa América Centenário. Mas, geralmente, os jogos em que depositamos muitas esperanças acabam decepcionando – e vice-versa.

A comprovação preocupante é que todas as seleções que são supostas rivais do Brasil pelo título jogaram significativamente melhor do que a seleção de Dunga. É apenas uma rodada, mas esta não é a competição mais longa do planeta. É tiro curto.

As vitórias de México e Argentina saíram de dois jogos dinâmicos, de alta velocidade e intensidade. São equipes, e podemos incluir a Colômbia na lista, mais prontas taticamente.

O Brasil historicamente se renova demais. Falta de convicção dos técnicos? Excesso de matéria prima? Cobrança por resultados e desempenho individual que gera tal nível de rotatividade? Quando muitos comemoravam o fato de nenhum dos titulares do 0 a 0 contra o Equador terem sido titulares nos 7 a 1 de dois anos atrás, eu me preocupava. Não me parece normal essa ausência total de base, de espinha dorsal.

Argentina, México, Colômbia, Chile e México têm uma base. Os treinadores sabem as opções que possuem, o que esperar dos jogadores, as alternativas táticas. O Brasil, não. É um time novo a cada X meses. Não pode ser algo bom.

São cinco seleções que talvez não tenham (eu disse "talvez") a mesma capacidade técnica do Brasil nome a nome. Mas que parecem muito mais prontas para disputar o título. O futebol, lembrando pela enésima vez, é co-le-ti-vo. Faz tempo que ter melhores jogadores não representa muito. E, repito, nem sei se o Brasil os tem.

A Argentina de Tata Martino usou uma formação com dois jogadores abertos (Di María, um craque, e Gaitán) flanqueando Higuaín. Messi ficou no banco pelas dores nas costas, mas aparecerá mais para frente no torneio. A ausência de Aguero foi opção. É um time menos ofensivo no papel, mas mais seguro. A cara de Martino. É a favorita, disparada, nos sites de apostas. Há uma razão para isso. Tem cheiro mesmo de que o tabu de 23 anos sem títulos pode cair.

dimaria

O Chile, atual campeão, sente e sentirá falta de Jorge Sampaoli. Mas, apesar da mudança de técnico (alô, Brasil), o time é praticamente idêntico ao que nos acostumamos a ver nos últimos anos. Tem Vidal, Alexis, Medel e cia limitada. Encarou bem a Argentina, até levar dois gols muito rápidos em saídas de bola equivocadas. Não pode ser desprezado um time que se conhece tão bem e que sabe o que é ser campeão.

O Uruguai e a Colômbia, assim como o Chile, têm ótimos times, entrosados e com bons treinadores. O Uruguai, que deu um show de competitividade contra o México com um a menos por boa parte do jogo, está pendente de Suárez. A Colômbia ainda não deu aquele passo a mais com Pekerman – uma final, por exemplo. Mas pode ser a hora.

E o México me chama atenção por dois fatores. O primeiro é o fator casa. Esqueçam os Estados Unidos (uma pena que chegue à competição tão mal). Quem joga em casa essa Copa América é o México. Terá maioria esmagadora nas arquibancadas contra quem quer que seja. E o segundo fator é o ótimo técnico colombiano Juan Carlos Osorio no banco.

Desde que chegou Osorio, foram 8 vitórias em 8 jogos, com apenas um gol sofrido. O México está invicto há 20 partidas. Olho.

A primeira rodada deixou um desenho claro para o mata-mata da Copa América. De um lado da chave, a Colômbia enfrenta o segundo do grupo do Brasil, possivelmente o Equador. E depois pegaria na semi o vencedor de um Argentina x Uruguai nas quartas. A seleção de Dunga, se for primeira no grupo, terá um duelo supostamente tranquilo nas quartas e depois pegaria México ou Chile na semi.

Vejam a importância brutal que tem para o Brasil ser primeiro no grupo. Se não for, cairá em uma espécie de chave da morte, com chances reduzidas de estar na final.

Neste momento, sempre segundo sites de apostas, uma decisão Argentina x México é o cenário mais provável no torneio. Pode ser. Tudo pode ser nesta Copa América.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.