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Julio Gomes

Suárez e Leicester, os nomes de um ano estranho das ligas europeias

Julio Gomes

16/05/2016 12h04

E acabaram as grandes ligas europeias.

Nenhuma história, nem de perto, se compara à do Leicester – aliás, nenhuma história em 30 anos se compara à do Leicester. Não parecia possível que um clube minúsculo, que sempre jogou para não cair, pudesse ser campeão nos pontos corridos, ainda por cima em uma liga tão rica e competitiva como a inglesa.

É o conto de fadas. Acontece em Olimpíada, em mata-mata, mas não acontece nunca em competições estilo "maratona". As estrelas se alinharam. Todos os grandes tiveram problemas profundos ao mesmo tempo, os que sobraram para concorrer com o Leicester, apesar das camisas históricas, parece que desaprenderam a ganhar (me refiro a Arsenal e Tottenham). As coisas foram se sucedendo e, quando viram, o impossível aconteceu.

Fora a já tão falada e maravilhosa história do Leicester, as outras ligas europeias não tiveram surpresa no resultado final, mas nenhuma delas transcorreu de forma, digamos, normal. Todas tiveram algo diferente neste ano.

Neste fim de semana, Barcelona e Benfica confirmaram as taças na Espanha e em Portugal. Até aí, tudo certo.

O Barça ganha o sexto título espanhol em oito anos, um domínio que o clube catalão nunca havia tido no país. São 8 títulos em 12 anos, se puxarmos desde o início da "era Ronaldinho", passando então o bastão a Messi, a era Guardiola, etc.

Luis-Suarez

Mas é a primeira vez desde aquele primeiro título com Guardiola, em 2009, que o protagonista do campeonato não é Messi. Por sinal, foi o primeiro destes seis títulos do Barça em que a diferença final para o vice-campeão foi somente de um ponto, e o primeiro em que, se os catalães não ganhassem o jogo final, ficariam sem a taça – quatro dos troféus vieram por antecipação.

Não dá para tirar o peso de Messi na conquista consumada no sábado, na linda cidade de Granada. Mas tampouco é possível negar que Luis Suárez foi o nome do campeonato. O grande protagonista.

Na hora H do campeonato, quando o Barça fraquejou por três rodadas seguidas e reabriu a disputa, Suárez apareceu. Nas cinco rodadas derradeiras, fez 13 gols. Isso mesmo, 13 gols em cinco jogos. No total, foram 40 jogos em 35 partidas. Só dois caras na história haviam conseguido pelo menos 40 gols em uma mesma edição do Espanhol. Sim, você adivinhou: Messi e Cristiano Ronaldo. Não é pouca coisa.

Vamos lembrar que foi Neymar que apareceu ali ao lado dos dois mitos no pódio da Bola de Ouro. Hoje, Suárez já aparece não um, mas alguns degraus acima de Neymar.

Um título do Barça em que Messi foi o segundo melhor jogador do time. Coisa que nunca havíamos visto.

No final, foi um título justo para o melhor time. Mas se eu fosse apostar agora, antes de pré-temporada, contratações, etc, colocaria minhas fichas no Real Madrid para o próximo título espanhol. O Barça só ganhou três títulos seguidos uma vez (os três primeiros anos de Guardiola). E só ganhou quatro seguidas uma outra vez (a era de ouro de Cruyff, Romário, Stoichkov, Guardiola em campo, entre 91 e 94).

No ano da morte de Cruyff, menos mal que o Barcelona não tenha entregado a rapadura no final. Já bastavam a Holanda fora da Eurocopa e o papelão do Ajax.

Que o PSV Eindhoven tenha sido campeão holandês, nenhum mistério. Mas que o tenha sido porque o Ajax foi incapaz de vencer um time rebaixado na última rodada… é de entrar para a história.

Assim como na Espanha e na Holanda, o título ficou para a última rodada também em Portugal.

E foi para o Benfica, que precisou ganhar as últimas 12 partidas do campeonato para ficar na frente do Sporting – que ganhou as últimas 9. O problema para o Sporting, que não levanta o troféu desde 2002, é que seu último tropeço foi no duelo em casa contra o Benfica – derrota por 1 a 0.

O Sporting foi líder por boa parte do campeonato, deu umas bobeadas, mas só precisava de um empate no clássico, disputado em março, para não perder a ponta. Dominou o Benfica, foi superior o jogo inteiro. Mas como dizer que não merecia ser derrotado? Este gol perdido pelo costarriquenho Bryan Ruiz foi, além de bizarro, o que teve mais implicações na temporada europeia. Definiu o título.

Clique aqui para ver e segure o queixo, para ele não cair.

 

Na Alemanha e na Itália, títulos para Bayern de Munique e Juventus. Sem novidades. Mas sem tranquilidade.

O Borussia Dortmund vendeu caro para o Bayern de Guardiola, e o título só foi consumado na penúltima rodada. No ano passado, o título veio com quatro rodadas de antecedência. No retrasado, com sete – primeira vez na história que a Bundesliga acabara no mês de março. Por sinal, é a primeira vez na história que o Bayern ganha quatro títulos seguidos. A tendência é o domínio continuar com Carlo Ancelotti no comando, mas o Dortmund mostrou que não será galinha morta na era pós-Klopp.

A Juventus ganhou o quinto Italiano seguido. Mas foi o mais esquisito deles todos. Normal que, após ser finalista da Champions, mas perder Tevez, Pirlo e Vidal, o time sofresse uma queda. Anormal foi ganhar três, empatar três e perder quatro no primeiro quarto do campeonato. Após 10 rodadas, a Juve era a 12a colocada, com 12 pontos – 11 a menos que a Roma, 9 a menos que Napoli, Fiorentina e Inter.

Mais anormal ainda foi depois ganhar 26 dos 28 jogos restantes, só perdendo uma, com título garantido, para o lanterna e rebaixado Verona (aquele placar que cheira mal). No segundo turno, foram 17 vitórias, 1 empate e 1 derrota. Só isso.

Na França, mais um campeão "natural". O PSG. Mas foi com oito rodadas de antecipação, quase invicto (se não tivesse desviado a atenção com a Champions, teria sido invicto). Foi quase um não-campeonato. O que não é normal.

Um ano em que coisas estranhas aconteceram em todas as grandes ligas. E a mais estranha de todas, logicamente, o conto de fadas do Leicester.

Agora restam as finais europeias e as finais das Copas nacionais. As europeias dispensam comentários por enquanto. As Copas têm finais bem bacanas.

Um "showdown" entre Bayern e Dortmund na Alemanha. Man United em busca de salvar o ano na FA Cup, Porto em busca do mesmo após um ano de papelões em Portugal. Juventus e PSG, favoritíssimos, mas diante de dois rivais históricos: Milan e Olympique. E um Barça-Sevilla interessante na Espanha.

Aqui vai o calendário das finais neste fim de temporada:

Quarta, 18 de maio

15h45 Liverpool x Sevilla (Europa League)

Sábado, 21 de maio

13h30 Crystal Palace x Manchester United

15h Bayern de Munique x Borussia Dortmund

15h45 Milan x Juventus

16h Olympique de Marselha x Paris Saint-Germain

Domingo, 22 de maio

13h15 Porto x Braga

16h30 Barcelona x Sevilla

Sábado, 28 de maio

15h45 Real Madrid x Atlético de Madri (Champions League)

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.