A “Espanholização” está aí*
* Este é um texto do amigo e colega de profissão Napoleão Almeida. Assino.
E faço apenas um adendo. Se as coisas continuarem como estão, especialmente na divisão de verbas, veremos, nos próximos 10 anos, todo mundo disputar apenas uma vaga na Libertadores. No máximo, duas. Porque as outras estarão nas mãos dos mesmos. Os pontos corridos, que privilegiam quem tem mais elenco, ou seja, dinheiro, potencializam o problema.
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Temida por muitos, desejada por poucos e esperada por todos aqueles que acompanham o futebol brasileiro desde o fim do Clube dos 13, a "Espanholização" do futebol brasileiro chegou e está vista à olhos nus desde o final da rodada #24 do Brasileirão. Se você não observou atentamente, fique de olho a partir de agora.
Domingo, 11h da manhã, o Corinthians recebe o Joinville na Arena em Itaquera. De um lado, um gigante em faturamento, com o elenco mais completo do Brasil, jogando em casa, na maior e mais rica cidade do País. Do outro, uma equipe modesta de uma cidade de 500 mil habitantes, com arrecadação infinitamente menor.
Não bastasse esse abismo natural, pela tradição e histórico de cada um, que representam juntos o interesse de mercado para ambos, dentro do mesmo campeonato que disputam — e precisam um do outro para jogar — uma dura realidade: enquanto o JEC leva R$ 20 milhões do patrocinador, o Timão começa o ano sabendo que conta com R$ 120 milhões, seis vezes mais.
O resultado é que veremos um jogo igual a qualquer outro do Espanhol que não seja Barcelona x Real Madrid, quiçá o Atlético madrilenho. Como quando Elche ou Almería visitam o Camp Nou, o Joinville irá até Itaquera na expectativa de não levar o primeiro gol. Irá se defender por 10, 20, 30 minutos enquanto o Corinthians usará suas alternativas para furar a retranca. Uma vez furada, os paulistas terão a possibilidade de abrir uma goleada, pois a derrota já não interessará aos catarinenses. Se estiver difícil, o Corinthians pode sacar Jadson e tentar com Danilo; tem opções de igual quilate no banco. Ao JEC, a esperança de que essa seja uma manhã infeliz corintiana, quem sabe com uma bola vadia chutada por Kempes ou Marcelinho Paraíba vencendo Cássio.
Será assim com o Joinville, como já foi o Avaí. E será assim contra o Coritiba e até contra Cruzeiro, Santos e Inter à médio prazo. A partir de 2016, Corinthians e Flamengo terão à sua disposição mais que o dobro do dinheiro da imensa maioria dos clubes do campeonato, exceção ao São Paulo — mas muito mais que Palmeiras e Vasco.
Não está convencido? Ok.
A rodada 24 também marcou a entrada do Flamengo no G4. "Deixaram chegar" é o bordão dos rubro-negros cariocas, que precisa ser corrigido para "pombas, só chegou agora?"
Com o que arrecada, o Flamengo tem a obrigação de estar entre os dois primeiros colocados do Brasileirão ano sim, ano também. Tem errado muito nos últimos anos e 2015 não foi diferente. Ainda assim, desta vez, a "Espanholização" já faz efeito. Vejamos.
O Fla buscou ainda no começo do ano um dos maiores talentos de um de seus concorrentes pelo G4. Marcelo Cirino chegou do Atlético Paranaense custando bem e fez um bom estadual, mas sumiu no Brasileirão. Então o Flamengo foi buscar Emerson e Guerrero, encostados no Corinthians. Ambos começaram bem mas o segundo caiu de produção. O time patinava no campeonato. Não satisfeito, foi buscar Ederson na Lazio. Jogador padrão Europa, alto custo. Esse emplacou. De brinde, venceu outro concorrente direto pelo G4, o Santos, na pretensão de contratar Kayke junto ao ABC-RN, destaque do time na Série B deste ano.
Que outro time senão Corinthians ou Flamengo poderiam errar tanto com tamanha possibilidade de se reinventar dentro de uma mesma competição à ponto de superar seus concorrentes? No Brasil, nenhum. Talvez o São Pàulo, que afinal arrecada parecido e está ali rondando os quatro primeiros.
Atlético Mineiro e sua base de alguns anos de sucesso e trocas estratégicas, e Grêmio com um time de jovens (mesma receita do Furacão) estão por lá, contradizendo a lógica. Não se sabe por quanto tempo.
Um bom CT aqui, um estádio moderno acolá, um número de sócios que dê sustentabilidade ao clube e todos os demais vão ter seus anos de Valencia, Sevilla ou Athletic Bilbao. Será possível chegar na Libertadores, ganhar uma Copa do Brasil ou Sul-Americana e, num ano de muita felicidade, voltar a vencer o Brasileirão.
Mas, assim como na Espanha, cada vez mais a regra será o campeonato acabar com o título de Corinthians, Flamengo ou no máximo São Paulo. Não coincidentemente, aliás, vencedores de seis dos últimos 10 campeonatos.
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