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Julio Gomes

Um enorme 'gracias' a Simeone e Guardiola

Julio Gomes

27/04/2016 18h25

Tudo o que Manchester City e Real Madrid não fizeram terça-feira sobrou para Atlético de Madri e Bayern de Munique fazerem na quarta. Foi um jogaço no Vicente Calderón, sem um minuto sequer de monotonia.

Os detratores de Simeone e Guardiola vão falar o mesmo de sempre. "O Atlético só se defende, só bate, é o antifutebol!", dirão os que odeiam o argentino. "O Bayern passa, passa, passa e não chuta para o gol, não cria chances!", esbravejarão os que odeiam o catalão.

Pois bem.

O Atlético, com apenas 25% de posse de bola, cometeu somente SETE faltas sobre o Bayern. Violento?

O Bayern transformou a enorme posse de bola em 17 finalizações para o gol. Pouco agressivo?

O futebol tem de dizer "obrigado" aos dois melhores treinadores do planeta. Estamos vendo como o futebol pode ser bonito de várias maneiras diferentes.

Pep Guardiola desafia todas as verdades absolutas criadas no esporte. Arrisca. Prefere abrir mão de solidez defensiva colocando para atuar na "zaga" jogadores capazes de criar soluções ofensivas. Seus volantes podem virar centroavantes, como Vidal virou contra o Atlético. A movimentação é constante em busca do espaço. Todos correm. E correm para ficar com a bola e chegar ao gol, não para passar para o lado.

Já Cholo Simeone desafia todas as verdades absolutas ditas a jogadores de futebol quando eles eram crianças. Sim, correr, se esforçar e jogar pelo time, mesmo sem a bola, é tão belo e recompensador quanto marcar um gol. Como convencer atacantes, meias, jogadores de talento a correr, correr, correr, correr para nunca terem a bola? Tudo em nome do coletivo, de não deixar o outro time chegar perto do próprio gol.

O futebol total, que começou 40 anos atrás lá com a Holanda, hoje atinge a maturidade com Guardiola e Simeone. Todos fazem tudo em campo, e todos se mostram capazes de fazer tudo. São treinados e convencidos disso.

simeone_guardiola

O Atlético conseguiu o resultado que queria, um magro 1 a 0, sem sofrer gol fora de casa. Graças a uma jogada individual brilhante de Saúl logo no comecinho – quem disse mesmo que o Atlético tinha jogadores "inferiores tecnicamente, mas que lutavam muito"? O Atlético é tecnicamente muito bom. E Saúl nos mostrou isso.

Fora isso, no entanto, apesar de ter se defendido de forma primorosa, como sempre, o Atlético não se mostrou capaz de encontrar muitas soluções para machucar o Bayern. Teve somente um contra ataque armado durante o jogo todo – Torres acertou a trave, em bola que poderia ter deixado tudo encaminhado para os colchoneros.

Afundou-se demais dentro da área. Não conseguiu marcar no alto. Foi empurrado para trás constantemente. Não sei se este mesmo desenho de jogo será suficiente para segurar um 0-0 na casa do Bayern.

Já o time de Guardiola continua sentindo falta de um jogador que faça o que Saúl fez para o Atlético. Um cara que rompa a defesa adversária. O sistema está azeitado, mas, para as chances aparecerem dentro da área, será necessário quebrar a linha de Simeone com dribles e tabelas. Essa era a ideia ao escalar Coman, o jovem francês que havia sido decisivo contra a Juventus. Mas Filipe Luís foi impecável e ganhou a batalha naquela faixa do campo.

Robben faz muita falta para o sistema de Guardiola.

Dois anos atrás, o Bayern de Guardiola voltou de Madri com uma derrota de 1 a 0 para o Real. Em casa, em meia hora, já havia levado três gols. No ano passado, em Barcelona, dominou o jogo até levar um, dois, três em contra ataques mortais. A atenção defensiva, que não teve contra os espanhóis em 2014 e 2015, será a chave para o Bayern no jogo de volta. O Atlético precisa encontrar um modo de ameaçar no contra ataque, senão será sufocado até um ponto que seja insuportável.

A eliminatória está completamente aberta. E não vejo a hora de a terça-feira chegar.

Gracias, Pep.

Gracias, Cholo.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.