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Julio Gomes

Santos joga 2016 no lixo e deve explicações à torcida

Julio Gomes

03/12/2015 00h22

O Santos tinha tudo para fazer um Campeonato Brasileiro meia boca. Como fez nos últimos anos. Nem era time para cair nem para disputar lá em cima. Time de meio de tabela.

A coisa ia mal no primeiro terço de campeonato, até na zona de rebaixamento o Santos andou. E de repente, com o ótimo trabalho de Dorival Júnior, o time encaixou e subiu, subiu, subiu. E, ao contrário de outros que subiram e caíram, subiram e caíram, o Santos se manteve em alta.

Na 29a rodada, chegou ao G-4. E se manteve lá por seis rodadas. No meio de tudo isso, dessa escalada, foi fazendo vítimas também na Copa do Brasil. Corinthians, apesar da má vontade, Figueirense e um verdadeiro atropelamento em cima do São Paulo – que, por sinal, era um dos rivais na luta pelo G-4 no Brasileiro.

Logo depois de garantir a vaga na final da Copa, no fim de novembro, o Santos pegou justamente o Palmeiras na 33a rodada. E ganhou o jogo, no que era a quarta vitória em seis partidas. Era o ápice santista na temporada, tinha gente que colocava somente o Corinthians um degrau acima no futebol nacional – isso se não colocasse no mesmo degrau.

Naquele momento, o Santos era favoritíssimo para ser campeão da Copa do Brasil. E também para ficar com a quarta vaga na Libertadores via Brasileirão.

Um empate em Joinville e a quarta colocação mantida após 34 rodadas. Naquele momento, o campeonato parou por 10 dias para a maioria dos times devido aos jogos da seleção brasileira. Se tinha gente desgastada, era uma parada propícia. Principalmente para quem vinha da maratona de quarta-domingo-quarta-domingo.

Por que, então, o Santos abandonou o Campeonato Brasileiro?

O que justifica ter colocado time reserva em campo em jogos contra Coritiba (com portões fechados!) e Vasco, dois times fracos e que disputam a salvação na primeira divisão?

A desculpa oficial todos sabemos. Era poupar os jogadores para a final da Copa do Brasil. Parece até que alguns deles pediram isso.

Mas a pergunta é: valeu a pena?

Agora, com o Santos derrotado na final da Copa do Brasil e sem vaga na Libertadores, a resposta parece mais do que óbvia.

"Ah, Julio. Foi nos pênaltis! Podia ter sido campeão e você não estaria falando nada disso."

Era uma final, oras bolas. Contra todo um Palmeiras, de camisa, tradição, história. Podia ser nos pênaltis, como podia ser de outro jeito. Em que momento será que o Santos achou que seria mais fácil ganhar o título em cima do Palmeiras do que ganhar de dois times na zona de rebaixamento?

A partir da 34a rodada, o Santos simplesmente jogou fora a posição duramente conquistada no G-4 do Brasileiro. Não ganhou nenhum dos quatro jogos contra Joinville (rebaixado), Flamengo (sem razão de jogar), Coritiba (com portões fechados) e Vasco.

E olha que nenhum dos concorrentes pelo G-4 fez muito para abrir vantagem para o Santos. Foi o próprio Santos que jogou os pontos no lixo.

As explicações podem ser as melhores possíveis. A comissão técnica pode mostrar, por A + B, que fulano e beltrano se lesionariam, tivessem jogado nessas partidas. Mas que alguma explicação precisa ser dada, e muito bem dada, isso precisa.

O time parece ter perdido o tesão de jogar bola. E querem um símbolo disso? A comemoração pálida, quase sem graça, do gol de Ricardo Oliveira, aos 40 e tantos do segundo tempo, que levava o jogo para os pênaltis. Foi gritante o contraste com as celebrações dos gols de Dudu para o Palmeiras logo antes.

Em três semanas, o Santos simplesmente jogou 2016 na lata do lixo.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.