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Julio Gomes

Cinco razões para apostar no Atlético na final contra o Real Madrid

Julio Gomes

04/05/2016 18h40

Final é final. Em um jogo só, apostar em favoritos é pedir para se dar mal. Mas não sou de me esconder ou morar em cima do muro. Hoje, o Atlético de Madri é superior ao Real Madrid coletivamente e, tecnicamente, não fica atrás.

Não, o Atlético não tem Cristiano Ronaldo. Seus outros atacantes possivelmente sejam um pouco inferiores aos do Real. Mas o meio de campo é tão bom quanto com a bola, melhor na marcação e, defensivamente, não há nem comparação entre os times – o Atlético está anos-luz à frente.

Desde a chegada de Simeone, Atlético e Real se enfrentaram 19 vezes em partidas oficiais: 7 vitórias para cada lado e 5 empates. Equilíbrio.

Em maio de 2013, há três anos, aquele gol de Miranda na prorrogação dava a Copa do Rei ao Atlético em pleno Bernabéu. O primeiro título em 17 anos e a primeira vitória sobre o Real Madrid em 14 anos (eram 25 jogos de seca). A partir dali, tudo mudou. A mentalidade mudou. O Atlético entrava em campo derrotado nos dérbis, e isso passou a não acontecer mais – pelo contrário.

Há dois anos, naquela final da Champions em Lisboa, o Atlético ganhava o jogo até os 48 minutos do segundo tempo. Estava na mão.

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Desde então, foram 10 partidas entre eles, com 5 vitórias do Atlético, 4 empates e 1 do Real Madrid – justamente na Champions do ano passado, quartas de final, gol no finalzinho de Chicharito Hernandez. Nas últimas três ligas espanholas, a atual e as duas anteriores, foram seis jogos entre eles, com zero vitórias do Real.

O que isso mostra? Que o Atlético não só aprendeu a ganhar do Real Madrid como consegue fazer os duelos entre eles acontecerem como ele quer que aconteçam. É um tipo de jogo que encaixa.

Cicatrizes de anos anteriores costumam forjar times campeões. Criam casca. A tristeza vira energia, motivação, a milha extra a ser percorrida. O cara corre mais para não passar pela mesma dor do passado. Parece pouco, mas é muito.

O Real Madrid de 2014 perdeu Xabi Alonso (que não jogou a final), Di María e o técnico Ancelotti. No lugar deles, em 2016, Casemiro, Kroos e um novato Zidane. Um técnico que ainda não se mostrou capaz de, por exemplo, mudar os rumos de uma partida no meio dela. Ainda não sabemos do que Zidane é capaz, na verdade, além de pacificar o vestiário e copiar o que aprendeu com Ancelotti taticamente.

O Atlético de 2016 tem a mesma base sólida de 2014: Juanfran, Godín, Filipe Luis, Koke e Gabi. No meio de campo, as adições de Saúl e Carrasco dão mais técnica e dinamismo do que Tiago e Raúl García, que jogaram a final, ou mesmo Arda Turan, que esteve ausente em Lisboa. No ataque, Griezmann é melhor que Diego Costa, Torres está vivendo um final de carreira mais produtivo do que Villa. E Simeone cresceu – e como cresceu.

O Atlético de 2016 é melhor, e o Real de 2016 é pior que o de 2014.

Pelas cicatrizes históricas e recentes.

Pelo futebol dominante apresentado nos duelos diretos entre eles nos últimos dois anos.

Pelo fato de o Atlético ter eliminado Barcelona e Bayern, enquanto o Real teve um caminho para lá de tranquilo até a decisão.

Porque a torcida do Atlético engoliu a do Real naquela final de 2014 e fará o mesmo em Milão.

Eu estava no estádio em Lisboa, dois anos atrás. Não havia como evitar o pensamento de que o Atlético nunca mais chegaria até lá. Nunca mais teria uma chance como aquela. São poucos os times e esportistas que têm pela frente uma segunda chance. É uma dádiva.

Por tudo isso. Tem cheiro de ser a hora do Atlético.

Não estou desprezando as chances do Real Madrid, um clube histórico, multicampeão e com jogadores capazes de acabar com qualquer final.

Maaaaaas…. É o Real que tem que se virar para encontrar uma maneira de ganhar a decisão em Milão. Porque o Atlético está esfregando as mãos, com o guardanapo no pescoço, batendo garfo e faca em cima da mesa. Ele já sabe o caminho das pedras.

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.