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Julio Gomes

Sevilla atropela, e Espanha confirma domínio inédito

Julio Gomes

18/05/2016 18h12

O Liverpool é gigante. Mas é um gigante que desaprendeu a ganhar. O Sevilla é o melhor exemplo possível para os que acham que o futebol espanhol vive de dois times. Não é assim e nunca foi assim. O nível estratosférico de Barcelona e Real Madrid em anos recentes cegaram muitos para a qualidade enorme de outros times.

Os ingleses, tomara, têm um belo futuro com Klopp. Um baita técnico, uma baita torcida, uma baita história a ser resgatada, alguns bons jogadores. Mas, hoje, o Sevilla é um clube com cheiro de título. Aquele cheiro que os Reds perderam na megaglobalização vivida pelo futebol nos últimos anos.

O Liverpool teve a chance de ficar com a Europa League, seria a quarta (contando com os tempos de Copa da Uefa). Mas, com o 1 a 0 e o Sevilla contra as cordas, perdeu a chance de matar a decisão no primeiro tempo. Em finais, quando o adversário está entregue, as coisas não podem ficar para depois.

O "depois" foi o Sevilla empatando o jogo com menos de 30 segundos no segundo tempo. Jogada brilhante de Mariano e gol de Gameiro, o artilheiro.

A partir daí, foi um banho. O Liverpool não estava preparado para o empate tão rápido. E o Sevilla estava mais do que preparado para ganhar. Aprendeu a ganhar. E ganha. Fez 3 a 1 e poderia ter feito mais.

O Sevilla passou o carro por cima do Liverpool no segundo tempo.

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Muitos vão minimizar a Europa League, antes Copa da Uefa. É claro que é necessário relativizá-la. Não é forte como já foi.

Antes, até a mudança radical do futebol europeu, duas décadas e pouco atrás, a Copa dos Campeões era uma competição só para campeões, poucos times. A Copa da Uefa era até mais difícil de ganhar, pois tinha mais times fortes. Possivelmente em muitos anos dos anos 70 e 80 o campeão da Uefa era um time melhor do que propriamente o campeão europeu.

Não é mais assim. A Copa dos Campeões inchou, virou a Champions League e hoje é a maior competição de futebol do mundo. A Europa League é secundária. Mas sempre tem times bons. Seja porque esses times bons não conseguiram, no ano anterior, vaga na Champions, ou porque "caíram" da fase de grupos da Champions – foi o caso do Sevilla esse ano, ficando em terceiro em um grupo da morte que tinha Juventus e Manchester City na Champions.

A Europa League 2016/2017 já tem, por exemplo, Manchester United e Inter de Milão confirmados. Outras camisas pesadas estarão lá.

Como estiveram nas três seguidas conquistadas pelo Sevilla.

Real Madrid, entre 56 e 60, Ajax, de 71 a 73, e Bayern de Munique, de 74 a 76, eram os únicos times da história a vencerem três copas europeias seguidas. Todos na Copa dos Campeões. O Sevilla se junta a esse seleto grupo.

E não podemos esquecer que a Espanha conquista a terceira Europa League consecutiva com o Sevilla e já garantiu a terceira Champions League seguida com a final doméstica entre Real Madrid e Atlético de Madri. Isso nunca havia acontecido na Europa.

A Itália teve um domínio parecido quando o Milan ganhou a Copa dos Campeões em 89 e 90. Italianos ganharam a Copa da Uefa em 89 (Napoli), 90 (Juventus) e 91 (Inter). E a Sampdoria ainda levou a extinta Recopa em 1990.

Mas o histórico domínio italiano do final dos anos 80 foi superado agora pelos espanhóis.

Na Champions League, a Espanha leva 6 dos últimos 11 títulos. Na Europa League, são 7 títulos nos últimos 13 anos, com duas finais domésticas.

Nas últimas três temporadas, foram 45 confrontos europeus contra times de outros países. Os espanhóis levaram a melhor 42 vezes. "Só" 93% de aproveitamento.

Ufa. Haja número. Haja taça. E haja festa. A noite em Sevilla só acaba amanhã… à noite.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.